Com 97% dos casos de Covid-19 na Argentina, Buenos Aires anuncia novo 'lockdown'
BUENOS AIRES, SP (FOLHAPRESS) - "Vamos pedir aos habitantes da região metropolitana de Buenos Aires que voltem a ficar em casa a partir de 1º de julho e até o próximo dia 17. Só vão poder sair os trabalhadores essenciais. O resto, apenas para comprar alimentos e remédios, perto de casa." Assim, no 99º dia de quarentena nacional contra o novo coronavírus, o presidente da Argentina, Alberto Fernández, avisou que a capital Buenos Aires e o chamado "conurbano", que faz parte da província de Buenos Aires, darão um passo atrás no processo de reabertura iniciado há quatro semanas. Os comércios não essenciais que tinham começado a reabrir (lojas de roupas, livrarias, papelarias e outros), além de alguns setores da indústria, voltarão a ser fechados, anunciou nesta sexta (26). Apenas os trabalhadores considerados essenciais (da área da saúde, do comércio de alimentos, de combustíveis, diplomatas, políticos e jornalistas) poderão usar o transporte público. A verificação será feita pela polícia, e as permissões devem ser obtidas online, com apresentação de documentos --é necessário mostrar um QR code nas estações de trem e paradas de ônibus. Também estão suspensas as atividades esportivas ao ar livre entre 20h e 8h, liberadas no começo de junho, mas que causaram aglomerações nos parques e praças. Continua autorizada, porém, a saída de crianças com um dos pais, durante uma hora por dia, nos fins de semana, reguladas pelo número do documento de identidade - pares num dia, ímpares no outro. O passo atrás do governo foi definido depois que os números de novos casos quadruplicaram na área metropolitana de Buenos Aires nas últimas semanas. A região inclui a capital, governada pelo oposicionista Horacio Rodríguez Larreta, e seus arredores, que integram a província de Buenos Aires, comandada pelo kirchnerista Axel Kicillof. Segundo dados divulgados pelo governo federal, 97% dos casos ocorrem na região metropolitana - nos últimos 20 dias, o número de infecções cresceu 140%, e o de mortos, 98%. Havia muita discordância entre as autoridades, pois Larreta é a favor da reabertura econômica, enquanto Kicillof alertava sobre um possível colapso, nas próximas semanas, dos hospitais da província. A nova fase da quarentena, que começou a ser definida entre Fernández, Kicillof e Larreta na noite de quinta-feira (25), acabou entrando pela madrugada. O anúncio ficou para esta sexta-feira (26) ao meio-dia. Mas o governo mudou o formato da apresentação, e perguntas dos jornalistas não foram permitidas. Em vez do auditório da residência oficial de Olivos, onde costumavam dividir uma mesa pequena, o anúncio foi feito num salão mais amplo, com uma mesa maior, com grande distância entre eles. O presidente argentino usou o Brasil como contraexemplo para justificar as medidas: "Se a Argentina tivesse seguido o caminho do Brasil, hoje teria mais de 10 mil mortos. E nós já perdemos mais de mil argentinos desde o começo da pandemia". Fernández disse que entende as preocupações com a economia, mas voltou a repetir que "uma economia que cai pode ser levantada, uma pessoa que morre, não". Segundo a universidade americana Johns Hopkins, a Argentina registrou até esta sexta mais de 52 mil casos de Covid-19 e 1.167 mortes em decorrência da doença. "O problema econômico da Argentina não é a quarentena, é a pandemia", disse Fernández.
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