'June e John' decepciona com comédia screwball que não faz rir
(FOLHAPRESS) - Em "June e John", John é o jovem quadrado, sem brilho, sob as ordens de mamãe e sem esperanças na vida. Numa estação de metrô, ele vê June e se apaixona por ela. Não pensa em encontrá-la nunca mais. No dia seguinte ela estará à sua espera.
June é cheia de vida e acredita que tem apenas mais três dias de vida. Em vista disso, quer fazer todas as loucuras possíveis nesse espaço de tempo. O material lembra, claro, "Levada da Breca". É o que se chama comédia screwball, ou comédia maluca. Há pouco tempo, Sean Baker fez uma boa sintomática do tempo atual (envolvendo um garoto ricaço e prostituição, o sexo excessivamente fácil e hipervalorizado, gângsters russos, gosto por videogames etc.). Em suas mãos, o argumento poderia render algo. Mas ele está nas mãos de Luc Besson, e o que temos no fim é: nada.
Invadir uma piscina (sendo que ele não sabe nadar), assaltar um banqueiro, fugir da polícia... todos esses episódios poderiam render uma bela comédia. Por que, então, o cinema se mantém em silêncio?
Talvez porque Luc Besson pretenda, a cada sequência, nos dar uma lição de vida, de como exercer a plena liberdade graças à qual o opaco rapaz finalmente poderá sentir que está vivo e deixar de lado seus sonhos suicidas.
Mesmo a vivacidade da atriz (Mathilda Price) bem interessante que interpreta June fica um tanto apagada. Não dá para falar do ator, cuja função é mesmo se apagar para que June dê o tom durante todo o tempo. Quando não é a garota que brilha, é o detestável chefe que o persegue por nada ou antipático guarda da garagem.
Talvez haja um aspecto interessante em tudo isso: as perucas de June, sua variedade e mesmo a razão por que as usa.
Mas isso é muito pouco. Se existe um exercício exaustivo numa sala de cinema é assistir a uma comédia em que nada, nada mesmo, nos induz ao riso, ou a um sorriso que seja.
Por mais que possamos ser cúmplices agradáveis do que seja o espírito libertário (no sentido anarquista da palavra) que move June, por mais simpático que seja seu jovem namorado, que possamos segui-la e perceber que, como diria Frank Capra, do mundo nada se leva, ainda assim estamos diante de um filme que se desmente: diante de nós desfila a burocracia da comédia, um fantasma das boas comédias screwball dos anos 1930 ou mesmo de eventuais revivals, como fez Peter Bogdanovich.
De lá o espectador sai exatamente como entrou, só que um tanto decepcionado.
JUNE E JOHN
Avaliação Ruim
Onde Nos cinemas
Elenco Luke Stanton Eddy, Matilda Price, Ryan Shoos
Produção França
Direção Luc Besson

ASSUNTOS: Arte e Cultura