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'Dúvida é se recuperação em V continua', diz José Márcio Camargo

Por Folha de São Paulo

03/12/2021 3h36 — em
Economia



CURITIBA, PR (FOLHAPRESS) - Ao contrário do que possa parecer em uma avaliação preliminar, o recuo de 0,1% no PIB (Produto Interno Bruto) do terceiro trimestre aponta para uma recuperação mais rápida do que se antecipava, segundo avaliação do economista-chefe da Genial Investimentos, José Márcio Camargo.

Para ele, o setor de serviços deve continuar reagindo ao longo do ano que vem, caso a pandemia fique sob controle no país.

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PERGUNTA - A estagnação nos últimos trimestres é um sinal de dificuldades em 2022?

JOSÉ MÁRCIO CAMARGO - Se olharmos o resultado do PIB, ele está estagnado. Mas se considerarmos a parte mais geradora de empregos do PIB, ela cresce de forma robusta. Não sei se tem um nome para isso, mas a pergunta que é difícil de ser respondida é o que vai acontecer em 2022. Isso depende fundamentalmente do comportamento da pandemia.

Se tivermos mais redução do número de óbitos e de casos, o setor de serviços vai continuar crescendo e isso vai ser positivo para o crescimento do PIB em 2022. Em caso de reversão do comportamento da pandemia, se tivermos que fazer novos lockdowns, isso vai ter impacto na recuperação dos serviços, principalmente aqueles ligados à alimentação e viagens.

P. - A recuperação em 'V' aconteceu, como previa o ministro da Economia, Paulo Guedes?

JMC - A recuperação em 'V' aconteceu, a pergunta é se ela vai continuar. Estamos com o nível de PIB praticamente recuperado e pouca gente estava prevendo a volta do PIB em tão pouco tempo. A inflação pode ser prejudicial. Se ela continuar acelerando, vai gerar queda na massa salarial, com redução da demanda e do crescimento.

P. - Se essa velocidade surpreende, o que faz o nível de confiança na economia estar mais baixo agora do que há três meses?

JMC - É paradoxal, tivemos duas quedas seguidas do PIB (de -0,3% no segundo trimestre e de -0,1% no terceiro), alguns chamam isso de recessão técnica. Mas é curioso, pois ao olhar os dados de mercado de trabalho, ele está gerando postos de forma dinâmica. O desemprego saiu de perto de 15% no primeiro trimestre para abaixo de 13% em setembro, apesar de supostamente estarmos em uma recessão técnica.

P. - Mas a recuperação de postos de trabalho, por exemplo, não ocorre com uma queda na renda?

JMC - Sim, mas a maior parte da queda da renda está ligada ao fato de que os setores que estão gerando empregos (como a construção e outros serviços), são intensivos em mão de obra pouco qualificada, com salários mais baixos que a média. Como os novos empregos gerados são concentrados nesses setores, o salário médio da economia acaba caindo. Tanto é assim, que a massa salarial está basicamente estável, o valor do salário pelo total de postos de trabalho gerados não mudou muito.

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RAIO-X

JOSÉ MÁRCIO CAMARGO, 74

Doutor em economia pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology) e graduado em economia pela Universidade Federal de Minas Gerais, foi professor do Departamento de Economia da PUC-Rio e é economista-chefe da Genial Investimentos​


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