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É preciso desfecho, diz mulher de vítima de acidente aéreo após suspensão de buscas

Por Folha de São Paulo

05/12/2021 15h33 — em
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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Aeronáutica suspendeu neste sábado (4) as buscas pelas duas vítimas de um avião que caiu no mar na região entre Ubatuba (SP) e Paraty (RJ), na madrugada do último dia 25. Os bombeiros do Rio de Janeiro continuam a procura e, inclusive, esperam a chegada de um equipamento para rastreamento vindo do Distrito Federal neste domingo (5).

A notícia da suspensão das buscas levou a psicanalista, designer e empresária Tatiana Fogaça, 45, ao desespero. Ela é mulher do empresário Sérgio Alves Dias Filho, que estava na aeronave. As outras duas pessoas no bimotor eram o copiloto José Porfírio de Brito Júnior, 20, também desaparecido até a tarde de quinta-feira (2), e o piloto Gustavo Carneiro, 27, cujo corpo foi encontrado no mar no próprio dia 25.

A mulher do empresário disse ter sido comunicada pela suspensão das buscas por volta das 19h30 de sábado, em um telefonema da Aeronáutica. A informação foi confirmada à Folha neste domingo pela Força Aérea, em nota.

Fogaça, que na tarde de sábado disse ter sido informada pela Marinha da chegada do navio hidrográfico faroleiro Graça Aranha ao local das buscas, contou que neste domingo recebeu outro telefonema, de que a Marinha também estava suspendendo a operação.

À reportagem, a Marinha disse que as buscas permaneciam em curso e que estava com quatro embarcações, inclusive o navio Graça Aranha, "que iniciou uma varredura sonar do leito submarino na área próxima ao local de desaparecimento da aeronave".

"A gente precisa desse desfecho. Há muitas questões não resolvidas neste caso todo, mas a negligência é gritante", afirmou Fogaça à Folha, na primeira entrevista, segundo ela, dada a jornalistas desde o acidente.

A mulher do empresário reclama da falta de informações. Problema que, segundo ela, se arrasta desde que desconfiou que seu marido havia sofrido um acidente aéreo, horas depois da decolagem do avião no aeroporto dos Amarais, em Campinas, na interior paulista, às 20h30 do dia 24. A aeronave deveria ter descido no aeroporto de Jacarepaguá, no Rio, onde a família mora e tem uma empresa de blindagem de veículos.

Segundo Fogaça, às 20h20 o marido ligou para ela de dentro do avião dizendo que iria decolar em alguns minutos. De acordo com ela, Dias Filho também mandou uma mensagem de celular ao pai com a mesma informação. "A gente sempre tinha esse hábito, de um avisar ao outro, para que fosse feito um monitoramento", disse a mulher, que não sabia que o marido havia fretado um avião na manhã daquele dia para ir a três reuniões de trabalho em Campinas.

"Fiquei monitorando o telefone e, no horário previsto para ele chegar, mandei uma mensagem e tentei ligar, mas o telefone [estava] desligado", disse. Aí começou a saga por informações, que só foi terminar na manhã seguinte.

Primeiro ela telefonou para a companhia aérea Azul, que afirmou não haver nenhum problema de atraso nos voos entre Campinas e Rio. Na sequência foi ao aeroporto Santos Dumont, à Aeronáutica, a uma delegacia de polícia, e voltou ao estacionamento do aeroporto, onde descobriu que o marido não havia deixado seu carro ali. "Naquele momento ventilei que ele poderia ter pegado um voo privado e fui até Jacarepaguá", afirmou.

Foi no outro aeroporto, já durante a madrugada, que encontrou o carro do marido, estacionado em frente ao hangar de uma empresa que trabalha com helicópteros. Sem conseguir notícias, inclusive das torres de controle dos dois aeroportos, no início da manhã afirmou ter sido informada sobre o acidente aéreo por uma repórter da TV Globo, que foi a Jacarepaguá. "Foi um momento terrível porque ela não sabia que meu marido estava nesse voo."

O esforço pelo encontro do marido tem sido angustiante, segundo ela. Amigos da família, já na manhã do dia 25, foram com três helicópteros ajudar nas buscas. No último domingo (28), ela publicou um apelo no Instagram para pedir para que pessoas com embarcações com sonar ajudassem nas buscas.

"Gostaríamos de pedir que todos que possuem embarcações com sonar na região e identificarem qualquer diferença na área, entre em contato conosco ou com as autoridades. Pedimos a todos que mantenham uma corrente positiva e que os responsáveis pelas buscas mantenham o empenho em encontrá-lo. Agradecemos também a todos os amigos que tão gentilmente se solidarizaram conosco", escreveu ela, em nome da família.

Segundo Fogaça, só a partir da publicação em sua rede social é que a Marinha passou a entrar em contato com ela.

"O Com1ºDN esclarece que é solidário ao momento crítico vivenciado e que mantém os familiares diretos de cada tripulante informados sobre o andamento das buscas", afirmou nota do Comando do 1º Distrito Naval enviada à reportagem neste domingo.

"A Aeronáutica só começou a falar comigo quatro ou cinco dias depois e porque nós procuramos", disse a mulher do empresário, que afirmou ter passado madrugadas em claro à espera de informações do marido. "Cheguei a falar várias coisas quando me ligaram [no sábado] para informar da suspensão das buscas, mas entrei em desespero e comecei a chorar", afirmou. "Desliguei e passei a tentar falar com pessoas que possam fazer pressão na Aeronáutica."

A maior dificuldade, segundo ela, é dar apoio aos filhos, uma adolescente de 14 anos e um menino de 9. "É claro que as crianças seguem com a esperança de que o pai está em uma ilha aguardando socorro", afirmou. "Meus dias têm sido duros, porque a gente vive em busca de respostas, às voltas com uma sucessão de desinformação que só fomenta o sofrimento."

O campeão Além da rotina de empresário, o jiu jitsu marcou a vida de Sérgio Alves Dias Filho, o Serginho. Campeão brasileiro, ele sempre foi considerado obcecado por condicionamento físico.

A discrição também é outro rótulo, segundo a própria mulher. "Somos pessoas reservadas", afirmou Tatiana Fogaça.

A mobilização pela procura envolveu famosos, como o piloto Rubens Barrichello e o surfista Pedro Scooby, amigos de Dias Filho, além de centenas de desconhecidos da família. Na quarta (1º) começou uma mobilização no Twitter com a tag "Achem o avião", que ficou entre os principais tópicos.

Também nas redes sociais, a namorada do copiloto, Thalya Viana, pediu ajuda para localizar a aeronave e o namorado. "Estamos sem notícias desde a madrugada", escreveu ela. "Gente, ainda não temos nenhum paradeiro dele. Continuem ajudando a gente", publicou.

O avião decolou às 20h30 do dia 24 de novembro do aeroporto dos Amarais, em Campinas. Segundo o Corpo de Bombeiros, a queda no mar ocorreu por volta da 1h20.

De acordo com a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), o avião pertencia a José Porfírio de Brito Junior, que era o copiloto da aeronave. O avião, um modelo PA-34-220T, foi fabricado em 1981 e estava em situação regular.

Em nota, a FAB (Força Aérea Brasileira) disse que suspendeu, no fim da tarde de sábado , as buscas aéreas envolvendo a aeronave de prefixo PP-WRS, após 10 dias de operação, e tendo sido "completamente coberta a área referente ao provável local da queda, considerando-se as possibilidades de deslocamento em mar aberto".

"A FAB se solidariza com as famílias dos ocupantes da aeronave acidentada e ressalta que a operação de busca e salvamento pela Aeronáutica poderá ser reativada se justificada por meio do surgimento de novos indícios sobre a aeronave ou seus ocupantes", disse.

A nota afirmou que foram 74 horas de voo durante as buscas, em uma área de 14.816 km², o equivalente a cerca de 9,7 vezes a área da cidade de São Paulo. E que foram usadas as aeronaves C-130 Hércules e helicópteros. "Durante os 10 dias da operação, também foram verificadas a extensão ao longo do litoral e ilhas próximas ao provável local da queda da aeronave."

O Corpo de Bombeiros do Rio afirmou que está usando mergulhadores, botes, motos aquáticas e helicópteros nas buscas. "Militares de todos os grupamentos marítimos do Rio de Janeiro estão empenhados nos trabalhos, que acontecem na divisa entre os dois estados", afirmou, em nota.

A corporação disse que a operação passou a contar com apoio de bombeiros do Distrito Federal). "As equipes farão uma varredura no fundo do mar com o uso de uma sonda side scan."


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