Eleito para seu primeiro mandato com 55,11% dos votos na vizinha cidade de Rio Preto da Eva, distante 80 km de Manaus, o médico Luiz Ricardo de Moura Chagas (PRP), o Dr. Ricardo, falou ao Portal do Holanda de como foi sua incursão e os desafios que enfrenta na política, do rombo que encontrou nas contas públicas, e revela as motivações de seu afastamento da prefeitura por decisão da Câmara Municipal de Rio Preto da Eva, por seis votos no último dia 13, alvo que foi de denúncia por má aplicação de recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (FUNDEB).

Portal do Holanda – Prefeito, o ex-governador Gilberto Mestrinho costumava dizer a seus interlocutores que para entrar na política precisava fazer como as garças que pousavam na lama e não melavam as plumas. Como está sendo sua incursão na politica?

Prefeito – Estou engatinhando na política. Filiei-me pela primeira vez a um partido politico em 2009. Há 19 anos trabalho como médico em Rio Preto da Eva. Lembro que 1993 eu já atuava como um verdadeiro médico da família. E foi daí minha interação com o povo mais humilde.  Em três na política foi esse povo que me levou a vencer a eleições quebrando tradições políticas enraizadas na cidade. Não foi fácil.

- Como é essa relação hoje com a população?

Prefeito - Essas pessoas confiaram que nós poderíamos mudar o município e transformá-lo em uma cidade melhor onde se pudesse levar uma vida mais digna à população. Não esquecendo de jeito nenhum o homem do campo, o setor primário que é primordial para o desenvolvimento do município. Eles me conhecem e sabem que cumprirei o que lhes prometi em palanque.

 – Com a sua vivência de 19 anos o senhor conhece bem a realidade do município?

Prefeito - Não só do município. Conheço todos os ramais. Um a um. Casa a casa.

– A sua eleição, para quem acompanhou do lado de fora, foi uma grande surpresa, pois o senhor quebrou paradigmas e monopólios políticos muito fortes, inclusive com candidatos apoiados por deputados federais e estaduais.

Prefeito – É. Inclusive ninguém acreditava na gente. Saímos pra buscar qualquer ajuda ou auxilio, mas ninguém apostava nisso. Começamos com 15 % e nosso adversário tinha 70 %. Você imagina o que é essa diferença. E nos fomos envolvendo as pessoas e duas semanas antes das eleições nós já tínhamos virado tudo isso.

 – Quanto, dos 11 vereadores eleitos, é de sua base de apoio?

Prefeito – Seis. Nos fizemos à maioria. No inicio dos trabalhos foi uma grande dificuldade. Nós que não tínhamos feeling, aquela habilidade politica para administrar o munícipio, sofremos. Eu, que tenho experiência em gestão pública na área hospitalar, ainda assim encontrei dificuldades. É muito diferente. Pois não envolve só saúde. Envolve todos os setores. Ainda mais da forma como eu encontrei o município. Com uma dívida enorme. Com folha do pagamento do mês de dezembro, 13º salário tudo atrasado. Inadimplente como muitos outros municípios.

 – Havia restrições no CAUC (Cadastro Único de Convênio)?

Prefeito – Sim. Com mais de seis restrições no CAUC. E isso me impossibilita de atrair recursos federais para a cidade. O CAUC é o SERASA do Governo Federal. Nossos ramais em péssimo estado de conservação, convênios não cumpridos e aos poucos fomos sanando tudo isso para podermos trabalhar sempre acreditando no apoio do governo estadual e federal. Veja que todos os recursos de Rio Preto da Eva de ICMS e FPM não totalizam 2,7 milhões de reais. Uma folha de pagamento muito inchada e problemática que onera diretamente os cofres da prefeitura. Ainda não podemos esquecer de alguns pontos que avançamos. Nos conseguimos em poucos meses reformar cinco escolas municipais apesar das dificuldades. Conseguimos recuperar o telhado da feira do produtor que todos vocês conhecem, que tinha laudo técnico aferindo risco de desabamento.
Recuperamos o horto municipal com máquina de lavar laranja que estava parado há 10 anos e que ninguém tinha coragem de recuperar.
Nós, inclusive, solicitamos apoio do Governo do Estado para nos ajudar na recuperação dos ramais de Rio Preto da Eva. Já temos o primeiro ramal totalmente asfaltado. E isso fizemos logo que assumimos.
Hoje o fardamento escolar municipal é gratuito. Os pais não precisaram pagar por isso.

– O senhor conveniou com o Governo Estadual ao longo desses nove meses?

Prefeito – Ainda não. Nos estamos esperando pelo governador Omar Aziz em nossa cidade. Sabemos que ele está viajando todas as calhas de rios apresentando os pacotes de obras. Nos esperamos que isso aconteça também com o nosso município.

 – Como se deu essa briga com a Câmara de Vereadores?

Prefeito – A partir do quarto mês do meu mandato começaram os problemas com Câmara. São problemas de ordem política.

– O senhor acredita que pelo fato de seu um político novo na cidade, o senhor não contrariou alguns interesses?

Prefeito – Não tenho duvidas. Isso a gente sabe. E isso são os reais motivos. Contrariei interesses econômicos de décadas.  Tenho encontrado alguns colegas prefeitos e eles sofrem como eu. São novatos. De primeiro mandato como eu. Sofrem do mesmo jeito. É difícil você ter uma Câmara com um ou dois vereadores que são gananciosos e não se conformam em tentar usurpar do meu direito legítimo conquistado nas urnas.

– Dos 11 vereadores da Câmara Municipal, 10 estiveram presente e seis pediram seu afastamento. Uns até de seu próprio grupo politico.

Prefeito – Foi daí que todo problema começou. No final de abril reunir os vereadores e pedir para que eles me apoiassem. Um desses vereadores, que é fiscal da Sefaz e forte empresário na cidade, sempre falou que queria ser candidato a prefeito da cidade. Como não subia nas pesquisas, saiu candidato a vereador e hoje vive insuflando os demais vereadores a votar contra os interesses da prefeitura. Interesses que são do povo. Esse vereador, que sequer mora na cidade, inclusive participa de licitações/pregão da merenda escolar no município. Isso é imoral. Como ele perde o certame, a vida dele é me inviabilizar com vários grupos políticos e alguns vereadores.

 – O senhor chegou a fazer o repasse constitucional do duodécimo à Câmara através de conta especifica do FUNDEB?

Prefeito – Veja bem. Começamos o trabalho no dia dois de janeiro. Dia 20 de janeiro já teríamos que repassar o duodécimo da Câmara Municipal de Rio Preto da Eva. Imagina naquele momento de mudança de contas, assinatura. Só pra vocês terem uma idéia havia mais de 100 contas diferentes em nome da prefeitura de Rio Preto da Eva. O Gerente do Banco do Brasil cometeu esse equivoco. Isso foi dia 18 de janeiro. Quando foi dia 25 de janeiro, o próprio gerente me ligou e lamentou pelo equivoco. O estorno foi feito. Temos o extrato que comprova isso. Não iria retirar recursos do FUNDEB para repassar o que é de direito da Câmara. Foi um equivoco de conta, de talão de cheque. Temos os documentos que comprovam isso. A questão é politica. Me desestabilizar. Cassar eu e o vice-prefeito para que outra eleição aconteça no município e ele mesmo (o vereador) saia candidato.

 – Qual seu maior desejo nesse momento?

Prefeito – Eu quero justiça. Quero paz. Tenho promessas de campanha a cumprir. Rio Preto da Eva tem potencial produtivo e turismo pra desenvolver. Temos nossa piscicultura. Tivemos alguns problemas com secretários, mas isso acontece em qualquer em admistracao. Não me considero o melhor, mas também não me considero o pior dos gestores.

 – O senhor acredita que existam forçam politicas maiores que estejam interferindo nessa situação em Rio Preto da Eva?

Prefeito – Não acredito em represália dos políticos fortes de nosso Estado. Acho que a situação aqui é local. Os medalhões da política sabem que ganhei uma eleição limpa, no voto, na honestidade. E eles são maduros. Tem muito tempo na politica, são pessoas sábias, tem experiência e eles respeitam o povo. Tenho certeza que irei superar essa crise. Não tenho mágoa de ninguém. Confio e espero por justiça. O que quero é trabalhar.