Desmatamento vai explodir na Amazônia com aprovação de PL do licenciamento
Resumo da Notícia
- PL resultará no aumento do desmatamento em níveis que impedirão o Brasil de cumprir metas assumidas no Acordo de Paris
- Na prática, o PL acaba com a maioria dos licenciamentos ambientais do país
- Se aprovado, maior parte dos empreendimentos precisará apenas de um procedimento autodeclaratório na internet, sem nenhum tipo de análise prévia dos órgãos ambientais.
ManausAM - A aprovação do Projeto de Lei (PL) nº 2.159/2021 da forma como está no Senado pode fazer o desmatamento na Amazônia explodir, aumentando de 1,1 mil para 9,4 mil km² o índice de desmatamento anual no Amazonas, o que em 30 anos poderia chegar a 170 mil km², extensão similar à do estado Paraná.
De acordo com documentos divulgados pelo Instituto Socioambiental (ISA), que tem subsedes em Manaus e São Gabriel da Cachoeira e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), sem as condicionantes ambientais previstas na legislação atual, uma obra como o asfaltamento da rodovia da BR-319, entre Manaus (AM) e Porto Velho (RO), pode fazer o desflorestamento apenas no Amazonas alcançar 9,4 mil km² anuais em 2050, mais de oito vezes a média registrada entre 2015 e 2020, de 1,1 mil km².
Para os analistas, a estrada facilitará o acesso a uma das regiões mais preservadas e de maior biodiversidade da Amazônia, com muitas espécies endêmicas, que só ocorrem localmente, e fragmentaria definitivamente a maior floresta tropical do mundo no sentido sudoeste-nordeste.
Isso porque, segundo eles, cerca de 95% do desmatamento e 85% das queimadas na Amazônia concentram-se em uma distância de até 5 km de estradas.
“Com o asfaltamento e sem medidas de controle do desmatamento, as emissões acumuladas de carbono também mais que quadruplicariam em relação ao cenário previsto sem a pavimentação, alcançando 8 bilhões de toneladas – equivalente à emissão de 22 anos de desmatamento na Amazônia Legal com base na taxa de 2019”, diz a análise.
Para os especialistas, ao tornar o licenciamento ambiental exceção e inviabilizar a adoção de condicionantes ambientais para prevenir a supressão ilegal de vegetação, o projeto de lei resultará no aumento do desmatamento da Amazônia Legal em níveis que impedirão o Brasil de cumprir suas metas assumidas no Acordo de Paris.
Conforme o texto atual do PL 2.159, obras de melhoramento e manutenção em obras de “infraestruturas pré-existentes”, como o asfaltamento de estradas, seriam dispensadas do licenciamento. Outros 12 tipos de atividades e empreendimentos, inclusive agricultura e pecuária, teriam o mesmo tratamento.
Além disso, o artigo 13 do projeto exclui a previsão de condicionantes ambientais sobre impactos causados por terceiros e sobre os quais o poder público detenha o poder de fiscalização.
“Como o combate ao desmatamento e demais atividades ilegais na Amazônia consistem em competência – e dever constitucional – inserida no âmbito do poder de polícia estatal, além de ser atividade realizada por ‘terceiros’, decorre que não mais poderão ser objeto de condicionantes ambientais quaisquer medidas para conter o desmatamento decorrente da instalação de empreendimentos de impacto, como estradas, ferrovias, hidrelétricas e outros”, afirma a nota técnica.
A conclusão da nota técnica é que na prática, o PL acaba com a maioria dos licenciamentos ambientais do país.
Se aprovado, a maior parte dos empreendimentos e atividades econômicas precisaria apenas realizar um procedimento autodeclaratório na internet, sem nenhum tipo de análise prévia dos órgãos ambientais e a emissão automática da licença. Várias das condicionantes e controles dos impactos socioambientais das obras seriam simplesmente abolidos, inclusive os de prevenção ao desmatamento.
A relatora do projeto, senadora Kátia Abreu (PP-TO), informou ao jornal Folha de São Paulo que a proposta pode ir à votação no plenário do Senado nesta semana, mas ressalvou que ainda está fechando sua redação final
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