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Obsessão de Abel pela Libertadores impressionou até funcionários

Por Folha de São Paulo

28/11/2021 18h03 — em
Esportes



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - No meio da festa pelo título da Copa Libertadores, na noite de sábado (27), em Montevidéu, Abel Ferreira deu um abraço em Felipe Melo, o capitão lesionado que entrou nos minutos finais da prorrogação e levantou a taça.

"Você é uma lenda deste clube", disse o jogador para o técnico.

Foi a última, mas não a primeira manifestação de admiração dos atletas ao treinador que levou o Palmeiras a ganhar duas Libertadores seguidas, algo que não acontecia desde o Boca Juniors bicampeão em 2000/2001. Entre os brasileiros, é um feito não visto desde o São Paulo de 1992/1993.

"Ele é jovem, intenso. Tem potencial para ser o técnico da seleção de Portugal", analisou Felipe Melo para a Folha, na semana passada.

O Brasil faz parte da vida de Abel Ferreira mesmo antes de se tornar treinador. Fã de automobilismo, o português se lembra de discussões com o pai, Sebastião Ferreira, por causa da F1. O garoto era fanático por Ayrton Senna. Seu progenitor sempre preferiu o francês Alain Prost.

"Ele veio para o país procurar seu espaço e encontrou. A gente sabe que tinha treinado times em Portugal, o PAOK (GRE), mas os clubes em que ele trabalhou não são 10% do Palmeiras. A gente sabe o quanto o Palmeiras é importante para ele. Queremos que continue", disse Dudu.

Ficar ou não é uma questão incerta. Antes mesmo da decisão de sábado e a vitória por 2 a 1 sobre o Flamengo, a presidente eleita Leila Pereira havia sinalizado o desejo de o português continuar.

Abel tem evitado se comprometer com isso. Precisa pensar. Para quem trabalha na Academia de Futebol, o trecho mais significativo de sua entrevista pós-título foi quando disse se sentir exausto, tanto no físico quanto no mental. Porque a intensidade com que vive o futebol foi algo que funcionários do clube poucas vezes haviam visto.

Eles se lembram que o treinador passou um mês obcecado com as quartas de final da Libertadores contra o São Paulo. Abel havia se incomodado bastante com as críticas recebidas depois da derrota para o mesmo adversário na final do Paulista.

O português se dedicou, quase 24 horas por dia, à ideia de provar ser melhor que o então técnico do rival, Hernán Crespo. No Morumbi, as equipes empataram em 1 a 1, mas no Allianz Parque, o Palmeiras fez 3 a 0 e avançou.

Um integrante da diretoria confessa ter sorrido ao ouvir a frase do português, após a conquista da Libertadores. Segundo o cartola, as palavras "paixão", "orgulho" e "limite" descrevem bem a maneira como o treinador trabalha.

"Faço o que gosto com paixão, com alegria, com orgulho e, por vezes, muito cansado, muito exausto. Estou no meu limite mental", explicou Abel.

Já seria assim normalmente, mas ele se queixou mais de uma vez de que o calendário brasileiro, com duas ou até três partidas por semana, potencializa o cansaço. As últimas semanas foram vividas com o mergulho em análises da equipe do Flamengo, na maneira de pensar de Renato Gaúcho, seu adversário, e em consultas à montanha de blocos de anotações que o técnico mantém em sua sala. São análises e lembranças sobre o histórico no clube, de jogos e atletas.

Não à toa o treinador se identificou com o diretor de futebol Anderson Barros. Disse ter sido o melhor com o qual já trabalhou. Ambos possuem arquivos cada vez maiores com anotações e lembretes. Quando Abel foi contratado, em 2020, Barros tinha dados sobre o português em seus blocos.

Escrever, e o jeito como faz isso, se transformou, na Academia de Futebol, também em alerta para os funcionários. Se Abel Ferreira puxa um pedaço de papel e começa a rabiscá-lo durante uma entrevista coletiva, já se sabe: está irritado.

Um dos argumentos no clube para acreditar na continuidade do trabalho é a lembrança de Jorge Jesus e como o mercado de técnicos no Brasil ainda é visto na Europa. Recordam-se que Jorge Jesus ganhou com o Flamengo, em 2019, Brasileiro, Libertadores e levou o Liverpool (ING) ao limite na final do Mundial de Clubes.

Mesmo assim, o único clube de porte que se interessou por ele foi o Benfica (POR), onde já havia trabalhado e tido sucesso.

Há também a lembrança de que o Mundial vai acontecer em três meses, o que pode significar mais um momento histórico para o Palmeiras e para Abel. Ele teria a chance de cruzar o caminho do Chelsea (ING) e medir forças com o alemão Thomas Tuchel.

E provar ser melhor que o treinador campeão da Champions League pode ser uma tentação irresistível.


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