Compartilhe este texto

Gagárin quase morreu no 1º voo espacial, mostram documentos

Por Folha de São Paulo

12/04/2021 7h03 — em
Variedades



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Sessenta anos depois, a trama geral é bem conhecida, embora permeada de lendas: em 12 de abril, Iuri Gagárin se tornou o primeiro ser humano a deixar a Terra, dando uma volta ao redor do mundo em sua cápsula Vostok-1, antes de retornar ao chão. O que poucos sabem é que, por muito pouco, a primeira missão espacial tripulada da história não terminou em catástrofe.

A história do programa espacial soviético lembra muito as famosas matrioscas russas: bonequinhas que, ao serem abertas, vão revelando figuras cada vez menores e mais profundas. Segredos dentro de segredos.

Os últimos foram desenterrados em 2015, pelo historiador bengalês-americano Asif Siddiqi, revirando documentos liberados pelo governo russo em 2011. Entre eles, Siddiqi encontrou um relatório, marcado como "confidencial", destinado às mais altas autoridades soviéticas, sobre a missão.

É meio como um sumário dos resultados, preparado pelos engenheiros liderados pelo projetista-chefe Sergei Korolev, em 9 de maio de 1961 --menos de um mês após o voo.

O documento reafirma muito do que já havia ficado demonstrado por liberações anteriores, como o fato de que Gagárin foi de fato o primeiro cosmonauta (derrubando lendas urbanas de que teria havido outras tentativas anteriores, malogradas, de enviar um soviético ao espaço). Mas apresenta algumas revisões relevantes --a começar pelo tempo total de voo.

Os livros de história, bem como a Federação Aeronáutica Internacional, registram que o primeiro voo espacial tripulado durou 108 minutos, entre a decolagem a bordo de um foguete Vostok, em Baikonur, e a descida de Gagárin ao solo --feita por paraquedas após ele ejetar da cápsula, a 7 km de altitude (por sinal, essa foi a primeira camada da matriosca: do dia do voo até 1971, a União Soviética negou que o cosmonauta tivesse ejetado, porque o registro do recorde com a FAI exigia que o piloto retornasse ao solo no veículo).

A documentação revela que Gagárin, segundo o próprio relato do cosmonauta (a única testemunha, além de um fazendeiro e sua filha), teria chegado ao chão dois minutos antes do que consta no recorde oficial, indicando um tempo total de voo de 106 minutos.

Para além disso, o documento sublinha o significado de promover um voo espacial pioneiro em meio a uma corrida entre duas superpotências.

"Descobrimos no documento que, durante a preparação de duas missões precursoras com cães, em março de 1961, e então na fabricação do próprio veículo de Gagárin, pelo menos 70 anomalias foram detectadas nos instrumentos de bordo", diz Siddiqi. "E ainda assim o voo foi adiante!"

O perfil de voo era simples: uma cápsula no topo de um foguete derivado dos mísseis balísticos R-7 seria colocada em órbita, daria uma volta na Terra, e usaria seu retrofoguete para induzir a reentrada, retornando ao solo soviético.

Contudo, era a primeira vez que se fazia isso com um humano a bordo, e o documento revela que o sistema de suporte de vida "não atendeu totalmente aos requisitos [de design]". Operou no limite para manter o jovem cosmonauta de 27 anos em bom estado.

Também foi identificada uma falha em válvulas de um dos estágios do foguete, o que colocou a nave numa órbita mais alta do que a planejada. Em vez de um apogeu de 230 km, ela acabou com 327 km.

Pode parecer um detalhe, mas era crítico. A órbita original foi escolhida para fazer a nave reentrar automaticamente, mesmo sem retrofoguetes, em coisa de uma semana --os suprimentos de bordo poderiam sustentar Gagárin por dez dias.

Na órbita real, uma reentrada não assistida levaria um mês. Ou seja, se o retrofoguete não funcionasse, o cosmonauta morreria em órbita.

O retrofoguete funcionou, mas disparou por um segundo a menos do que o planejado, por falha de outra válvula. Isso fez Gagárin pousar 300 km aquém da área planejada.

De volta ao chão, Gagárin foi encontrado por um fazendeiro e sua filha. "Quando eles me viram no meu traje espacial e com o paraquedas ao lado enquanto eu andava, começaram a se afastar de medo. Eu disse a eles, não tenham medo, sou um cidadão soviético como vocês, que desceu do espaço e precisa encontrar um telefone para ligar para Moscou!".

Siga-nos no
O Portal do Holanda foi fundado em 14 de novembro de 2005. Primeiramente com uma coluna, que levou o nome de seu fundador, o jornalista Raimundo de Holanda. Depois passou para Blog do Holanda e por último Portal do Holanda. Foi um dos primeiros sítios de internet no Estado do Amazonas. É auditado pelo IVC e ComScore.

ASSUNTOS: Variedades

+ Variedades