O gatilho que faz a violência explodir em Manaus
Os 20 homicídios praticados em um único dia em Manaus acenderam o sinal vermelho na Secretaria de Segurança Pública, que se apressou em montar uma força-tarefa para investigar os crimes. Não vai dar em nada, mas a medida sinaliza que há uma força de segurança que não está inerte, embora pouca coisa ou nada possa fazer. A razão é simples: a violência é motivada pelo ciúme, pela desconfiança, pelo desejo de obter o que não é seu, pela intriga, pelo ódio ou pelo poder do dinheiro.
Culpar a policia pelo que tem origem na sociedade - em casa, na relação marido-mulher, entre vizinhos ou em outras disputas, é deixar de buscar o remédio que pode, lá frente, amenizar o problema: a educação - instrumento pelo qual passamos a conhecer o mundo e a conhecer nossos limites e a necessidade de controlar nossos medos, nossos desejos, evitando o gatilho que é disparado antes da bala: o descontrole e o desejo de matar.
Se olharmos para trás, de 2019 até março deste ano foram registrados em todo o Estado do Amazonas 3.759 homicídios. Destes, menos de 200 tiveram seus autores identificados. Culpa da polícia, que alimenta a impunidade? Talvez. Mas não apenas da policia. A sociedade vem se omitindo - especialmente se o crime é praticado em razão de uma justiça imediata, na qual um homem flagrado roubando é imediatamente linchado e morto. São casos em que os assassinos são muitos, até identificáveis em videos, mas em nome da 'justiça pública", das redes sociais e do WhatsApp, são ignorados.
Voltando à questão da educação, ela não gera apenas confiança, conforto, estabilidade. Ela também propicia uma sociedade mais justa, mais cooperativa, mais humana, menos violenta.
Não é a policia, definitivamente, que vai estabelecer uma trégua nessa guerra urbana onde entra tráfico, ciúme, ódio, desconfiança, inveja, desejo. É uma educação de qualidade, é a formação de uma geração que parece já nascer perdida por nossa culpa, nossa omissão.
E por que somos culpados? Porque o dinheiro destinado à educação no Brasil é grande, mas mal aplicado e em grande parte, desviado. Por que elegemos governos que fazem da educação um balcão de negócios.
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Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.