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Menino tem superpoder de ver lixeiros, solitários e pessoas em situação de rua em livro

Por Folha de São Paulo

12/08/2022 12h08 — em
Arte e Cultura



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Invisível. Adjetivo de dois gêneros. Aquele que não se vê, que não se pode ver. De quem não se tem conhecimento. Que se esconde, que não se deixa enxergar.

Isso é o que aparece no dicionário quando a gente procura a palavra "invisível" -que, aliás, está bem visível no livrão, perto de "invisibilizar" e vizinha de "invitação". (Não sabe o que são? Vou deixar você pesquisar depois e descobrir. Mas não vale jogar no Google, tem que abrir o dicionário. Topa?).

Só que nem todos os significados moram nos dicionários. Sim, é verdade que eles trazem tim-tim por tim-tim o que todas as palavras querem dizer. Só que algumas definições fogem de lá. E vão se esconder em outro tipo de livro: nos de literatura.

Isso porque muitos escritores e ilustradores bagunçam as palavras, criam frases novas e inventam sentidos que os dicionários nunca imaginaram. É como se fabricassem significados invisíveis.

É mais ou menos o que acontece no livro "Os Invisíveis", escrito por Tino Freitas e ilustrado por Odilon Moraes.

Na história, um menino tem um superpoder e só ele consegue enxergar os invisíveis. Quem são esses seres? Monstros transparentes? Criaturas fantásticas? Magos, bruxas, bichos mitológicos? É aqui que mora uma das espertezas do livro —a gente não sabe, o texto não diz.

Mas as ilustrações mostram quem são esses personagens ocultos que só o garoto pode notar. São lixeiros, pessoas sentadas sozinhas nas praças, pessoas em situação de rua, faxineiros, empregados de todos os tipos.

Nos desenhos, eles surgem com corpos transparentes. A gente só sabe que estão ali por causa das roupas. Só elas podem ser vistas e mostram que essas pessoas estão lá. As páginas, então, surgem recheadas de casacos sem cabeças, blusas sem braços, bonés flutuantes, bermudas sem pernas.

E não é assim na vida real? Quando saímos para caminhar na rua e surge alguém varrendo a calçada ou pedindo uma moeda, será que a gente olha mesmo o rosto desses sujeitos? Ou são só roupas que boiam no ar?

O texto só começa a revelar o que as imagens já mostram quando o menino que é personagem principal começa a sentir que ele próprio se tornou invisível -até que seus superpoderes também vão sumindo.

Publicado pela Companhia das Letrinhas, o livro já tinha ganhado uma edição anos atrás, em 2013, por outra editora, chamada Casa da Palavra. O ilustrador naquela época também era outro, Renato Moriconi, que criou naquela época desenhos cheios de cores e de sombras para essa mesma história.

Tino Freitas, autor de 'Os Invisíveis' Arquivo Pessoal Tino Freitas, autor de 'Os Invisíveis' **** Agora, neste relançamento, Odilon Moraes inventa uma visual completamente diferente, todo em preto e branco, cheia de buracos, de silêncios e de coisas que não conseguimos ver.

E é aí que surge uma das principais perguntas do livro: nós não conseguimos mesmo enxergar? Ou será que não desejamos ver e fechamos os olhos?

Porque, talvez, invisível não seja aquele que se esconde, que não se deixa enxergar, como diz o dicionário. O autor e o ilustrador mostram e inventam outro significado para a palavra. Invisível também é quem nós não desejamos ver, mesmo que essa pessoa esteja bem debaixo do nosso nariz.

OS INVISÍVEIS

Preço R$ 59,90 (56 págs.)

Autor Tino Freitas e Odilon Moraes

Editora Companhia das Letrinhas

TODO MUNDO LÊ JUNTO

Texto com este selo é indicado para ser lido por responsáveis e educadores com a criança


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