Bienal do Livro do Rio surpreende com crescimento de vendas nas editoras
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Mesmo debaixo das máscaras, era perceptível a euforia de autores, editores e livreiros. Tão logo o Riocentro abriu as portas na sexta-feira (3) para a edição deste ano da Bienal do Livro do Rio, as editoras comemoravam vendas superiores às da edição passada, ao contrário do esperado.
As expectativas eram baixas porque, devido às restrições impostas pela pandemia, a organização da feira esperava receber um terço a menos de visitantes em comparação com a edição anterior, de 2019. Além disso, a quantidade de estandes de editoras e livrarias desde então caiu 57%, e a de autores, 40% --uma preocupação e tanto, já que são eles o principal chamariz da feira.
No melhor dos cenários, a expectativa era não tomar prejuízo, lembra a diretora de marketing da Intrínseca, Heloiza Daou. A editora diz que o faturamento aumentou. Na sexta, vendeu 26% a mais do que no mesmo dia da feira passada. No sábado, a alta foi de 32%.
Os relatos são semelhantes em outras editoras e lojas. Record, Globo, Submarino e Arqueiro dizem ter tido altas de vendas que vão dos 88%, no caso da primeira, a 15%, no caso da última.
A alta pode ser explicada por múltiplos fatores, segundo os livreiros. O primeiro são as promoções agressivas. A Globo, por exemplo, baixou de R$ 44,90 para R$ 20 quase todos os seus títulos juvenis. Já o Submarino oferece cashback, isto é, dinheiro de volta para mais compras no estande, de até 50%.
Mesmo entre as editoras que mantiveram preços semelhantes àqueles praticados pelas livrarias, como a Aleph, havia desconto progressivo de acordo com o volume de títulos comprados.
Outro fator importante é o investimento da prefeitura carioca. Todos os 40.700 alunos da rede municipal de ensino receberam vales de R$ 20 para usar na feira. Os 47.600 servidores da educação também foram contemplados, com R$ 200, assim como as 1.561 escolas, com valores que vão a até R$ 1.600 para atualizar suas bibliotecas.
É um investimento que aumentou muito em relação ao ano retrasado. Considerando apenas os estudantes, foi de R$ 55 mil para R$ 814 mil, já que a gestão de Marcelo Crivella, que tentou impor censura à feira, distribuiu vales de R$ 11 a apenas 5.000 alunos em 2019.
É preciso ainda considerar a baixa concorrência. Com a ausência de três das maiores editoras que costumavam participar do evento, Companhia das Letras, Rocco e HarperCollins, o público se concentrou naquelas que decidiram vir. Esse ainda é o motivo pelo qual não é possível cravar se a feira está movimentando mais ou menos dinheiro.
De todo modo, são altas expressivas. Em especial se pensarmos que a redução de público foi de 40%, maior que o esperado. A ausência é evidente nos corredores dos pavilhões, que, com menos da metade dos estandes, ficaram mais amplos.
Isso não significa, no entanto, que o evento esteja vazio. Há filas para entrar nos pavilhões e nas editoras de maior sucesso. Já aquelas para autógrafos, antes quilométricas, diminuíram, mas não desapareceram.
Menos escritores quiseram interagir com os fãs --seja porque parte deles participa de longe, em painéis online, como a best-seller americana Julia Quinn, seja para evitar aglomerações, caso da brasileira Thalita Rebouças.
Apelidada de Rainha da Bienal por ter esculpido sua carreira no evento, Rebouças costumava não só autografar, como também beijar e deixar marca de batom nos livros. Agora, de máscara e numa interação com os fãs intermediada por um painel de acetato, seria impossível. "Não quis pôr meus leitores em risco. Eu estaria segura, mas eles talvez não", diz ela.
Embora o cenário superlativo ainda possa mudar, ninguém parece ter medo de que a balança penda para queda na próxima semana da feira.
A animação não vem só dos números que já foram tabelados, mas do fato de que o primeiro fim de semana da feira é tradicionalmente mais fraco que o segundo --ou seja, o que já está bom, ao menos para as grandes editoras, pode ficar ainda melhor.
O jornalista viajou a convite da Bienal do Livro do Rio de Janeiro.
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