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Siririca e minete se unem em evento de Gregorio Duvivier e Ricardo Araújo Pereira

Por Folha de São Paulo

24/06/2022 18h06 — em
Famosos & TV



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - "Em Portugal, não há uma palavra como siririca. Em compensação, o Brasil não tem um termo para minete, que é o sexo oral feminino. Precisamos, então, de intercâmbios linguísticos", diz Gregorio Duvivier, em entrevista a esta repórter e ao lado de Ricardo Araújo Pereira, com quem divide o palco em "Um Português e Um Brasileiro Entram no Bar...", que volta a São Paulo neste fim de semana, no Teatro Procópio Ferreira, cinco anos após a estreia.

Num formato que lembra a dinâmica do stand-up, os humoristas, que também são colunistas deste jornal, trocam reflexões sobre diferenças culturais e linguísticas entre Brasil e Portugal e comentam algumas discussões que há décadas cercam o humor, como o clássico debate sobre limites da comédia.

Pereira, que no próximo dia 2 lança "Estar Vivo Machuca" --coletânea literária de algumas de suas crônicas publicadas pela Folha e pela revista portuguesa Visão--, faz piadas com o sotaque brasileiro e conta algumas de suas experiências como turista no país, que, segundo ele, o faz sentir "em casa" muito mais do que qualquer outro europeu.

O mesmo faz Duviver, que caçoa da pronúncia portuguesa de certas palavras e conta situações engraçadas que já viveu na terra daqueles que, no passado, invadiram o Brasil.

No meio das zoações linguísticas, porém, estão também os deboches que ambos fazem com seus próprios países.

"Acho que o humor português é muito diferente do brasileiro, que é mais rasgado --e no mau sentido. Nós fazemos piada e, logo depois, damos gargalhadas. Lá eles são mais sérios. Inclusive, tenho uma tese de que muito do que o brasileiro diz ser 'a burrice portuguesa' são, na verdade, piadas que ele não entendeu", diz Duviver.

"Uma vez, perguntei a um garçom português como vinha o bacalhau e ele respondeu: "[o prato] não vem, sou eu quem trago". Na hora, achei que ele era muito burro. Mas segundos depois percebi que estava fazendo uma piada, embora não estivesse rindo. É um humor muito mais interessante."

Para Pereira, piadas que zombam de português e de outras nacionalidades não são problemáticas, mas sim meras anedotas. O humorista, que é fundador do grupo Gato Fedorento, diz que a era do cancelamento, no entanto, vem cravando por aí a ideia de que o riso pode ser uma agressão, o que ele discorda, sob o argumento de que risadas serviriam para unir pessoas, não separá-las.

Além de impulsionar a tal cultura do cancelamento, as redes sociais deram vida aos chamados influenciadores digitais. E ainda que muitos deles se apresentem como humoristas, tanto Pereira quanto Duviver defendem a ideia de que essas são duas categorias bem diferentes e que "humoristas jamais devem querer influenciar alguém".

O português, aliás, chega a questionar o conceito de influenciador e diz não compreender a profissão. "É uma questão de filosofia da linguagem. Se a gente quer influenciar alguém, a primeira coisa a se fazer é não dizer que estamos a tentar influenciá-los. É mal pensado."

"Um Português e Um Brasileiro Entram no Bar..." não é o único projeto que une Duvivier e Pereira. Os dois já dividiram uma mesa na Flip, Festa Literária Internacional de Paraty, em 2016, e trocaram ideias para alguns dos roteiros do programa "Greg News", da HBO Max.

Pereira conta que sua colaboração no programa "foi só esporádica" porque era difícil sacar todas as referências das piadas que Duviver elaborava, que incluíam personagens como o macaquinho de estimação do Latino, cantor que o português desconhecia até então.

"Não conseguia entender o que era 'um macaco latino'", diz ele. "Outra vez, precisei de várias horas para compreender a existência de um deputado chamado Pastor Sargento Isidório."

Apesar do choque cultural, os humoristas dizem que a parceria já virou regra e brincam que "quem sofre com isso são os próprios portugueses e brasileiros".

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UM PORTUGUÊS E UM BRASILEIRO ENTRAM NUM BAR...

Quando 25 e 26 de junho (sáb., às 21h, dom., às 19h)

Onde Teatro Procópio Ferreira, r. Augusta, 2823, São Paulo

Preço De R$25 a R$100

Classificação 12 anos

Elenco Gregório Duvivier e Ricardo Araújo Pereira

Direção Gregório Duvivier e Ricardo Araújo Pereira

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