Royalties do petróleo impulsionam time e escola de samba de Maricá (RJ)
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Estreante no Campeonato Carioca, o Maricá Futebol Clube, fundado em 2017, é fruto de um investimento do grupo político à frente da prefeitura que mais recebe royalties de petróleo no Brasil.
A cidade de Maricá, na região dos lagos do Rio de Janeiro, a 55 km da capital, é comandada há 16 anos pelo PT. O vice-presidente nacional do partido, Washington Quaquá (PT), foi prefeito por duas gestões, de 2009 a 2016, e assumiu o terceiro mandato em janeiro.
O grupo político de Quaquá diz querer tornar Maricá a segunda cidade mais importante do estado em economia e turismo, atrás apenas da capital. Em 2024, Maricá recebeu R$ 2,69 bilhões pela distribuição de royalties, segundo tabela da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis).
O orçamento municipal para 2025 é de R$ 7 bilhões.
Maricá foi o nono município do país com o maior aumento percentual de população. Tinha 197.277 habitantes no Censo de 2022 do IBGE. Em 2016, em um telefonema com Lula (PT), o prefeito do Rio Eduardo Paes (PSD) chamou a cidade de "merda de lugar" a atual relação do prefeito com a cidade é boa.
Para torná-la mais famosa, a prefeitura aposta no futebol e na cultura. Em 2024, fez uma feira literária com presença de escritores como José Eduardo Agualusa e Valter Hugo Mãe. No Carnaval, a União de Maricá vai desfilar pela segunda vez na Marquês de Sapucaí, pela Série Ouro, o segundo grupo. É, disparada, a escola mais distante do Sambódromo.
Assim como os ônibus de tarifa zero que rodam em Maricá os "vermelhinhos", administrados pela EPT (Empresa Pública de Transportes), cuja pronúncia no sotaque fluminense se torna "é PT" , time e escola de samba também lembram os principais símbolos do petismo.
O escudo do Maricá Futebol Clube tem listras azuis e brancas e uma estrela vermelha com pontas incompletas ao centro. Um dos uniformes é todo vermelho. A União de Maricá é vermelha e branca, com estrelas enfileiradas. Também são as cores da bandeira maricaense.
Time e agremiação têm representantes na alta administração municipal. Arlen Pereira, presidente do Maricá, é secretário de Gestão de Governo. João Carlos Birigu, diretor executivo da União de Maricá, é secretário de Direitos Humanos.
"Faço parte do grupo político do prefeito Washington Quaquá e foi me dada a incumbência de organizar a escola depois do falecimento do presidente anterior", afirma Birigu.
A União de Maricá recebeu R$ 8 milhões de subvenção da prefeitura local para produzir o Carnaval de 2025. O valor é nove vezes maior do que cada escola do grupo vai receber de aporte da Prefeitura do Rio: serão R$ 926.875 para cada uma das 16 agremiações da Série Ouro incluindo a própria Maricá totalizando R$ 14,8 milhões.
Já o governo estadual repassou R$ 8,18 milhões às escolas de samba, valor dividido por cerca de 90 agremiações, entre as que desfilam no segundo, terceiro e quarto grupos, além do grupo de avaliação e as escolas de samba mirins.
"No nosso primeiro desfile, mais de 80% dos componentes nunca tinha ido sequer à Sapucaí e a União de Maricá passou com uma belíssima evolução, todo mundo cantando o samba. O Quaquá, que é presidente de honra, vai dar todas as condições e disputarmos em pé de igualdade com as escolas do Grupo Especial, quando subirmos", diz Birigu.
Já o Maricá Futebol Clube foi fundado com investimentos do Banco Mumbuca, instituição criada para administrar a moeda social de mesmo nome, sucesso da cidade. A mumbuca foi criada via lei municipal e recebe investimento de R$ 18 milhões mensais da prefeitura, recursos dos royalties.
Em 2018, o Clube de Futebol Rio de Janeiro, que disputava as últimas divisões estaduais, transferiu sua licença na Ferj (Federação de Futebol do Rio de Janeiro) para o Maricá, que pôde atuar profissionalmente.
O Maricá estreou na quarta divisão do futebol fluminense. Chegou à Segundona em 2021 e foi campeão em 2024, ano em que também conquistou a Copa Rio. Em 2025, disputará a Série D do Campeonato Brasileiro.
No Carioca de 2025, estreou com vitória de 2 a 1 contra o Botafogo, no estádio Nilton Santos.
A prefeitura e o banco Mumbuca patrocinaram o time por algumas temporadas. Neste ano o Maricá tem na camisa a marca do Camarote Favela, espaço na Sapucaí gerido pela mulher de Quaquá, Gabriela Lopes Siqueira.
Atualmente, o clube afirma ser autofinanciado com patrocínios privados, bilheteria e venda de jogadores.
Procurada, a prefeitura não informou quanto repassou ao clube nas temporadas em que foi patrocinadora. A informação também não consta no portal da transparência municipal.
Em 2023 foi inaugurado o estádio municipal João Saldanha, onde o Maricá manda seus jogos. A obra foi realizada pela autarquia municipal Somar (Serviço de Obras de Maricá). O município não informou o valor da construção.
O estádio tem capacidade para até 1.700 pessoas e leva o nome do ex-treinador da seleção brasileira, que também foi comentarista esportivo e militante do PCB (Partido Comunista Brasileiro).
Em janeiro, Quaquá disse que planeja erguer um estádio com desenhos que seriam assinados por Oscar Niemeyer (1907-2012). A ideia é aumentar a capacidade da atual arena para até 20 mil pessoas.

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