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Repressão bielorrussa separa criança de pais manifestantes

Por Folha de São Paulo

19/09/2020 13h34 — em
Mundo



BRUXELAS, BÉLGICA (FOLHAPRESS) - O regime bielorrusso começou a cumprir a ameaça de tirar crianças de pais que se manifestam contra a ditadura. Artiom, filho de seis anos da ativista da Belarus Europeia Elena Lazarchik, foi levado para um orfanato na quinta (17) porque sua mãe não foi buscá-lo na escola.

No horário da saida escolar, ela estava detida sob acusação de participar de ato ilegal. Na Belarus, manifestações precisam ser autorizadas pelo regime.

O pai de Artiom, o também ativista Serguei Matskoit, não foi contatado antes que o menino fosse entregue ao governo e levado, sem ordem judicial.

Depois de liberada da delegacia, Lazarchik não pode resgatar o filho. O governo afirmou que faria antes uma “investigação social” de duas semanas para decidir se ela poderia manter a guarda do menino.

O orfanato também proibiu visitas “para evitar a transmissão do coronavírus”, embora o ditador bielorrusso, Aleksander Lukachenko, tenha se notabilizado por minimizar a gravidade da Covid-19 e prescrever sauna e vodca para combatê-la.

Lazarchik conseguiu permissão para retirar o filho do orfanato na tarde deste sábado (19), depois de entregar vários documentos. Desde cedo, centenas de pessoas se concentraram na frente do Centro Social e Pedagógico de Frunzenski, em apoio à família.

Quando a mão e o menino saíram do local, às 13h30 (horário local, 7h30 no Brasil), os manifestantes bateram palmas, gritaram palavras de ordem e cantaram músicas infantis.

“Ele estava sorrindo e parecia bem”, descreveu à reportagem por aplicativo uma moradora de Minsk que estava no local.

A ameaça de tirar as crianças de pais que se manifestam contra a ditadura foi feita em um programa na TV pública na segunda (14), pelo chefe do departamento de supervisão para a implementação da legislação sobre menores e jovens do Gabinete do Procurador-Geral da Bielorrússia, Aleksey Podvoisky.

Segundo ele, esses pais violam as leis que regulam os direitos da criança, pois não há garantia de segurança no que o regime chama de "eventos de massa não autorizados".

Podvoisky afirmou que as punições previstas são advertências, multas e o afastamento da criança de sua família, “em alguns casos”. Nesta semana, houve pelos menos 60 multas a pais manifestantes, segundo ativistas do país.

A atitude faz parte de uma escalada de repressão para tentar abafar os protestos diários contra Lukachenko, que completam neste sábado 42 dias seguidos.

Desde a eleição presidencial de 9 de agosto, considerada fraudada, a ditadura já prendeu mais de 7.000 pessoas. Ao menos cinco foram mortos durante a repressão e há cerca de 500 casos documentados de tortura.

A situação levou o Conselho dos Direitos Humanos da ONU a convocar uma reunião extraordinária nesta sexta (19), na qual a maioria dos participantes condenou as irregularidades eleitorais e a repressão violenta às manifestações pacíficas.

A OSCE (organização europeia de cooperação e segurança) decidiu enviar uma missão ao país para investigar a situação dos direitos humanos após as eleições presidenciais.

Apesar da repressão, mulheres voltaram a marchar na tarde deste sábado, como têm feito desde a eleição.

A partir das 16h45, a polícia começou a prender as manifestantes. Foram tantas detenções que algumas acabaram sendo liberadas, porque não havia mais espaço dentro dos camburões.

Entre as mulheres presas estava Nina Bahinskaia, 73, que se tornou uma das estrelas dos protestos depois de enfrentar policiais diversas vezes para defender outras pessoas ou tentar recuperar bandeiras tomadas pelos agentes. Ela foi liberada depois de algumas horas.

Às 18h30, entidades de direitos humanos registravam 159 detenções em Minsk, mas afirmavam que o número final deveria ser maior.

Além das passeatas, festas para o Dia da Bandeira foram organizadas nos pátios internos de dezenas de quadras residenciais.

O feriado homenageia a bandeira histórica branca e vermelha usada na breve república independente de 1918 e no fim da URSS, até que Lukachenko a abolisse após sua primeira eleição, em 1994.

“Não se esqueça de pendurá-los nas janelas e nas varandas logo de manhã! Esses símbolos agem nos Lukachistas como a luz do sol nos vampiros”, afirmava convocatória.

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