Cena LGBT+ continua em frente em Pequim, apesar de reveses
PEQUIM, CHINA (FOLHAPRESS) - Esperando na fila do Rizz Dance Club, num subsolo da rua Sanlitun, distrito de Chaoyang, um estudante chinês animado para entrar no estabelecimento responde sobre os espaços LGBTQIA+ de Pequim.
Ele diz que são só dois, este e o Destination, também na região, do outro lado do estádio dos Trabalhadores. Prefere o Rizz porque as pessoas são mais jovens. O clube é menor, tem uma só sala que fica aglomerada, sobretudo nos fins de semana, porém é mais exclusivo.
O estabelecimento remete a outro, o Funky, que existiu por alguns anos e fechou antes da pandemia de Covid-19, como lembra outro frequentador. Era um espaço maior, perto do Destination, e talvez sua manutenção tenha ficado inviável devido à concorrência.
Com três andares, uma dezena de ambientes e patrocinadores como a Universal Music, o Destination é uma instituição. Completa 21 anos no mês que vem.
Há duas semanas, todas as salas e os corredores estavam lotados, assim como o bar amplo do lado de fora, ao ar livre. Era um dia mais caro, com a entrada custando cem yuan (R$ 77).
Na entrada para o prédio, voluntários também LGBTQIA+ em uma mesa convidavam a responder um questionário via aplicativo e fazer teste de HIV gratuito.
Com o título "Pesquisa sobre comportamento de saúde sexual em populações-chave", a pesquisa tinha tópicos como "lugares e maneiras para encontrar um parceiro sexual masculino", incluindo banheiro e parques, e "quantas vezes fez sexo anal com alguém do mesmo sexo na última semana".
Nos banheiros, um funcionário do clube permanecia de vigia. Não foi possível observar um só beijo em todos os ambientes.
O questionário perguntava também se "o uso de novas drogas (como ice, ecstasy, K etc.) aumenta o risco de Alzheimer". Mas não foi possível ver droga, comércio ou consumo, em lugar nenhum.
Na Destination, há espaços para K-pop e pop anglo-americano, mas pop chinês se ouve muito raramente. A situação é parecida no Rizz.
Nas salas amontoadas, há uma com pequeno palco, em que os homens se revezam dançando para o público. Algumas jovens acompanham seus amigos. Uma das salas tem estrutura para pole dance.
Não há mais shows de drag queens no Destination, conta uma delas, só no Rizz, entre os clubes estabelecidos. Mas a cena mais underground, de raves e clubes techno, ainda as contrata, eventualmente. Ficam em Chaoyang, mas mais distantes, como o Groundless Factory, no setor de arte 798, e o Pillbox, também por ali.
Além do Destination, o lado oeste do estádio dos trabalhadores tem uma dezena de outros clubes grandes e bares, de vários gêneros, até karaokê, alguns mais sofisticados, como denunciam uma Ferrari e outros esportivos estacionados.
A um quarteirão está um dos bares também tradicionalmente voltados ao público LGBT+. O Anchor está festejando uma década "together with pride", juntos com orgulho, como anuncia num cartaz. Visitado no mesmo sábado, estava lotado, só homens, conversando em mesas altas ou sofás pelos cantos.
Na calçada em frente ao Anchor, lésbicas conversavam. De maneira geral, têm uma cena aparentemente mais contida em Pequim. Foi possível localizar um bar, Second, no quarto andar de um edifício, numa região também mais afastada de Chaoyang.
Um pequeno aviso determina, na entrada: "Há famílias no prédio. Não faça barulho alto". Ao se abrir a porta, uma jovem corre a pedir gentilmente para sair. "Ladies only", disse. Só mulheres.
Uma observação comum aos vários personagens ouvidos, com promessa de anonimato, foi que a homossexualidade aberta não é problema, necessariamente. Foi descriminalizada, aliás, há quase três décadas, em 1997.
Mas a ShanghaiPride, evento que vinha se firmando em Xangai, desapareceu com o início da pandemia e não voltou mais. O mesmo ocorreu com a legalização do casamento de pessoas do mesmo sexo, que foi assinalado como uma demanda popular pelo Congresso Nacional do Povo, em 2019, só para ser esquecida e não voltar mais depois da pandemia.
Também no início da pandemia, o Ministério da Educação orientou as escolas a "cultivar a masculinidade dos alunos", argumentando que os jovens chineses estavam se tornando muito femininos.
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