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Pais e Filhos, alicerce seguro para comemorar


Por Flávio Lauria

10/08/2022 12h30 — em
Espaço Crítico


Imagem: Ilustrativa/Pixabay

Não gosto de repetir artigos, me deparo mais uma vez com o Dia dos Pais, que pode ter sido criado comercialmente ou não, o fato é que sempre faço algum escrito para essa data tão importante embora todo dia seja o dia dos pais.

Perdi meu pai, quando ele tinha apenas 56 anos, se ainda permanecesse conosco, estaria no ano de seu centenário. Só agora, no silêncio e quietude da noite, me dei conta que nunca lhe escrevi uma carta. Se as palavras faladas tivessem consciência do mal que podem fazer – pela ingratidão que fazem – seriam sufocadas de remorso na garganta e a linguagem humana seria toda feita de soluços, como afirmava Guilherme de Almeida, o príncipe dos poetas, e as escritas, mais perigosas e mordazes, porque permanentes, quedar-se-iam imunes ao convite do papel em branco. Aquelas são folhas dançantes para o brinquedo do vento.

Meu filho mais novo, Gabriel, sempre foi dado a escrever bilhetinhos e deixar embaixo da porta de meu quarto, quase sempre era para pedir para ir pro computador, isso me deixava tão alegre, mas não demonstrava, que bobagem minha? Lembro do meu pai que mais forte e significativo que palavras de estimulo, apoio e carinho, foi seu exemplo de vida e retidão de caráter. Não admitia deslize em termos de corrupção, de desonestidade. Como sofreria se vivesse nos tempos atuais presenciando o espetáculo vergonhoso com que nos “presenteia”, sem pudor, a maioria de nossos homens públicos! Sua preocupação com os filhos não se estendia apenas aos dias futuros – era presente nos mínimos gestos. Privava-se do que mais gostaria de ter para que tivéssemos o que ansiávamos possuir.

Não sabia jogar futebol, mas adorava o esporte porque os filhos faziam-no bem (modéstia à parte). Nas partidas, ficava à margem do campo. Coitado do juiz que anulasse um gol injustamente contra nosso time ou do adversário que nos atingisse violenta e covardemente. Mas hoje faço uma homenagem como pai e avô, uma reflexão de todos estes anos de convivência, ensinamentos e aprendizado; e de esperança em construir um alicerce seguro que possa suportar para sempre, em qualquer época, os solavancos desta vida, para que sejam sólidos de educação, caráter, dignidade, honra, respeito ao próximo e religiosidade. Deste modo, quantas vezes gostaria de ser melhor para vocês e simplesmente não consigo. Por ignorância ou, quem sabe, por temor à incerteza, não questionamos nossos conceitos, ao contrário, tendemos a continuar acreditando no que cremos.

Com relação à questão dos papéis masculino e feminino, parece haver uma recusa das instituições – que nas suas ações manifestam o pensamento da sociedade – em perceber que a imagem de gênero, assim como a de muitas outras, é constituída sobre uma pequena seleção de fatos verdadeiros e falsos, que se expandem com grandeza desmesurada e formam uma estampa que não corresponde à humanidade da mulher e do homem. Explica-se, desta forma, o fato corriqueiro nas situações de separação e divórcio: na imensa maioria dos casos, é dada à mulher, por uma questão de gênero, a guarda dos filhos. Os homens, mesmo que aptos e desejosos de manterem os filhos consigo, também por uma questão do gênero, têm negado este direito que, em tese, lhes é assegurado.

Mas sobre os filhos lembro quantas vezes permaneci acordado até tarde da noite à espera de febre baixar, ou do telefone tocar avisando que a festinha ou o show terminou. Quantas vezes sofro com vocês, quando em alguma esquina da vida trombam de frente com uma decepção ou desilusão. Quantas vezes sou chato por orientá-los insistentemente sobre uma conduta saudável e responsável, ou tento avisá-los de situações de risco, como se pudesse evitar que aprendam doloridamente com os próprios erros.

Quantas vezes fui e sou superprotetor, na ilusão de que poderei poupá-los de trafegarem por estradas mal sinalizadas, esburacadas, escorregadias e com curvas perigosas, na inocente pretensão de protegê-los da vida. Quantas vezes, nas dificuldades da vida, deparo-me com situações onde é preciso tomar decisões, e rejeito enveredar pelo caminho mais fácil e lucrativo que põe em prova a integridade de meu caráter, a minha dignidade e honestidade, para assim, reencontrar com vocês com a cabeça erguida, e deste modo olhar fundo nos seus olhos, sem a cortina da vergonha e da culpa a nos separar.

Quantas vezes preciso ser firme e colocar limites nestas vidinhas, para ensiná-los que o mundo é infinitamente maior que nosso lar, e que vocês têm que aprender a viver em coletividade, respeitando o próximo e sabendo que não são seus todos os doces da bonboniere. Quantas vezes no ímpeto de protegê-los tomo para mim o leme desta embarcação e passo para vocês a imagem de herói, de que sou o maior, o único que pode mantê-los em segurança; perdendo a oportunidade de ensiná-los que somente em Deus encontraremos infalibilidade, segurança, proteção e forças para resistir. Somente n'Ele que é Pai dos pais, das mães, dos filhos e de toda a humanidade.

Quantas vezes poderia ter feito mais! Ter sido mais amigo, entusiasta, confidente, companheiro, cúmplice, disciplinador, participativo, compreensivo. Não importa a idade de nossos filhos, ainda é tempo de recomeçar, arregacemos as mangas e mãos-à-obra. Sinto-me orgulhoso meus filhos, por ser pai de vocês. E aos meus netos como sinto que também sou pai deles, curti desde o nascimento, até a idade de hoje de 15 anos, sendo um avô que não dispensa falar de sacanagens, mas que adora quando é beijado e abraçado, sentindo-me importante por ser pai do pai deles. Fernando Pessoa, em O Eu Profundo e Outros Eus, mobiliza nossos sentimentos de compaixão por todos os filhos sem pai e especialmente pelo pequeno Jesus, quando diz: “Nem sequer o deixaram ter pai e mãe como as outras crianças; seu pai era duas pessoas: um velho chamado José, que era carpinteiro e não era pai dele; o outro era uma pomba estúpida, a única pomba feia do mundo porque não era do mundo, nem era pomba...Dedico esse artigo especialmente ao Rafael, Gabriel, filhos, e a Matheus e Bernardo, também filhos porque netos são mais que filhos. Para aqueles que perderam seus pais por essa pandemia, ou recentemente ou não, mas que nunca são esquecidos desejo a todos um 

FELIZ DIA DOS PAIS.

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