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Exposição de Amelia Toledo no MuBE mostra como a artista juntou arte e ecologia

Por Folha de São Paulo

29/04/2024 8h00 — em
Arte e Cultura



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Se olhado com atenção, um amontoado de pedras de quartzo rosa em formato triangular, colocado junto às árvores do jardim do MuBE, o Museu Brasileiro da Escultura e Ecologia, resume com precisão pontos centrais do trabalho de Amelia Toledo. Estão na obra seu fascínio com os elementos naturais, a preocupação com as cores e o título poético -"Cachoeira de Amor"-, características que marcaram a sua vasta produção.

Morta em 2017, aos 90 anos, a paulistana é um nome incontornável para se pensar a relação entre o homem e a ecologia no panorama da arte brasileira, como fica claro na exposição "Amelia Toledo: Paisagem Cromática", que leva ao museu paulistano mais de cem obras de todos os períodos da carreira da artista, incluindo diversas nunca antes vistas pelo público, como a citada "Cachoeira de Amor", desenvolvida para a residência de um casal de colecionadores.

A artista "tem uma visão poética mas também uma visão muito clara de como a natureza pode ensinar o ser humano", diz a geóloga Daniela Gomes Pinto, uma das organizadoras da exposição. Fernando Limberger, o outro organizador, acrescenta que Toledo trata de ecologia sem ser panfletária. "Ela tinha sutileza e elegância na abordagem dos temas."

Seu fino trato aparece, por exemplo, na clássica "Glu Glu", de 1968, uma escultura de vidro que lembra uma ampulheta com um líquido dentro --quando agitado, ele dá origem a bolhas de sabão. Ou então em "Caixinha Sem Fim", feita três anos depois, composta por uma caixa de acrílico que vai se desdobrando em oito caixinhas menores e assim por diante.

Esta obra é a um só tempo uma discussão sobre volume e um experimento sobre a formação de um mineral, afirma a geóloga. Ela explica que os cubinhos de acrílico podem lembrar as piritas, pedrinhas encontradas no ambiente que são cubos perfeitos e que, quando agrupadas, dão origem a rochas maiores. Segundo ela, é possível entender "Caixinha Sem Fim" como uma brincadeira da artista com os arranjos da natureza.

A mostra ocupa todo o MuBE e procura aproveitar ao máximo a arquitetura do espaço -uma obra prima brutalista de Paulo Mendes da Rocha-, não competir com ela. Sob a claraboia, por exemplo, está "Caminhos da Cor", uma instalação formada por chapas de juta tingidas de várias cores que ficam mais ou menos realçadas dependendo da quantidade da luz do dia a entrar no espaço.

O percurso no museu é feito sobre a areia, que cobre o piso do principal espaço expositivo, forçando o visitante a andar devagar e olhar com calma para as obras.

Do lado de fora, junto ao lago artificial, foram colocadas várias rochas, que para um desavisado podem parecer parte da paisagem e não da exposição. Na área externa do nível da rua, ficam instalações em pedra e metal feitas pela artista sob encomenda de colecionadores e agora exibidas pela primeira vez. As grandes pedras, retiradas da natureza e colocadas sob pedestais de concreto, se tornam esculturas.

"Amelia Toledo: Paisagem Cromática" é também um testemunho da versatilidade da artista, por mostrar o seu apetite por diversas formas de expressão. "Sinto-me no direito de fazer o que bem entendo. Em termos estéticos não tenho limitações. Trabalhei com vidro, pedras, metais, conchas, tantos materiais", disse ela.

Assim como outros pilares de sua geração, a exemplo de Lygia Clark e Helio Oiticica, Toledo entendia que a participação do espectador era parte da obra. Para a exposição, o museu reeditou alguns trabalhos que podem ser manuseados, seguindo as anotações deixadas pela artista à sua família. Um deles é um conjunto de cilindros de plástico preenchidos com água e óleo tingido, que nunca se misturam.

Afora isso, há diversas pinturas, como a série "Esfregaços", com grandes manchas coloridas feitas com pastel seco sobre papel natural, emprestando às telas um aspecto meio rústico, e um punhado de aquarelas do final da década de 1950 feitos em Londres e que também nunca tinham sido exibidos.

AMELIA TOLEDO: PAISAGEM CROMÁTICA

Quando Até 4 de agosto. Ter. a dom., das 11h às 18h

Onde MuBE - r. Alemanha, 221, São Paulo

Preço Grátis


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