CPI da Covid mira Bolsonaro, que manda PGR enquadrar governador do Amazonas
- Agindo com os instrumentos do Estado que ainda consegue manipular, o presidente fez a Procuradoria Geral da República encaminhar ao governador do Amazonas, Wilson Lima, um ofício com perguntas constrangedoras: "onde colocou o dinheiro federal enviado para combater a Covid? "
No mesmo dia em que o decreto que flexibiliza o funcionamento do comércio, das academias e dos balneários é divulgado pelo governo do Amazonas, um dado preocupante aparece no boletim diário da Fundação de Vigilância em Saúde: o número de mortos por Covid 19 chegou a 25, oito ocorridos no dia 18/04 e 17 "encerrados por critérios clínicos” - a forma eufemística como o governo explica os óbitos que vão sendo represados e “levemente" divulgados para passar a impressão de que o risco maior foi superado. Mas é uma estratégia perigosa, equivocada, e que causa entrave ao diagnóstico, a prevenção e o tratamento de uma doença grave, que ja matou quase 13 mil pessoas no Estado.
Wilson Ilma é um dos governadores com mais possibilidades de se encrencar na CPI da Pandemia, que será instalada esta semana no Senado. É estratégia do governo Bolsonaro não permitir que o general Pazuello, ex ministro da Saúde, responda sozinho pela omissão que resultou na falta de oxigênio em Manaus e provocou pelo menos 40 mortes por asfixia.
Agindo com os instrumentos do Estado que ainda consegue manipular, o presidente fez a Procuradoria Geral da República encaminhar ao governador um ofício com perguntas constrangedoras: "onde colocou o dinheiro federal enviado para combater a Covid? "
Claro, outros governadores receberam o mesmo oficio, cheio de suspeitas e de tentativa de desviar o foco da CPI que, na prática, visa chegar ao presidente - por tudo o que ele não fez, por ser um aliado da Covid, por ter estimulado aglomerações, por não ter autorizado a compra antecipada de vacinas. E pelas mais de 370 mil mortes de brasileiros pelas quais deverá responder um dia.
Não vai ser fácil a vida do presidente a partir de agora, como não será fácil a vida do governador Wilson Lima, que tem caminhado sobre uma corda bamba, colocada entre dois abismos.
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.