Itamaraty envia carta à 'The Economist' e rebate críticas sobre Lula
O governo brasileiro enviou nesta terça-feira (1º) uma carta à revista britânica The Economist em resposta ao artigo que questionou a influência internacional e a popularidade interna do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O documento foi assinado pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e destacou a atuação de Lula na defesa da democracia, da sustentabilidade e do multilateralismo.
A publicação da revista afirmou que o Brasil, sob Lula, teria se distanciado de democracias ocidentais e dos Estados Unidos, além de apontar críticas à falta de aproximação com o presidente americano Donald Trump. Em sua defesa, o governo brasileiro ressaltou o papel de Lula na construção de consensos no G20 e na criação de uma aliança global contra a fome e a pobreza.
A carta do Itamaraty também citou a proposta do presidente brasileiro para taxação de bilionários e destacou o compromisso do país com o direito internacional e a resolução pacífica de conflitos. O governo reforçou que o Brasil condenou a invasão da Ucrânia pela Rússia e mantém esforços por uma solução diplomática para o conflito.
O ministro Mauro Vieira afirmou ainda que o Brasil vê o BRICS como peça fundamental na luta por um mundo multipolar e mais equilibrado. O texto defendeu que Lula se tornou um exemplo de solidez institucional e de respeito às regras multilaterais de comércio, além de ser um parceiro confiável para investidores e defensores dos direitos humanos.
Segundo o governo, o Brasil permanece comprometido com o combate à fome e às mudanças climáticas e segue como defensor da Carta da ONU e das normas internacionais. A carta considerou infundadas as críticas da The Economist e reiterou que a política externa brasileira está alinhada aos valores humanitários e à busca pela paz.
Veja a nota na íntegra:
"Em relação ao recente artigo publicado na sua página na internet em 29 de junho, gostaria de fazer as seguintes considerações.
Poucos líderes mundiais, como o Presidente Lula, podem dizer que sustentam com a mesma coerência os quatro pilares essenciais à humanidade e ao planeta: democracia, sustentabilidade, paz e multilateralismo. Como Presidente do G20, Lula construiu um difícil consenso entre os membros, no ano passado, e ao longo do processo logrou criar uma ampla aliança global contra a fome e a pobreza. Também apresentou uma ousada proposta de taxação de bilionários que terá incomodado muitos oligarcas.
O Brasil vê o BRICS como ator incontornável na luta por um mundo multipolar, menos assimétrico e mais pacífico. Nossa presidência trabalhará para fortalecer o perfil do grupo como espaço de concertação política em favor da reforma da governança global e como esfera de cooperação em prol do desenvolvimento e da sustentabilidade.
Sob a liderança de Lula, o Brasil tornou-se um raro exemplo de solidez institucional e de defesa da democracia. Mostrou-se um parceiro confiável que respeita as regras multilaterais de comércio e oferece segurança a investidores. Como um país que não tem inimigos, o Brasil é também um coerente defensor do direito internacional e da resolução de disputas por meio da diplomacia. Não fazemos tratamento à la carte do direito internacional nem interpretações elásticas do direito de autodefesa. Lula é um eloquente defensor da Carta das Nações Unidas e das Convenções de Genebra.
A posição do Brasil quanto aos ataques ao Irã e, sobretudo, às instalações nucleares é coerente com esses princípios. Nossa condenação responde ao fato elementar de que essas ações constituem uma flagrante transgressão da Carta da ONU. Ferem, em particular, as normas da Agência Internacional de Energia Atômica, organização responsável por prevenir contaminação radioativa e desastres ambientais de larga escala.
Na gestão do Presidente Lula, o Brasil condenou a invasão da Ucrânia pela Rússia, ao mesmo tempo em que apontou a necessidade de abrir caminhos para uma resolução diplomática do conflito, ainda em 2023.
Lula não é popular entre os negacionistas climáticos. Em face de uma nova corrida armamentista, ele está entre os líderes que denunciam a irracionalidade de investir na destruição, em detrimento da luta contra a fome e do aquecimento global.
Para humanistas de todo o mundo, incluindo políticos, líderes empresariais, acadêmicos e defensores dos direitos humanos, o respeito à autoridade moral do presidente Lula é indiscutível."
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