Como está a rotina no Jardim Pantanal após enchente em SP
SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) - Ilhados pela enchente há ao menos três dias e sem um apoio efetivo do poder público, os moradores do Jardim Pantanal, na zona leste de São Paulo, contam com a ajuda dos próprios vizinhos para enfrentar a fome e a sede.
Um barco arrastado pelos próprios moradores circula pelas regiões mais alagadas para distribuir marmitas e água potável. O UOL acompanhou o trabalho dos voluntários, que foram às áreas mais isoladas. "Se não fosse pela ajuda dos voluntários, nós estaríamos abandonados", disse a moradora Andreia dos Santos Ribeiro, 56. Questionada, a Prefeitura de São Paulo disse que tem adotado medidas emergenciais (leia mais abaixo).
Em alguns trechos, a altura da água chegava a mais de 1 metro nas ruas, invadindo as casas dos moradores. "Não consegui dormir ao ver a situação dos outros moradores que estavam ilhados pela água. Abrimos um barracão para ajudar a comunidade. Agora, estamos levando essas doações em um barquinho", contou a professora e voluntária Ellen Vieira de Souza Fonseca, 39.
Grávida e com filho de 5 anos, moradora grava áudio dizendo que estava com fome. "Estamos desde a manhã sem comer nada (...). Se alguém puder ajudar, seria uma boa ajuda, gente", disse, em mensagem obtida pelo UOL. Após o áudio, os voluntários foram ao local onde ela estava para entregar marmitas.
Sentado sobre um tijolo, um morador se alimenta com uma das refeições entregues pelos voluntários. "Eles trazem água e marmita. Então, o jeito é esperar a água baixar. Perdi tudo! Cama, geladeira, sofá... Vou fazer o quê?", disse José Sebastião Bezerra da Silva, 55.
Na casa ao lado, uma mulher no sexto mês de gestação buscava conforto no apoio de familiares e nos mantimentos entregues pelos vizinhos. "A minha casa está inundada, e não dá para sair para lugar nenhum. Então, temos que ficar por aqui mesmo. Mas o pessoal está ajudando com água e comida. Se não fosse por eles, a população estaria abandonada", disse Tauane Guimarães, 27, que está abrigada na casa de um irmão.
Em uma das casas atingidas pela água, uma cadeirante foi colocada por vizinhos em um colchão sobre uma mesa. Ela recebeu doações dos voluntários, mas a sua situação é agravada pela sua condição de saúde. "Estou precisando de fraldas", disse a idosa, que se identificou apenas como Mariângela.
*
O QUE DIZEM OS MORADORES
"Quem está lá dentro [nas áreas de alagamento], não está conseguindo se alimentar. Sabe o que é receber um áudio de uma mulher com crianças dizendo que não comeu nada no dia inteiro? Isso toca no coração da gente", disse Ellen Vieira de Souza Fonseca, voluntária.
"Os moradores estão saindo em barcos e em colchões infláveis para distribuir mantimentos. Muitas famílias perderam tudo o que tinham", disse Shirley Café, líder comunitária.
"Já faz dez anos que moro aqui e nunca vi uma coisa dessas. O primeiro piso da minha casa já está cheio de água, mas tem muita gente que perdeu tudo. A única coisa que podemos fazer é cuidar uns dos outros", disse Edson Reino, aposentado.
O QUE DIZ A PREFEITURA
Prefeitura de SP diz que está adotando medidas emergenciais para atender a população. "Desde o final de semana, foram entregues [cerca de 20 mil refeições], mais de 5 mil colchões, cobertores, cestas básicas e outros itens", diz um dos trechos da nota.
Atendimento médico. A administração municipal disse ainda ter acolhido pacientes que perderam medicamentos e conduzido cinco pessoas para atendimento hospitalar. Também houve acolhimento psicológico, informou a Prefeitura.
Cartões emergenciais de R$ 1 mil. A Prefeitura disse que foram identificadas 342 famílias aptas para receber o benefício para despesas emergenciais.
Prefeito disse que uma das medidas em estudo é oferecer de R$ 20 mil a R$ 50 mil como incentivo ao morador que sair do bairro. A prefeitura também ajudaria na demolição de casas. "Pelo que eu vi, pela dimensão [do problema] e a localização [do bairro], que está há 30 anos com problemas, não vejo outra solução a não ser incentivar as pessoas a saírem daquele local", afirmou Ricardo Nunes (MDB).
Prefeitura está fazendo cadastramentos no local para distribuir doações, como colchões, cobertores, cestas básicas e kit limpeza. Mais de 400 famílias já haviam sido registradas até o fim da tarde desta segunda-feira (3), conforme apurou o UOL. nesta terça-feira (4), devem ser distribuídas outras 150 senhas aos moradores.
"A Prefeitura já emitiu as primeiras autuações aos responsáveis pela invasão e aterramento de uma área pública no Jardim Pantanal, às margens do Rio Tietê. Outras multas poderão ser aplicadas após novas avaliações depois que a água baixar", disse a prefeitura de SP.
DOAÇÕES E CADASTRAMENTO
Voluntários dizem que estão doando mais de 1,5 mil marmitas por dia. As refeições são distribuídas em galpões no Jardim Pantanal e também levadas aos moradores nas áreas alagadas.
Mais de 300 famílias estão desabrigadas ou desalojadas, dizem lideranças comunitárias. O atendimento é feito em seis pontos de apoio, onde também estão sendo distribuídos mantimentos.

ASSUNTOS: Variedades