Dólar cai e Bolsa sobe firme, com retomada de apostas de corte maior nos juros dos EUA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O dólar apresenta queda firme nesta sexta-feira (13), com investidores voltando a debater sobre o tamanho do corte que o Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) deverá fazer na taxa de juros.
As autoridades da política monetária se reunirão na semana que vem, entre os dias 17 e 18 de setembro, e o mercado especula se a redução será de 0,25 ou 0,50 ponto percentual.
Às 11h34, o dólar caía 0,91%, cotado a R$ 5,565, em movimento global de desvalorização. Já a Bolsa avançava 1,17%, aos 135.610 pontos, com apoio da Vale e da Petrobras.
Os mercados ajustavam apostas sobre a política monetária dos Estados Unidos nesta sexta-feira, a poucos dias da reunião do Fed que deverá dar início ao tão aguardado ciclo de afrouxamento nos juros. A taxa está na faixa de 5,25% e 5,50% desde junho de 2023 o patamar mais restritivo em duas décadas.
Ao longo da semana, dados de inflação ao consumidor acima do esperado para agosto e números benignos no mercado de trabalho, como nos pedidos de auxílio-desemprego, haviam consolidado as previsões em torno de uma redução de 0,25 ponto percentual.
As apostas de uma redução de 0,50 ponto, porém, voltaram a ganhar espaço entre os operadores.
Isso porque o presidente do Fed de Nova York, Bill Dudley, afirmou que há um forte argumento a favor do corte mais acentuado, apontando que os juros estão de 1,50 a 2 pontos percentuais acima da chamada "taxa neutra", na qual a política monetária não restringe nem estimula a atividade econômica.
Além disso, artigos publicados nos jornais The Wall Street Journal e Financial Times levantaram a hipótese de que a decisão do Fed está mais incerta do que os mercados até então vinham projetando.
Até o fim dos pregões na quinta-feira, o corte de 0,25 ponto reunia 87% dos agentes financeiros, segundo a ferramenta FedWatch, com os 13% restantes centrados na redução de 0,50. Agora, as proporções são de 57% e 43%, respectivamente.
O Fed trabalha com um mandato duplo, isto é, observa de perto os dados de inflação e trabalho para decidir sobre os juros. O objetivo é atingir o chamado "pouso suave", quando índices inflacionários convergem para a meta sem maiores danos à empregabilidade do país.
Um corte de 0,50 ponto permitiria ao Fed retornar os custos de empréstimos a níveis normais mais rapidamente, removendo restrições à economia e protegendo o mercado de trabalho de mais fraqueza.
Krishna Guha, vice-presidente da Evercore ISI, disse ao Financial Times que esse movimento "tomaria menos risco com a aterrissagem suave".
Da outra ponta, porém, poderia gerar interpretações de que o banco central está preocupado com a perspectiva econômica, levando os mercados financeiros a precificar uma redução mais dramática nas taxas.
"Pode-se argumentar por 0,50 ponto, mas as comunicações em torno disso são complicadas e não há uma razão convincente para assumir esse desafio", disse Loretta Mester, que se aposentou como presidente do Fed de Cleveland em junho.
A retomada da incerteza em relação ao tamanho do corte derrubava os rendimentos dos Treasuries, os títulos ligados ao Tesouro dos EUA, o que tornava o dólar menos atrativo para investimentos globalmente.
Para o real, há ainda outro fator de relevância: a discussão em torno da taxa básica de juros do Brasil, a Selic, atualmente em 10,50% ao ano.
Desde a última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), em julho, dirigentes do BC (Banco Central) têm reiterado que um novo ciclo de aperto está à mesa para levar a inflação de volta ao centro da meta, caso os dados macroeconômicos indiquem necessidade.
O comitê trabalha com a meta de inflação em 3%, definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional, órgão ligado ao Ministério da Fazenda) e com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo. A taxa básica de juros é o principal instrumento do BC para controlar a alta de preços.
Na terça-feira, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostrou que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), indicador oficial do país, teve queda de 0,02% em agosto. No acumulado do ano, passou a registrar uma inflação menor, de 4,24% uma desaceleração dos 4,5% de julho, o teto da meta do BC.
A deflação não reverteu apostas de que a Selic irá subir 0,25 ponto já na próxima reunião do BC, também marcada para os dias 17 e 18 de agosto. A percepção do mercado foi reforçada com dados do setor de serviços, divulgados pelo IBGE na quarta, e vendas no varejo, na quinta.
Já nesta sexta, os dados do IBC-Br (Índice de Atividade Econômica do BC), considerado uma espécie de "prévia" do PIB, mostrou que a economia brasileira recuou 0,4% em julho em comparação ao mês anterior. O resultado marcou uma forte perda em relação a junho, quando houve avanço de 1,4%, mas ainda assim foi melhor do que a expectativa em pesquisa da Reuters de queda de 0,9%.
O dado indica "um nível de atividade ainda forte, o que reforça o cenário de alta em 0,25 ponto na Selic", diz Patrícia Krause, economista-chefe para a América Latina da Coface.
Quanto maiores os juros no Brasil e menores nos Estados Unidos, melhor para o real, que se torna mais atraente para investimentos de "carry trade" isto é, quando investidores tomam empréstimos a taxas baixas e aplicam recursos em moedas de países de taxas altas, para rentabilizar sobre o diferencial de juros.
Já na cena corporativa, Vale tinha ganhos de 1,35%, mesmo com queda do minério de ferro na China, que teve desempenho positivo no acumulado da semana.
Os papéis preferenciais e ordinários da Petrobras avançavam 0,70% e 0,66%, respectivamente, com apoio da alta dos preços do petróleo no exterior.
O Ibovespa ainda se beneficiava do alívio nas curvas de juros futuros, causado tanto pelo dado do IBC-Br, quanto pela queda nos rendimentos dos Treasuries nos EUA.
O movimento favorecia ações de empresas mais sensíveis a juros, como Magazine Luiza, em alta de 4,92%, e Lojas Renner, subindo 3,10%.
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