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Quem são os criminosos? Deltan e Moro ou os que assaltaram o País?


Por Raimundo de Holanda

25/07/2023 22h17 — em
Bastidores da Política


  • Não é possível admitir, em sã consciência, que aqueles que eram chamados de "paladinos da justiça", venerados por toda a imprensa, que hoje também se volta contra eles, sejam transformados, por interesses políticos do momento, nos verdadeiros foras da lei e não os que eles caçavam em nome da redenção de um País inteiro.

A decisão do Ministério da Justiça em determinar que a Polícia Federal passe “um pente fino” nos acordos feitos por procuradores da Lava Jato com outros países (que resultaram na recuperação de bilhões de reais desviados por empresários com aval de gestores públicos brasileiros, mediante propina), remete a uma reflexão:  era  ou não necessário avançar sobre entraves burocráticos ou legais para escancarar a roubalheira que ocorria no Brasil?  Invés de focar nos empresários e agentes públicos que roubaram escandalosamente o País, o novo governo se volta contra procuradores que pecaram pelo excesso, mas contribuíram de forma decisiva para mostrar o tamanho do assalto. Melhor, avançaram a tal ponto que os assaltantes não apenas se entregaram e entregaram seus cúmplices, mas devolveram cerca de R$ 25  bilhões aos cofres públicos.

O que estão fazendo com Deltan e Sérgio Moro não é apenas cruel. É um processo de destruição  lenta mas progressiva de dois homens que cumpriram um papel importante na história do País.

Mais curioso é que a imprensa profissional, que se gaba de fazer o bom jornalismo, aplaude medidas arbitrárias do atual governo, ou as confusas e contraditórias decisões do sistema de justiça, que aos poucos inocenta os que admitiram crimes. 

O risco é essas pessoas em algum momento reivindicarem a devolução do produto do roubo à mesma justiça que hoje diz que as ações movidas contra eles padecem de vícios. Como não devolver?

O que aconteceu com o Brasil nos últimos quatro anos? Por que acusados que assumiram seus crimes estão fora da cadeia e livres das acusações? Por que houve falha processual? Porque juiz e procurador andavam na mesma linha? Não basta.  Mas é preciso um basta nessa perseguição ao ex-juiz Sérgio Moro e aos procuradores da Lava Jato. 

Não é possível admitir, em sã consciência, que os paladinos da  justiça, venerados por toda a imprensa, que hoje também se volta contra eles, sejam transformados, por interesses políticos do momento,  nos verdadeiros foras da lei e não os que eles caçavam em nome da redenção de um País inteiro. Não foram eles  que desviaram vultosas quantias dos cofres públicos, organizaram-se para a prática de ilícitos, lavaram capitais através de grupos econômicos de renome ou que foram obrigados a fazer acordos de leniência. Foram políticos que estão aí. Foram empresários que continuam alimentando a política ou fazendo negócios com políticos e governos.

A ordem dos interesses se inverteu. Os ex-paladinos agora são tratados como foras da lei. Antes acusavam agentes públicos  de desvio de finalidade, de abuso de poder. Hoje ocorre uma inversão de valores e princípios. Qual a razão? O interesse público e a justiça? certamente essa não é a resposta correta.

O certo é que houve corrupção, houve desmonte de patrimônio público, houve desvio de recursos públicos.

Falhas de procedimento são corrigíveis, mas o que o sistema de justiça fez foi reescrever a história de  atrás para frente, em letras garrafais. O que o atual governo está fazendo é uma caça as bruxas, uma perseguição atroz aos que tentaram salvar o País. O Brasil é assim…

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ASSUNTOS: Corrupção, Deltan, Lava Jato, Sérgio Moro

Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.