Compartilhe este texto

O ouro roubado em Manaus: Coronel da PM ameaçava: 'Se for preso, quando sair vou caçar um por um'


Por Raimundo de Holanda

12/07/2021 20h30 — em
Bastidores da Política



Estou indo até a Polícia Federal prestar depoimento e, caso seja preso, vou cumprir  a pena e depois que sair vou caçar um por um“. A frase ameaçadora, enviada por meio de um aplicativo de mensagens, é do coronel Daniel Piccolotto, e revela o temor de acabar denunciado pelo homem que nele confiara para o transporte de 38 quilos de ouro pela BR 319 e que resultou, na sexta-feira, na Operação "Ouro Urbano”, deflagrada pelo  MP-AM-GAECO com apoio  da Polícia  Federal.

Heliomar Moura Ribeiro, o proprietário do ouro, que recebeu a ameaça de Piccolotto, disse à policia que na mesma mensagem de WhatsApp, o coronel advertiu: “‘Você é até gente boa, mas sai fora, se afasta do Júnior (Raimundo José Cruz Junior) ou o negócio vai feder". Júnior é sócio de Heliomar em uma negócio ainda obscuro de exploração de uma jazida de ouro na divisa do Amazonas com  Porto Velho.

Mas este é apenas um capítulo de uma história  que mostra o quanto o governo do Amazonas e a instituição policial degeneraram. O ouro apreendido em uma batida programada, nos moldes de assaltantes comuns, foi parar na Secretaria de Inteligência, onde nenhum auto foi lavrado.

O coronel, que na verdade atuava como segurança no transporte do metal, disse em depoimento à Polícia Civil, dias depois, que todo o material apreendido ficou na Secretaria de Inteligência, onde assinou um termo sem ler. Mentiu. Na verdade parte do ouro ele levou na sua Pick up S 10.

Diante do fato de o proprietário ir à policia e fazer a denúncia, Piccolotto marcou um encontro com Heliomar no Batalhão de Cavalaria da Polícia Militar, onde devolveu 11 barras, menos de 20% do produto roubado, com a advertência de que era necessário deixar tudo como estava, porque “ tem pessoal da  Secretaria de Inteligência envolvida."

Na prática, os assaltantes, agentes do Estado, utilizaram da estrutura desse mesmo Estado para assaltar. Primeiro, usando o aparato da Secretaria de Inteligência; depois, um Batalhão da Polícia Militar, para “generosamente" devolver parte do ouro roubado.

Dizer que é um caso de polícia é pouco. É um caso de inversão do papel da Policia. Um caso que envergonha o Estado do Amazonas como um todo.

Mas tem o lado bom da história: o delegado que teve a coragem de indiciar o coronel e enviar um relatório para as autoridades de comando. Entretanto, nada avançou. Nem poderia. A Inteligência do Estado estava envolvida.

E quem mais?  Neste ponto o Ministério Público já havia ouvido testemunhas e monitorava os envolvidos. Agora tem um peixe grande na mira.

Siga-nos no


Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.