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Barbados se prepara para virar república, e monarquia britânica fica menor

Por Folha de São Paulo

29/11/2021 20h05 — em
Mundo



BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) - A partir da meia-noite desta terça-feira (30), a monarquia britânica vai diminuir. A ilha caribenha de Barbados removerá a rainha Elizabeth 2ª do cargo de chefe de Estado e se tornará uma república, passando a ter uma outra mulher, a ex-juíza Sandra Mason, 72, como presidente do país.

A transição é fruto das manifestações após a morte do afro-americano George Floyd por um policial branco em Minneapolis, em maio de 2020. Os grandes atos em várias cidades nos EUA desencadearam discussões na ilha, levantando contextos históricos da escravidão na região.

Há cerca de 400 anos, navios ingleses ancoraram em Barbados. Com a colonização, veio um sistema escravista que durou até 1834. Os britânicos enviaram escravos africanos para trabalhar nos campos de cana-de-açúcar, e Barbados acabou se tornando o foco do comércio de escravos transatlânticos.

Hoje, dos quase 300 mil moradores da ilha, a maioria é descendente de africanos.

Para jovens ativistas como Firhaana Bulbulia, 26, fundadora da Associação Muçulmana de Barbados, o colonialismo britânico e a escravidão são os responsáveis pelo desequilíbrio econômico da ilha.

"A desigualdade econômica, a capacidade de possuir terras e até mesmo o acesso a empréstimos bancários têm muito a ver com as estruturas construídas após o domínio britânico", diz ela.

A data escolhida para ser o primeiro dia do país como uma república é simbólica: no mesmo dia, em 1966, a ilha se tornava um país independente, desvinculando-se do papel de colônia do Reino Unido.

A transição foi anunciada em setembro de 2020 e, no mês seguinte, o Parlamento elegeu Mason como a primeira presidente da ilha. "Chegou a hora de reivindicarmos nosso destino completo", disse a primeira-ministra Mia Mottley, líder do movimento republicano do país, em discurso após a votação.

À época, o Palácio de Buckingham disse que a decisão era um assunto interno de Barbados, posição corroborada pelo Ministério das Relações Exteriores britânico. "Barbados e Reino Unido estão unidos por nossa história, cultura, idioma e muito mais. Temos uma parceria duradoura e continuaremos a trabalhar com os barbadenses", afirmou uma porta-voz da pasta.

Mottley, a primeira-ministra, estará presente na cerimônia realizada na noite desta segunda-feira (29), que contará com desfiles militares e a presença do príncipe Charles, filho de Elizabeth 2ª. Na celebração, ele receberá a Ordem da Liberdade de Barbados, a mais alta honra nacional. No discurso que fará no evento de transição, Charles destacará os laços permanentes entre os dois países.

"Na medida em que o status constitucional muda, era importante para mim reafirmar as coisas que não mudam. Por exemplo, a parceria estreita e confiável entre Barbados e Reino Unido como membros vitais da Commonwealth", afirmou em um comunicado o príncipe, primeiro na linha sucessória ao trono.

A Commonwealth é um grupo de 54 países -a maioria ex-colônias britânicas- que compartilha ideais de democracia, sociedade e governo e é liderado pela realeza britânica. Apesar da transição, Barbados continuará membro da organização, assim como Trinidad e Tobago, Dominica e Guiana.

A última vez que a rainha foi destituída do cargo de chefe de Estado foi em 1992, quando Maurício, uma ilha no Oceano Índico próxima a Madagascar, proclamou-se uma república.

O desafio do novo governo é colocar a economia de Barbados nos trilhos depois da pandemia de Covid-19, que minimizou a sua principal fonte de recursos, o turismo, que vem, principalmente, do Reino Unido.

Além disso, o desemprego é de quase 16%, ante 9% nos últimos anos, apesar do aumento de empréstimos para financiar projetos do setor público e criar empregos. A inflação alta -movimento que se repete em todo o mundo- também é um problema para a ilha, que lida com interrupções na cadeia de suprimentos.

Esses desafios estavam presentes nos principais argumentos da oposição, que alegou que o momento não era propício para uma mudança no sistema político do país. "Um número crescente de casos obscenos, um sentimento crescente de estresse e medo. Simplesmente não acho que seja o momento certo", disse o líder da oposição, o bispo Joseph Atherley.


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