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Peso-pesado do UFC parou de jogar bola na várzea

Por Folha de São Paulo

18/01/2025 9h30 — em
Esportes



SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) - Antes mesmo de sonhar em lutar no UFC, Jailton Malhadinho queria ser jogador de futebol. Não chegou a ter uma carreira nos campos e os rumos da vida o levaram ao MMA, mas o lutador seguiu atuando na várzea e só abandonou a bola quando sentiu os efeitos no corpo.

Passados mais de seis anos de quando pendurou as chuteiras, ele é o único brasileiro no top 10 do ranking peso-pesado do UFC e entra no ringue neste sábado (18). O baiano encara no UFC 311 o moldavo Serghei Spivac, número 7 da categoria, mirando seguir em ascensão e se credenciar para uma disputa de cinturão em breve.

"FUTEBOL MACHUCA DEMAIS"

Jailton era goleiro e, na adolescência, fez uma peneira no Vitória, só que acabou não entrando no time. O lutador já declarou anteriormente que, na época, esbarrou nos R$ 10 mil exigidos por um dirigente para que conseguisse passar no teste. Não tinha o dinheiro.

Ele migrou para a luta, começou a competir no MMA em 2012 e virou o Malhadinho, mas ainda não havia largado o esporte que foi seu primeiro amor. Conciliava o "futebol de bairro" com os treinos de artes marciais e o trabalho, que era o que pagava as contas.

O baiano só desistiu de fato da várzea quando as dores pesaram: "Futebol valendo machuca demais". Jailton também foi motivado por um ultimato da esposa e decidiu focar 100% no MMA, deixando o futebol apenas como lazer. Quatro anos depois, viria a sua estreia no UFC após participar do Contender Series.

"Fiz teste no Vitória, só que eu não consegui. Continuei jogando futebol, de bairro mesmo. E aí lutando e jogando bola, só que parei", disse Jailton Malhadinho, ao UOL.

Eu sempre joguei bola até minha esposa chegar para mim e falar: 'Você treina a semana toda para sábado e domingo jogar bola?'. Só eu que disputava campeonato mesmo, de várzea. E aí acabou que eu falei: 'Não, é melhor parar porque futebol machuca muito'. Vou ficar só brincando na amizade mesmo, porque o futebol valendo machuca demais.

O atual número 6 entre os peso-pesados do UFC é certeiro: futebol machuca mais que MMA. A declaração vem de um lutador acostumado a enfrentar rivais de até 120 kg e que, dominante no octógono, ficou invicto em seus seis primeiros combates na principal organização de artes marciais do mundo.

"Claro que sim [que futebol machuca mais que MMA]. No futebol, você toma uma porrada, vai tomando... Aí você bota a mão no joelho e o joelho já foi embora. Bota a mão no tornozelo e o tornozelo foi embora. E aí você vai dar uma passada, machuca o pé, você pisa no buraco, entendeu? É muito complicado", disse Jailton Malhadinho.

DA DESISTÊNCIA DA LUTA AO TOP 10

Malhadinho chegou a parar de lutar em 2014, decepcionado pelos cheques sem fundo que recebia após participar de eventos. Cansado de não ver a cor do dinheiro das bolsas prometidas, decidiu dar um tempo. Não queria mais "pagar para levar murro na cara".

Trabalhava como vigilante noturno e seguia treinando, mas sem a pretensão de competir novamente. Durante a vida, Jailton acumulou diversos empregos: lavador de carro, porteiro e entregador.

Voltou atrás da decisão após dois anos, embalado pela "profecia" de que não só entraria no UFC, como faria sucesso rapidamente. A primeira luta na organização demorou dez anos desde seu começo no MMA e veio após duas tentativas frustradas, mas Malhadinho deslanchou logo de cara. O baiano despontou como um fenômeno, ultrapassou o status de promessa, já venceu sete de seus oito combates no UFC e quer manter a boa fase.

"Eu sempre trabalhei atrás de meus objetivos. Não era certo, eu ia lutar, chegava na hora e o cara falava que não ia pagar a bolsa. Chegava lá e o cara dava outro valor. Teve evento que eu lutei que o cara me deu cheque sem fundo. Então eu decidir que ia dar um tempo, porque não acho justo eu estar pagando pra tomar murro na cara e não ganhar nada, né? É difícil", disse Jailton Malhadinho.

Eu continuei trabalhando normal, de vigilante, mas sempre treinando? E aí certo dia o meu treinador hoje me viu eu treinando e perguntou se eu queria voltar a lutar. Eu falei que não queria. Ele falou que infelizmente aquilo acontecia, mas que eu ia voltar daquele jeitão e chegar onde queria chegar. Perguntou: 'Qual é o seu sonho?'. Eu falei que era lutar. Ele disse: 'Seu sonho é entrar no UFC e pode ter certeza que vai conseguir'.

O QUE MAIS ELE DISSE

Luta casada: "Estava há seis meses sem pisar aqui no UFC. Graças a Deus, consegui uma luta. O UFC atendeu a mim e a ele também, que pediu para pegar um cara acima no ranking. Essa luta foi casada. Spivak é um cara que todo mundo sabe é perigoso, né?".

Início avassalador no UFC: "Meu empresário falou comigo sobre isso: 'Quando eu te trouxe no UFC, disse que ia ser um cara para ficar'. Eu me dedico muito no que eu faço, são dez anos nessa caminhada aí, não foi fácil. E hoje eu me sinto realizado no que estou vivendo. Independentemente de ganhar título ou se não ganhar, eu estou muito feliz, porque foram dez anos que eu me dediquei para isso e eu queria só realizar um sonho, que era lutar no UFC. E hoje vou para a minha nona luta já".

Cobrança pelo hype: "Acho que esse fator de eu estar ganhando as lutas, de ser o único brasileiro no ranking [no top 10 do peso-pesado], acabo sendo mais cobrado. É como se fosse o filho mais velho da casa, né? Você é sempre mais cobrado, tem que buscar tomar conta das coisas. Então, isso aí não chega a me afetar, não".

Próximos passos: "Com fé em Deus, eu vou buscar essa vitória. Pretendo fazer mais umas três lutas esse ano. Se tudo ocorrer bem, quero desafiar Ciryl Gane [#2 no ranking], que é um cara que está aí próximo do cinturão, que já foi campeão interino. É o único cara que está ali que possa me dar mais uma alavancada."


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