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Milei faz show com banda e ataca esquerda durante lançamento de livro

Por Folha de São Paulo

22/05/2024 20h56 — em
Mundo



BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) - O que era para ser inicialmente o lançamento oficial de seu novo livro sobre teoria econômica se tornou --literalmente-- um show. O presidente Javier Milei cantou rock acompanhado de uma banda e vociferou contra a esquerda na noite desta quarta-feira (22) no Luna Park, um tradicional espaço de apresentações em Buenos Aires.

Sua equipe afirma que os custos deste evento sairiam do bolso do presidente e de parceiros, não do Estado, e que a cantoria foi uma estratégia de marketing --na juventude, Milei, 53, teve uma banda de rock, a Everest. Ele não toca instrumentos, tampouco fez aula de canto. "Mas cantar era algo intuitivo", disse o ultraliberal há alguns anos.

Milei subiu ao palco com quase uma hora de atraso e foi aplaudido no espaço quase lotado --a capacidade é de aproximadamente 6.000 pessoas. A canção principal, marco de Milei, dizia frases como "eu sou o rei" e "sou o leão", o animal que usa como símbolo pessoal. E bradava contra o que chama de casta, a classe política tradicional.

O economista hoje na chefia da Casa Rosada lançou "Capitalismo, Socialismo y la trampa [armadilha, em português] neoclássica", obra de 376 páginas recém-publicada pela editora Planeta. O primeiro capítulo do livro é um compilado de vários discursos de Milei desde que assumiu o cargo, em dezembro passado.

Nos outros dois capítulos, o presidente busca teorizar e reforçar suas críticas ao socialismo e ao Estado de bem-estar social e a defender o liberalismo. Entre outras coisas, defende que o mercado nunca falha e, portanto, não precisa de intervenções estatais para assegurar direitos.

"As falhas do mercado não existem", afirma a certa altura. "Uma vez que as trocas no mercado são voluntárias, um processo de cooperação social, evidentemente não há razão para existir falhas, a menos que haja uma ação violenta ou coercitiva que gere um vício", segue ele. "E, nesse sentido, o único aparato repressivo que comete esse delito de modo sistemático é o Estado."

Milei moveu sua base de apoio no ato em um momento tenso para sua gestão, que nem sequer completou seis meses. Já faz duas semanas que seu pacotão liberal de mudanças na economia, a Lei Ônibus ou Lei de Bases, e suas mudanças fiscais estão travadas no Senado.

Os dois projetos, que caminham em paralelo, foram aprovados pela Câmara por uma maioria confortável no final de abril, mas no Senado, com sua minoria de 7 cadeiras entre 72, o governo tem penado para negociar. Isso tudo desidratou um outro anúncio que Milei vociferava com ânimo como um marco de seu governo, o Pacto de Maio.

Seria um grande acordo de dez pontos sobre o futuro econômico a ser selado com os governadores das províncias argentinas e os chefes de partidos neste sábado (25) em Córdoba, mais um ato de marketing para vender a imagem de que o governo sabe negociar e de que pode receber a confiança do empresariado nacional e internacional.

Vários governadores da oposição já haviam desdenhado do convite, e agora Milei recuou, argumentando que irá a Córdoba e discursará, mas sem os governadores, aos quais só voltará a estender o convite quando a Lei Ônibus e o pacote fiscal tiverem sido chancelados pelo Congresso.

Frente às dificuldades domésticas, Milei conta com seu imbróglio internacional para movimentar os seguidores. Desde o último fim de semana o líder argentino troca farpas cotidianas com o premiê espanhol, o socialista Pedro Sánchez.

A relação já era amarga, mas desandou de vez quando Milei fez menções não nominais à esposa do primeiro-ministro, Begoña Gómez, investigada por possível tráfico de influências em Madri.

Pesou especialmente o local onde Milei estava: em território espanhol, na capital, participando de um festival convocado pelo partido ultradireitista Vox, um de seus principais aliados na Europa.

Desde então, o governo Sánchez exigiu que a Casa Rosada emitisse um pedido de desculpas e, diante da reiterada negativa de Buenos Aires, retirou sua embaixadora da Argentina na última terça-feira (21), na maior crise diplomática entre os dois países na história recente.


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