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Rumo inaugura operação da ferrovia Norte-Sul

Por Folha de São Paulo

04/03/2021 20h35 — em
Economia



RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS) - A inauguração do trecho da ferrovia Norte-Sul entre São Simão (GO) e Estrela D’Oeste (SP), nesta quinta-feira (4), fará com que a concessionária Rumo tenha conexões nos seis principais estados produtores do país, além de ligá-la à Malha Paulista.

O trecho, de 172 quilômetros, operava em fase de testes desde a segunda semana de fevereiro e será o primeiro da Malha Central da Rumo, após investimento de R$ 711 milhões —no terminal, em pontes e em dezenas de quilômetros de trilhos.

A Norte-Sul é uma ferrovia cuja história se arrasta desde a década de 1980. Em 13 de maio de 1987, a Folha de S.Paulo publicou reportagem de Janio de Freitas que mostrou que a concorrência para a construção da ferrovia tinha sido uma farsa. De forma cifrada, o resultado das empresas vencedoras tinha sido publicado cinco dias antes.

Além disso, até 2017 a ferrovia já tinha consumido R$ 28 bilhões em valores corrigidos pela inflação e órgãos de controle e fiscalização estimavam que pelo menos um terço tinha sido superfaturado.

Cinco anos antes, a PF (Polícia Federal) deflagrou operação que revelou corrupção nas obras feitas pela Valec, estatal que detinha a concessão da ferrovia.

As obras atrasaram porque houve troca de executivos e centenas de pendências com o TCU (Tribunal de Contas da União) tiveram de ser resolvidas para que o embargo às obras fosse suspenso. Contratos foram refeitos para que os sobrepreços fossem cancelados.

A rota entre São Simão e o porto de Santos será feita com trens de 120 vagões, e não mais de 80, o que significa mais eficiência, com ganhos em emissão de gases e economia de combustível. Cada composição passou de 1,5 km para 2,2 km de comprimento.

“É emblemática porque a ferrovia, principalmente para grandes distâncias –essa é de mais de 1.500 quilômetros–, tem uma série de benefícios. O Brasil tomou a decisão nas últimas décadas de privilegiar rodovias, isso não só traz custo para o processo produtivo, mas também mais emissão de carbono, estradas, manutenção, acidentes. O Brasil é o único país continental, se formos pegar os maiores do mundo, que não tem uma malha ferroviária adequada”, disse João Alberto Abreu, presidente da Rumo Logística.

O trecho total tem 1.537 quilômetros, entre Porto Nacional (TO) e a cidade paulista, e foi concebido para ser uma espécie de espinha dorsal do sistema ferroviário no país, permitindo a conexão com outras malhas ferroviárias. Um outro trecho da ferrovia já está em operação, entre Açailândia (MA) e Porto Nacional (TO), sob concessão da VLI.

A Norte-Sul possibilitará, ao chegar a Estrela D’Oeste, a conexão com a malha paulista, também operada pela Rumo, que obteve em 2020 a renovação antecipada da concessão, que agora vai até 2058 –com a obrigatoriedade de investir R$ 6 bilhões.

O terminal ferroviário foi construído em parceria com a Caramuru, que já é sócia da concessionária em Santos, e terá capacidade de escoar até 5 milhões de toneladas por ano.

Com a nova rota, as operações da concessionária chegarão a Mato Grosso, Paraná, São Paulo, Rio Grande do Sul, Goiás e Mato Grosso do Sul, principais produtores do país, e a um total de 14 mil quilômetros de ferrovias, ligando aos principais portos.

O modal ferroviário é responsável por transportar 15% das cargas no Brasil, muito inferior aos índices de países como EUA (43%) e Rússia (81%), conforme dados da ANTF (Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários).

“Qualquer grande nação, China, EUA, Austrália, opera com 40% no modal ferroviário. É a oportunidade de começar a reverter essa situação num país continental, que tem produção distante dos seus portos de escoamento, precisando de logística eficiente para colocar seus produtos no destino com velocidade, eficiência e custo baixo. O Brasil está numa posição bastante robusta no agronegócio e o desafio agora é tirar mais de 50 anos de atraso na infraestrutura e o sistema ferroviário é um deles”, afirmou o presidente da Rumo.

A empresa venceu o leilão do trecho da Norte-Sul em março de 2019 com um lance de R$ 2,719 bilhões, considerado agressivo pelo mercado, já que o valor do pagamento ao governo federal ficou 100,9% acima do mínimo exigido pelo edital. Até então, a ferrovia estava nas mãos da estatal Valec.

“A malha central tem hoje perspectiva até melhor do que prevíamos quando fizemos o lance. Goiás tem um plano de crescimento ambicioso, uma série de produtos e projetos que não estavam mapeados começaram a ser desenvolvidos. Esse tipo de investimento faz com que outros negócios fomentem uma série de outras coisas. Provavelmente daqui a dois anos terá oportunidade de minério também. Estamos bastante confiantes com o potencial dessa nova operação”, disse Abreu.

O contrato com o governo foi assinado em 31 de julho de 2019 e estipulava como prazo para o início das operações 1º de agosto deste ano.

Além do terminal aberto oficialmente nesta quinta, outros dois, em Rio Verde (GO) e Iturama (MG), serão inaugurados. Na cidade goiana, a previsão é que ocorra até junho, também para operar grãos e fertilizantes, e, no município mineiro, no fim do primeiro semestre do próximo ano (açúcar).

O segundo trecho da concessão da Rumo na Norte-Sul será até Rio Verde e o terceiro, até Porto Nacional.

Abreu, da Rumo, afirma que ainda faltam investimentos importantes nesses trechos. "O que decidimos fazer foi colocar de pé esse pedaço mais ao sul, que era a parte mais complicada em função das grandes obras. Partimos para o trecho 2 e na sequência vamos concluir alguns investimentos no trecho 3. Esse é o plano de investimento do sul em direção ao norte.”

Segundo ele, a pandemia provocou queda em 2020 na demanda em alguns produtos, especialmente no segundo trimestre, mas o agronegócio seguiu com demanda. “Grãos, açúcar, celulose, essa é uma economia que continua forte, continua trabalhando.”

De acordo com o executivo, o setor ferroviário precisa aproveitar o momento de “disponibilidade” do governo federal para contar com a iniciativa privada para tocar os projetos.

“O país vive um desafio fiscal muito grande e a iniciativa privada tem condições de regras claras de longo prazo, com marco legal, com segurança jurídica, fazer os investimentos necessários que o país precisa", disse.

"Essa parceria precisa continuar. A malha central é um exemplo disso. Uma obra que vinha sendo tocada pelo governo, mais de 30 anos, e não era concluída.”

O ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, que participou da inauguração ao lado do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), disse que poderá sair, no próximo mês, a extensão da malha norte da Rumo, ligando Rondonópolis (MT) a Lucas do Rio Verde (MT). A ferrovia atualmente liga Aparecida do Taboado (MS) a Rondonópolis.

De acordo com ele, será preciso que o Senado autorize e, se isso ocorrer, a sanção e autorização para as obras poderão sair no mesmo dia. Ele afirmou acreditar que seja possível fazer o processo em abril e que isso destravaria mais R$ 8,5 bilhões em investimentos.​

Se a proposta, que é desejo da Rumo, prosperar, ela poderá buscar cargas no norte de Mato Grosso e implementar um ramal para Cuiabá.

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