Milhares de carteiras escolares são descartadas em área afetada pela Braskem em Maceió
MACEIÓ, AL (FOLHAPRESS) - Cerca de 6.000 cadeiras e mesas cheias de ferrugem se misturam à vegetação que toma conta do pátio da Escola Estadual José Correia da Silva Titara, localizada no CEPA (Centro Educacional de Pesquisa Aplicada), que fica no bairro do Farol, em Maceió.
O colégio foi fechado em janeiro de 2020 em decorrência dos problemas de mineração causados pela Braskem na capital alagoana.
À época, parte dos estudantes concluiu o ano letivo na Escola Estadual Moreira e Silva, no mesmo complexo educacional, enquanto o colégio foi realocado para o bairro da Massagueira, na cidade de Marechal Deodoro (28 km de Maceió).
Por meio de nota, a Seduc (Secretaria de Estado da Educação) afirmou que "tem pleno conhecimento do acúmulo temporário de mobiliário inservível na área externa" e que a escola está sendo utilizada como ponto de coleta e armazenamento temporário de materiais, sendo eles "provenientes da substituição e renovação de equipamentos em diversas unidades da Rede Estadual de Ensino". Procurada, a Braskem não se manifestou.
A pasta acrescentou que os itens inservíveis estão sendo separados e avaliados para leilão, conforme prevê a legislação do patrimônio público. Enquanto o processo é feito, complementa, tem sido realizada dedetização constante do local para garantir a salubridade da área.
"As equipes de Logística e Patrimônio estão priorizando e acelerando os trâmites legais para a finalização do processo de leilão e a consequente retirada e destinação correta dos entulhos no menor prazo", disse.
As imagens dos entulhos foram divulgadas pela TV Pajuçara (afiliada da Record em Alagoas).
No total, onze escolas tiveram de ser realocadas pelo problema da mineração em Maceió. Dessas, seis foram da gestão estadual e cinco da gestão municipal.
O caso Braskem é considerado o maior desastre ambiental em área urbana do país. Os primeiros tremores de terra foram registrados em 2018, com afundamento do solo e rachaduras em imóveis.
Cinco bairros da capital alagoana foram afetados pelas atividades de mineração da petroquímica, com mais de 40 mil pessoas realocadas. Cerca de 14,5 mil imóveis já foram evacuados, sendo que a maioria já foi demolida.
No total, 35 minas vinham sendo usadas pela Braskem para explorar sal-gema, material usado para produzir PVC e soda cáustica, em Maceió.
A operação foi interrompida em 2019, e a empresa se comprometeu a fechar todas elas, a fim de garantir maior estabilidade à região. O plano é encerrar o trabalho de preenchimento das minas até 2026.
Na última segunda-feira (10), a Braskem e o governo de Alagoas anunciaram um acordo no valor de R$ 1,2 bilhão por conta dos danos ambientais e afundamento do solo causados pela mineração.
O valor será pago em parcelas anuais ao longo de dez anos, dos quais R$ 139 milhões já foram quitados. O anúncio foi feito na noite de segunda-feira (10) em um comunicado da empresa a investidores.
Em nota, o governo de Alagoas informou que o valor da indenização vai integrar pacote de investimentos de cerca de R$ 5 bilhões, voltado para 13 municípios da região metropolitana de Maceió.
"O fato relevante divulgado pela própria empresa confirma o pagamento de R$ 1,2 bilhão ao estado, que corrigidos chegarão a R$ 2,8 bilhões, além de valores já provisionados e novas compensações em curso ", diz o texto.
O governo vai complementar o resto do valor com R$ 2,3 bilhões de recursos próprios.
O acordo foi alvo de críticas do MUVB (Movimento Unificado das Vítimas da Braskem). De acordo com o diretor Maurício Sarmento, o valor ficou muito abaixo da estimativa do próprio governo estadual de R$ 30 bilhões em danos. Ele chamou o acordo de vergonhoso.
"Enquanto isso, o povo arcará com uma conta de R$ 5 bilhões, valor que o governo pretende investir na reestruturação da Grande Maceió, uma despesa que, na verdade, deveria ser integralmente custeada pela criminosa Braskem", disse.
Em 2023, a Braskem firmou um acordo de R$ 1,7 bilhão com a Prefeitura de Maceió para cobrir os danos causados pela empresa e os prejuízos da desocupação.
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