Corpo do artista NegoVila é enterrado sob forte comoção em cemitério de SP
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O corpo do artista NegoVila, 40, foi enterrado na tarde deste domingo (29), no cemitério da Lapa (zona oeste da capital paulista), por volta das 16h. O velório teve início ao meio-dia, na capela do cemitério, e terminou sob grande comoção de amigos e colegas de trabalho do artista. Nos minutos finais do velório, amigos cantaram "Família Madá", cujos versos dizem: "Na Vila Madá é assim. O samba e o rap não têm fim". O caixão com o corpo de NegoVila foi enterrado junto ao skate dele, que recebeu mensagens como: "que papai do céu te cubra de luz". O artista morreu na madrugada deste sábado (28) atingido por um tiro disparado, segundo testemunhas, pelo policial militar Ernest Decco Granaro, 34, em frente a uma distribuidora de bebidas na Vila Madalena, zona oeste. Segundo a secretaria de Segurança Pública da gestão Doria (PSDB), Granaro foi preso, e o caso está sob investigação no 14º DP (Pinheiros). "A Polícia Militar também instaurou um IPM [inquérito policial militar] para investigar todas as circunstâncias relacionadas à ocorrência", diz a nota. NegoVila era o nome artístico de Wellington Copido Benfati. O "Vila Madalena" homenageava o bairro onde ele nasceu e acabou morto de forma violenta. O artista estava acompanhado de ao menos nove amigos no Royal Bebidas, uma distribuidora de bebidas da região. O grupo chegou ao local no final da noite de sexta-feira (27) e lá permaneceu bebendo na calçada até a confusão que terminou com o artista baleado, por volta das 4h30 deste sábado. Segundo amigos da vítima, o artista foi baleado após tentar separar uma briga entre um de seus amigos e o PM. Os motivos da briga ainda não estão esclarecidos. As testemunhas disseram ainda que, ao tentar acabar com a confusão, NegoVila foi agredido com um soco no rosto desferido pelo policial. Ele revidou. Armado, Granaro deu um tiro para o alto e causou uma correria entre os frequentadores da distribuidora que estavam na calçada. Assustado, NegoVila também correu, mas caiu no chão. Foi, então, que, segundo testemunhas, o policial se aproximou e atirou contra o artista. O tiro atingiu o tórax da vítima. Amiga do artista, Luana Cruz de Campos, 37, conta que só percebeu que NegoVila havia sido baleado quando o viu caído. "Quando ele caiu, o policial veio e apontou a arma na direção dele para atirar mais. Foi quando eu coloquei meu corpo em cima do dele e implorei: por favor, não!", disse a assistente administrativa, em versão corroborada por testemunhas. Campos também disse à Folha que o policial se afastou, e ela conseguiu conversar com NegoVila até a chegada do resgate. "Está tudo bem?", perguntou ela. O artista só conseguiu responder: fui baleado. "Eu vi o sangue e comecei a gritar. Foi horrível", disse. NegoVila foi socorrido e levado ao Pronto-Socorro da Lapa, mas segundo a irmã do artista, Tatiane Cristina Benfati, 43, ele chegou morto na unidade hospitalar. Muito abalada, Tatiane disse que seu irmão "não merecia ter morrido dessa forma." A polícia chegou rapidamente ao local, a poucos metros do 14º DP. Segundo o boletim que relata a ocorrência, Granaro mostrou resistência à prisão, "sendo necessário o uso da força para que fosse contido, culminando-se com um breve algemamento do indiciado", segundo trecho do documento. O policial suspeito portava uma pistola calibre .40, de propriedade da Polícia Militar, que foi apreendida. Na delegacia, ainda segundo o boletim da ocorrência, o policial disse ter "sido agredido fisicamente e que se defendeu". O PM afirmou também que enquanto era agredido, um grupo de pessoas que ele não especifica, o cercaram e tentaram tomar sua arma e, por isso, ele diz ter atirado "a fim de repelir a injusta agressão que estava sofrendo". O boletim também narra a versão da amiga do artista sobre o fato de ela ter se deitado sobre o corpo da vítima para o policial parar de atirar. Para a delegada Letícia Faria Fadel, que atendeu a ocorrência, mesmo Granaro alegando ter agido em "legítima defesa" numa briga cujas circunstâncias ainda não estão esclarecidas, ele foi o autor do homicídio "sem motivo para ter cometido o crime". O policial foi indiciado por homicídio simples e levado ao presídio Romão Gomes, onde os militares envolvidos em crimes cumprem pena. A Folha não conseguiu localizar a defesa do PM Artista multifacetado NegoVila era rapper, skatista, muralista, artista plástico e assistente de produções cinematográficas. Ele deixa uma filha, de nove anos que, segundo a família, estava ansiosa para viajar com o pai no final deste ano, três irmãos e muitos amigos. Em depoimento enviado à Folha, Ágatha Yazbek, 32, ex-namorada e mãe da filha de NegoVila, disse que "arrancaram uma pessoa que ia estar sempre na nossa vida". "Era um artista. Cantava, fazia obras de vidro lindas, grafitava e tocava na Escola de Samba Pérola Negra", afirmou Yasbek. Para Tatiane, a irmã do artista, houve um componente racista na morte de NegoVila que, segundo ela, se via como negro, mas não levantava bandeiras sobre a causa racial. "Ele era a própria bandeira", disse. "O racismo é algo que existe, né, no Brasil. O cara que matou meu irmão é branco. Ele nunca viu meu irmão na vida dele. Ele não tinha nenhum motivo para fazer isso", afirma. Nas redes sociais, amigos da vítima protestaram contra a morte do artista. Numa das postagens, uma foto de uma faixa estampava: "PM assassina".
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