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Senador contaminado por coronavírus fala em doença violenta e defende isolamento social

Por Folha de São Paulo

06/04/2020 13h44 — em
Política



BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Representante do Senado na viagem aos Estados Unidos com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no começo do mês de março, o senador Nelsinho Trad (PSD-MS), 58, se considera um sobrevivente.

Primeiro parlamentar do país a ser diagnosticado com a Covid-19, Trad chegou a ficar internado em estado grave na UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) em um hospital de Brasília.

A volta para casa, há uma semana, foi comemorada apenas na companhia da esposa. Isolamento tem sido a palavra mais defendida pelo parlamentar na tentativa de conter o avanço da doença.

"Sou uma testemunha que sobreviveu a essa doença. Eu tenho legitimidade para dizer que não tem outro caminho para vencer essa doença que não seja o isolamento social. As consequências econômicas a gente conserta depois", defendeu o senador, em entrevista à reportagem na tarde da última sexta-feira (3).

Segundo Trad, a febre alta e o cansaço foram os primeiros sintomas que sentiu, alguns dias depois de o secretário de Comunicação do governo, Fábio Wajngarten, ter testado positivo para a doença. Ambos estavam no mesmo voo aos EUA.

Bolsonaro chegou a fazer o teste, mas segundo ele próprio divulgou em uma rede social, o resultado deu negativo.

"Essa doença se manifesta de forma diferente em cada pessoa. Eu tive febre e prostração. Minha esposa chegou a dizer que era psicológico, porque o Fabinho [Wajngarten] tinha testado positivo. Esperei ainda três dias para procurar atendimento, e depois de ter a confirmação, mesmo medicado, só piorou", contou.

Na segunda semana março, algumas horas depois de receber a confirmação da doença, o senador teve febre ainda mais intensa e falta de ar, apesar de já estar medicado. Acabou internado e entubado, e só saiu da UTI cinco dias depois.

Apesar das orações diárias, ele admite que teve receios. Agora, já em casa, Trad convive com uma tosse seca que não o deixa falar por muito tempo sem que fique cansado. Consequência da enfermidade que atacou o pulmão e o fez precisar de oxigênio durante o tempo em que ficou internado.

"Essa doença não é brincadeira e nesta hora a gente vê a nossa insignificância. Eu ficava lutando hora a hora pela vida. É uma doença tão violenta que a luta é diária", recordou ele, ao ser questionado se concordava que a Covid-19 podia ser tratada como "gripezinha", como já afirmou o presidente da República.

As manifestações de Bolsonaro, inclusive, foram todas acompanhadas pelo senador, que enquanto esteve internado teve acesso à televisão e ao celular. Foi dessa forma que, segundo ele, também se sentiu menos solitário, já que recebeu inúmeras ligações, entre elas de parlamentares e até mesmo de integrantes do governo, como o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.

Jair Bolsonaro, com quem viajou aos Estados Unidos e nem mesmo seu filho e colega de mandato, Flávio Bolsonaro (Republicanos), procuraram Trad para saber da sua saúde.

"Só se ligaram alguma vez que eu não estava com o telefone, mas quando eu atendia, nunca me ligaram (Bolsonaro e os filhos). Com o Mandetta eu conversei e converso seguido. A gente trabalhou junto no estado", disse.

A proximidade com Mandetta, inclusive, coloca o senador na linha de defesa das ações realizadas pelo ministro na tentativa de reduzir os números da doença no país. A primeira delas é o isolamento, que o senador acredita ser a maneira mais correta para conter a doença. A segunda é defender que o presidente da República procure Mandetta para conversar e que possam, assim, agir juntos, sem enfrentamentos de caráter político.

"O Ministério da Saúde está agindo de forma técnica no combate à doença e o Mandetta está corretíssimo. O presidente Bolsonaro tem de ter a humildade que ele diz que o Mandetta não teve e buscar a reaproximação com o ministro. Esse gesto tem de vir do presidente, pelo bem de todo o país", afirmou.

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