Deputado é retirado à força do plenário da Câmara após protesto; imprensa é impedida de permanecer
Por Maria Carolina Marcello
BRASÍLIA, 9 Dez (Reuters) - O deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) foi retirado à força da cadeira da Presidência do plenário da Câmara após anunciar que ali permaneceria, em protesto à votação nesta terça-feira do chamado projeto da dosimetria, que deve reduzir a pena de reclusão do ex-presidente Jair Bolsonaro, e a imprensa foi impedida de fazer a cobertura no local.
Braga presidia a sessão normalmente desde aproximadamente as 15h30, mas, cerca de duas horas depois, ele fez um duro discurso contra a votação da proposta de dosimetria, fazendo inclusive uma relação com o processo de cassação de mandato que enfrenta, e anunciou sua intenção de permanecer na cadeira do presidente.
Assim que Braga anunciou sua intenção, a transmissão do plenário pela TV Câmara -- tanto via sinal de tv aberto, quanto pela internet, foi interrompida. Policiais legislativos esvaziaram o plenário, obrigando a saída, inclusive, de jornalistas, e menos de uma hora depois retiraram o deputado literalmente à força da Mesa, segundo imagens amadoras gravadas de celulares exibidas posteriormente pela mídia.
"Precisava de uma ação violenta e forçada?", questionou Braga em entrevista a jornalistas após a retirada.
"Com os golpistas que sequestraram a Mesa, sobrou docilidade", disse, referindo-se ao episódio ocorrido em agosto deste ano, quando deputados bolsonaristas ocuparam as Mesas da Câmara e do Senado em protesto à decretação da prisão domiciliar de Bolsonaro.
"Agora, com quem não entra no jogo deles, é porrada", acrescentou Braga, lembrando que na ocupação anterior, bolsonaristas só liberaram a Mesa 48 horas depois de negociações.
Quando anunciou em plenário sua intenção de permanecer na Presidência, Braga chegou a dizer que se o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), quisesse tomar uma atitude diferente da adotada "com os golpistas que ocuparam esta Mesa Diretora, e que até hoje não tiveram qualquer punição", seria da responsabilidade dele.
"Eu vou ficar aqui calmamente, com toda tranquilidade, exercendo o meu legítimo direito político de não aceitar como fato consumado uma anistia para um conjunto de golpistas, diminuição de pena para Bolsonaro de 2 anos", disse Glauber na ocasião em que anunciava sua intenção de permanecer na Mesa.
Em publicação no X após o incidente, Motta disse que ao ocupar a cadeira de presidente da Câmara para impedir o andamento dos trabalhos Braga desrespeita a própria Casa e o Poder Legislativo.
"O agrupamento que se diz defensor da democracia, mas agride o funcionamento das instituições, vive da mesma lógica dos extremistas que tanto critica. O extremismo não tem lado porque, para o extremista, só existe um lado: o dele", disse Motta no X.
"Temos que proteger a democracia do grito, do gesto autoritário, da intimidação travestida de ato político", acrescentou.
Mais cedo, o presidente da Câmara havia anunciado sua intenção de pautar o projeto da dosimetria, que reduz as penas de condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por atos relacionados à tentativa de golpe de Estado e que pode diminuir o tempo de reclusão de Bolsonaro para pouco mais de dois anos.
Braga é alvo de um processo de cassação de mandato, com votação pautada para quarta-feira. Ele responde a processo após empurrar e chutar, nas dependências da Câmara, um militante que o insultou.
(Reportagem de Maria Carolina Marcello e Bernardo Caram)
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