CGM que matou chefe em Osasco fazia bico como segurança de atual prefeito, dizem testemunhas
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Quatro dos guardas municipais de Osasco ouvidos durante as investigações sobre o assassinato do secretário adjunto de Segurança, no último dia 6, disseram à Polícia Civil que Henrique Marival de Sousa, acusado pelo crime, fazia "bico" como segurança do prefeito Gerson Pessoa (Podemos) quando este ainda era candidato.
O nome de Marival, porém, não consta na prestação de contas da candidatura de Pessoa, disponível no site do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). A Folha também não identificou a contratação de empresa de segurança entre os R$ 3 milhões declarados pela chapa. O guarda está preso preventivamente, ou seja, sem prazo para soltura.
Procurada, a gestão declarou que Henrique Marival não prestou serviços para a campanha, mas era apoiador da candidatura. Diz ainda que o regimento da Guarda não proíbe que os agentes tenham outras atividades de serviço.
Contatado na manhã desta sexta (17), o escritório que defende o guarda não respondeu até a publicação.
As investigações apontam que Marival, como era conhecido, teria ficado descontente ao saber, do secretário adjunto Adilson Custodio Moreira, que deixaria de fazer parte da equipe de "seguranças de dignitários", como são chamados os 18 oficiais que trabalham diretamente na proteção do prefeito e da primeira-dama da cidade.
Marival trabalhava na escolta da primeira-dama durante a gestão de Rogério Lins (Podemos), hoje secretário de Esportes de São Paulo, e, de acordo com testemunhas, ficou revoltado ao saber que era um dos 14 que deixariam o grupo de seguranças. Na sua vez de ter uma reunião a sós com Moreira, acertou seis tiros no superior assim que abriu a porta da sala dele.
A escalação da nova equipe de seguranças de dignitários foi anunciada por Moreira durante encontro com os guardas municipais no dia 6. Ali, Marival ficou sabendo que não faria parte da equipe próxima ao prefeito, a quem dizia ter "ajudado" nas campanhas para deputado e prefeito, segundo do GCM Thiago da Silva. Esperava, por isso, ser recompensado.
Ao fim do encontro, o subsecretário, de acordo com os depoimentos, afirmou que aqueles que quisessem conversar a sós seriam atendidos individualmente, por ordem de antiguidade na GCM. Marival, mais novo da turma, ficou esperando sua vez. Vizinhos o viam como uma pessoa tranquila.
Filipe Gomes, uma das testemunhas, relatou à polícia que Marival dizia: "Isto não vai ficar assim, eu vou buscar o que está acontecendo" e acusava um assessor do atual prefeito de persegui-lo.
"Marival contou que na cerimônia de posse do atual prefeito, o nome dele não estava na lista de convidados, acreditado que havia sido por causa do assessor", descreve o termo de depoimento. O acusado também reclamava que Moreira o havia barrado de exercer a função de segurança de dignitários desde o primeiro mandato de Lins.
"Tá errado isso aí, vou tirar satisfação, pois eu larguei o meu bico de 14 anos", teria respondido Marival, de acordo com a testemunha, que citou ainda que o GCM estava inquieto e esmurrava a parede.
"Antes de entrar na sala, [o depoente] conversou com Marival, questionando se ele havia avisado a esposa sobre a saída do cargo e Marival, colocando a mão em seu peito, respondeu 'fica em paz'. Quando Marival foi entrar na sala do Moreira, ele lhe disse 'Não fala de Deus aqui não, Deus não está aqui' e logo em seguida ouviu os disparos de arma de fogo", consta no depoimento.
O relato coincide com o de José Wellington dos Santos, que estava com Marival antes do assassinato. "Esta conta alguém vai pagar, saí do meu bico para poder trabalhar aqui, os caras estão me tirando", teria dito Marival, segundo o relato.
Último a conversar com o secretário adjunto antes dos disparos, Thiago da Silva contou que, após o diálogo, tocou no braço do chefe e perguntou se ele estava tranquilo para receber Marival. "Tá tranquilo", teria respondido Moreira, instantes antes de ser morto desarmado.
Após dar os tiros, Marival se trancou na sala com o cadáver e disse, segundo o depoimento de Santos: "Quero ver se ele vai me peitar de novo. Este aí já foi para o inferno".
No carro de Marival, os investigadores encontraram uma arma de brinquedo, simulacro de uma pistola de calibre 9mm, sem os detalhes em laranja que a distinguem de um revólver de verdade. O relatório não apura por que o GCM tinha tal objeto.
Entre os documentos juntados ao processo está ofício do corregedor da Guarda Civil Municipal de Osasco que relatou terem sido abertas duas sindicâncias envolvendo Marival, ambas em 2020. A primeira, por perda/extravio de arma de fogo e munições, arquivada depois do ressarcimento ao erário.
Na outra, ele acusava um superior de ameaçá-lo. A averiguação, de acordo com o corregedor, porém, foi marcada por versões conflitantes e frágeis. Sem provas, o caso foi arquivado.
Marival estava na GCM desde 2015. Documentos da Prefeitura de São Paulo mostram que, de 2019 a 2022, ele esteve na folha de pagamento de uma empresa de segurança privada, a Albatroz Segurança e Vigilância.

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