BRASÍLIA - Diante do impacto das prisões de amigos íntimos do presidente Michel Temer, o senador Randolfe Rodrigues, líder da Rede pelo Amapá, vai protocolar um pedido de impeachment contra o chefe do Executivo assim que tiver acesso ao conteúdo dos pedidos da Procuradoria Geral da República que embasaram as decisões do ministro do Supremo Tribunal Federal Luis Roberto Barroso. Elas seguem em segredo de Justiça.

— Pelo que já se colocou, é improvável que o presidente não tenha ligação próxima com essas prisões. Tão logo tivermos acesso ao conteúdo das decisões que confirmem as suspeitas, a oposição vai apresentar um pedido de impeachment contra Temer.

Nos cálculos do senador, Barroso vai tornar os documentos públicos já na semana que vem. Mas isso pode não acontecer tão cedo. É comum que, em operações policiais como a realizada nesta quinta-feira, os pedidos do Ministério Público Federal (MPF), da PF e as decisões da Justiça sejam tornadas públicas logo após a PF ir às ruas. O inquérito relatado pelo ministro, porém, é conduzido sob sigilo no STF. Nenhuma medida cautelar perdeu o segredo, como a quebra do sigilo bancário do presidente e de seu entorno. E pode ser que não perca tão cedo.

O procedimento investiga se Temer e seus amigos praticaram crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e associação criminosa. Um decreto assinado pelo presidente em 2017 teria beneficiado empresas na área de portos, conforme as investigações.

Quando um pedido de impeachment chega à Câmara dos Deputados, cabe ao presidente da Casa, em decisão monocrática, aceitar e colocar para apreciação ou simplesmente rejeitá-lo.

Apesar de ser aliado do governo federal, o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), que preside a Câmara, agora é pré-candidato à Presidência da República e potencial adversário nas urnas de Temer, que pretende se lançar à reeleição.

Lideranças avaliam que um pedido de impeachment ou uma eventual denúncia da PGR contra o presidente traria impactos na agenda do Congresso Nacional. O deputado Marcos Montes, vice-líder do PSD na Câmara, indica que não seria tão fácil salvar Temer de novo.

— É uma pena, mas é claro que vai ter impacto. Já vivemos um ano tumultuado no ano passado. Acreditávamos que adiar a investigação (ao rejeitar duas denúncias) contra Temer traria uma recuperação da economia, como de fato trouxe. Hoje, o quadro econômico é mais estável e (aceitar denúncia contra Temer) não teria esse comprometimento tão forte.

Para o líder do PP na Câmara, deputado Arthur Lira (AL), os episódios causam preocupação.

— Não é agradável, mas temos que entender qual foi a necessidade de ter prendido essas pessoas. Disseram que poderia ser só porque está proibida a condução coercitiva. Esse episódio gera a expectativa de uma terceira denúncia e isso não seria muito bom.

E conclui, indicando eventual paralisia no Legislativo.

— Este ano, o Congresso não consegue trabalhar em sua plenitude e, se vier um tema como esse, a pauta será só essa.

Já para Darcísio Perondi, vice-líder do governo na Câmara, a prisão de amigos de Temer terá “impacto pequeno”.

— Claro que chateia, mas o impacto será pequeno, porque vem atrás de uma notícia requentada. São coisas montadas. Os deputados vão comentar por 10, 15 dias e depois acaba o assunto.

Sobre o impacto na pré-candidatura de Temer, o vice-líder avalia que não tira o gás “porque ela ainda nem começou”.

— O PMDB é o único partido que tem duas pré-candidaturas presidenciais. A do presidente Temer e, à partir de terça-feira, a do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Quem estiver melhor posicionado vai concorrer pelo PMDB — declarou Perondi.