Kim adota um tom conciliatório com Seul
PYONGYANG — Em um discurso surpreendente, o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, pediu nesta segunda-feira diálogo com Seul e sugeriu pela primeira vez, nas declarações de Ano-Novo, que seu país poderá participar dos Jogos Olímpicos de Inverno que acontecerão em fevereiro na cidade sul-coreana de Pyeongchang — a apenas 80 km da tensa fronteira entre os países. Mostrando-se amigável ao país vizinho, Kim afirmou que o acontecimento será “uma boa ocasião para mostrar ao mundo a afabilidade do povo coreano”. Ao mesmo tempo, no entanto, voltou a ameaçar os Estados Unidos e reiterou que seu país está pronto para lançar um ataque nuclear.
Em tom conciliatório, Kim revelou que as autoridades do Norte e do Sul poderiam se “encontrar em um futuro próximo”.
— O ano 2018 será um ano significativo tanto para o Norte como para o Sul, já que o Norte celebrará o 70º aniversário de seu nascimento e o Sul abrigará os Jogos Olímpicos de Inverno — disse. — Estamos dispostos a tomar as medidas necessárias, incluindo o envio de nossa delegação. Autoridades das duas Coreias devem se encontrar urgentemente para debater essa possibilidade. Devemos derreter as relações congeladas.
Em relação a Washington, no entanto, o discurso mais uma vez foi de confronto. Citando um botão nuclear pronto para ser acionado, o ditador disse que seu arsenal está pronto e serve como garantia de que os EUA não irão atacar Pyongyang.
— Todo o território dos EUA está ao alcance de nossas armas nucleares, sempre tenho um botão nuclear na mesa do meu escritório — reiterou.
Em Seul, o anúncio foi acolhido favoravelmente pela Presidência. “Se os Jogos forem um sucesso, isto contribuirá para a paz, não só na Península Coreana, mas na região e no mundo”, afirmou o governo em nota.
— Nós sempre afirmamos que estamos prontos para dialogar com a Coreia do Norte a qualquer momento e em qualquer lugar se isso recuperar a relação entre os dois países e levar a paz para a Península — reforçou um porta-voz do presidente Moon Jae-in.
O otimismo foi compartilhado pelo presidente do comitê organizador, Lee Hee-Beom. Pyongyang boicotou os Jogos Olímpicos de Seul em 1988, mas enviou seus atletas aos Jogos Asiáticos de 2014 em Incheon, perto da capital sul-coreana.
Para analistas, o Norte pode estar tentando usar o evento para melhorar os laços com o Sul e, com isso, combater as crescentes pressões econômicas e sanções da ONU.
— A Coreia do Norte geralmente ignora o Sul, mantendo a posição de lidar com os EUA por conta própria — afirmou à rede BBC Youngshik Daniel Bong, pesquisador do Instituto Yonsei para estudos norte-coreanos. — Parece agora que ele espera criar um distanciamento entre o Sul e os EUA.
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