Imagine uma pessoa que, andando por Manaus, tropece numa pedra ou buraco e caia. Apesar de péssimo, não é incomum. A princípio, terá apenas que cuidar das escoriações. Agora, se essa pessoa tropeça hoje, amanhã e depois, não basta medicar os arranhões, é  preciso saber por que ela está tropeçando tanto e tratar a causa.

É a mesma coisa com o cálculo urinário. "Fabricantes esporádicos',  somente precisam adotar alguns cuidados para não "empedrarem mais", Essas medidas preventivas  são suficientes para evitar novas pedras.Já "grandes produtores", só têm uma maneira de reduzir as suas "pedreiras": descobrir e tratar a doença responsável; 80% têm algum distúrbio no metabolismo de certos sais minerais. Para isso, é fundamental a investigação metabólica.

O que é Investigação metabólica ?    

O nome completo do exame é perfil metabólico para nefrolitíase ou perfil bioquímico para calculose renal. É realizado em dois dias consecutivos, e demora ao todo cerca de oito horas. Primeiro, com o paciente em jejum, são dosados cálcio, fósforo, dieta rica em cálcio, novas dosagens. Essa pesquisa, além de indicada para os "grandes produtores", é essencial para: crianças com cálculo; quem tem infecção associada à litíase; e fazedores de pedras com antecedentes familiares.

E quem teve só um cálculo pode fazer esse exame?

Poder, pode. Mas não se justifica para quem é formador esporádico. Por sinal, a maioria. Só tem sentido gastar dinheiro com esse exame quem terá que fazer restrição alimentar ou tomar remédio antipedras pelo resto da vida. No caso, os "grandes produtores".

Mas é gatantido que a investigação metabólica vai descobrir a causa dos 'grandes produtores?

Não. Em 20% dos casos não se detecta nenhum distúrbio metabólico.

Esse exame pode ser feito no momento da cólica renal?

Também não. Primeiro, na hora da crise, o que se tem a fazer é aliviar a dor. Você nem suportaria a seqüência de testes. Segundo, a investigação não é para a pedra que já está se manifestando. O objetivo é tratar a doença responsável para evitar outras.

Líquido em abundância para todos

Qualquer que seja o resultado, porém, tomar pelo menos oito copos de água por dia (2 litros) faz parte do tratamento recomendado a todos os "grandes produtores'. A urina fica mais diluída, tornando mais difícil a agregação dos sais minerais.

Algumas dicas:

A melhor água é a filtrada. Algumas águas minerais são ricas em sais. Caso você as prefira, anote a composição e converse com o seu médico. .Se você não gosta de muita água, tome chá. Qualquer chá. O importante é, diariamente, "encher o tanque" com 2 litros de líquidos. .Não adianta ingerir tudo de uma vez. Distribua as tomadas ao longo do dia. Experimente beber um copo de água ou chá toda vez que for urinar. Uma coisa puxa a outra, e sem perceber estará ingerindo o necessário. .Deixe um copo com água na cabeceira da cama, e tome na madrugada. É o momento em que a urina se concentra mais, e a sua, conseqüentemente, estará diluída. Quer mais uma prova do benefício? Sozinha, a ingestão de bastante água diminui 60% o risco de formação de novos cálculos, independentemente de sua causa.

Tenho também uma outra boa notícia. Houve um tempo em que os médicos mandavam tirar da dieta leite, queijo e chocolate, para prevenir as pedras por excesso de cálcio. Hoje, a orientação está abolida. Primeiro, há cálcio em quase todos os alimentos. Segundo, a retirada completa do cálcio da alimentação leva à perda de massa óssea, ou seja, à osteoporose, que é um problema de saúde pública, particularmente entre as mulheres. Desse modo, o que se recomenda é evitar o excesso de alimentos ricos em cálcio e, dependendo da causa da hipercalciúria, associar um tratamento específico.

O tratamento é para a vida inteira?

SIM. Se você é um "grande produtor", ponha de vez três coisas na cabeça: 1. O sucesso do tratamento preventivo depende muito de você; 2. Provavelmente terá que se tratar a vida inteira; 3. Tome -sempre! -bastante água. Além de evitar que as pedras existentes cresçam, facilitando a sua eliminação espontânea, impede que novas sejam formadas. É o único jeito de se livrar delas e, ainda, preservar o seu rim.