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Novo coronavírus permanece no corpo por cerca de 21 dias nos casos graves, diz estudo

Por Folha de São Paulo

22/04/2020 9h26 — em
Brasil


Foto: Reprodução

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Pacientes que tiveram a forma mais grave da Covid-19, doença causada pelo Sars-Cov-2, permanecem com o vírus no corpo por um período mais longo do que aqueles que tiveram versões leves da infecção.

Em amostras extraídas do trato respiratório (catarro e saliva) de doentes em situação mais grave na China, o vírus foi encontrado por 21 dias, em média. Em alguns casos, esse período se estendeu a 30 dias. A duração média da presença do vírus nos pacientes sem complicações foi de 14 dias.

Os resultados vêm de um estudo publicado por cientistas chineses na terça-feira (21), na revista científica britânica The BMJ (antigamente conhecida como The British Medical Journal), uma das publicações de maior prestígio na área da saúde.

A pesquisa foi feita com mais de 3.400 amostras de secreções do trato respiratório, urina, sangue e fezes de 96 pacientes atendidos em um hospital de Zhejiang, província do leste da China. Todos os participantes do estudo tiveram a Covid-19 confirmada por testes moleculares (RT-PCR). Os cientistas classificaram 22 dos casos como moderados e 74 como graves.

A análise das amostras indicou que, nos pacientes de casos brandos da doença, o pico da carga viral acontece na segunda semana da infecção. Nos pacientes de casos mais graves, as quantidades do vírus no organismo ainda eram altas na terceira semana da doença.

"Tudo indica que quanto maior a carga viral, maior a chance de o paciente desenvolver a doença de forma mais grave. A possibilidade de transmissão do vírus também aumenta", diz Fabrizio Romano, otorrinolaringologista e presidente da Academia Brasileira de Rinologia (ABR).

"Esse é um dos motivos de vermos tantos profissionais da saúde com complicações de Covid-19, porque lidam com maior proximidade de pacientes de maior gravidade", diz o médico.

Nos casos mais críticos, o organismo não dá conta de combater a infecção e, assim, o vírus consegue se multiplicar no corpo do infectado por mais tempo, explica Romano.

"Quando esse paciente tem alta e vai para casa, isso não quer dizer que ela tenha parado de transmitir a doença. Ele deve manter o isolamento até o teste indicar a ausência do vírus", afirma.

O vírus também foi detectado em amostras de fezes de 59% dos pacientes por um período médio de 22 dias -ou seja, mais tempo do que o vírus fica presente no sistema respiratório. Apenas um participante da pesquisa teve o vírus detectado em amostra de urina.

Segundo Marco Aurélio Sáfadi, infectologista da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, o cenário é especialmente delicado ao lidar com crianças ou pessoas mais velhas que necessitam de troca de fraldas, por exemplo.

O artigo não fornece a certeza da transmissão pelo contato com as excreções, já que o teste molecular, feito para detectar a doença nos pacientes que participaram da pesquisa, detecta partes do vírus na pessoa, mas não diz se ele ainda está ativo para causar a infecção. Porém, o resultado do estudo indica que existe a possibilidade de transmissão por essa via, de acordo com Sáfadi.

No estudo chinês, as amostras foram recolhidas de pacientes adultos entre os meses de janeiro e março deste ano. Sáfadi conduz atualmente um estudo com crianças infectadas pelo novo coronavírus, e o vírus também foi encontrado nas amostras de fezes dos mais novos. Os resultados ainda não foram publicados.

"Não podemos assumir que há a infectividade, mas é plausível que sim. Isso traz a necessidade de maior atenção", afirma o infectologista.

De acordo com Romano, da ABR, o estudo feito na China contou com metodologia confiável, mas teria resultados ainda mais precisos com a inclusão de um número maior de pacientes. O misto de medicamentos usados pelos participantes da pesquisa é outra limitação apontada pelo médico.

No estudo, os pacientes receberam corticóides, antibióticos ou uma combinação desses medicamentos. Todos fizeram tratamento com algum antiviral. "Devemos ter cautela antes de extrapolar esses resultados para outras populações que recebem outros remédios", diz Romano.


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ASSUNTOS: casos graves, corpo, COVID-19, doença, estudo, novo coronavírus, vírus, Brasil

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