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Gangorra na Casa Branca

Por Agência O Globo

25/04/2017 20h04 — em
Mundo



WASHINGTON — O peso da caneta parece não ter importado a Donald Trump, que começou seu governo com uma disposição a polêmicas e controvérsias jamais vista na Casa Branca. Isso gerou problemas para seus primeiros cem dias, que serão completados no sábado. Mas nem mesmo a mudança de estilo adotada nas últimas semanas, quando a moderação finalmente chegou à Presidência, conseguiu, até o momento, gerar uma avaliação positiva para o magnata. E isso continua causando complicações para sua equipe: na terça-feira, a “primeira-filha” Ivanka Trump foi vaiada ao defendê-lo num evento em Berlim, e o seu ex-conselheiro para Segurança Nacional, Mike Flynn, pode ter problemas com a Justiça.

Flynn e Ivanka representam os dois momentos da Casa Branca sob Trump: enquanto o general é a marca da fase de polêmicas em série e fatos negativos todos os dias, Ivanka — hostilizada durante um evento sobre empoderamento feminino ao lado da chanceler Angela Merkel — é a pessoa por trás da recente guinada, na qual seu pai adotou um tom mais “presidencial” e comedido.

Analistas apontam dois nomes fundamentais para a reviravolta: Ivanka e o marido dela, Jared Kushner. Desde que ampliaram influência sobre Trump, o tom mudou e o enfrentamento direto, as ameaças e o desdém de Trump arrefeceram um pouco. De carona, cresceu o prestígio de pessoas como Gary Cohn, conselheiro econômico, Stephen Miller, que agora auxilia Ivanka, e o general H.R. McMaster — novo conselheiro de Segurança Nacional.

E, junto com um pouco da explosividade do presidente, refluiu parte do poder de Steve Bannon, o estrategista e símbolo-mor da “alt-right” — ou seja, o conservadorismo radical, que aposta na supremacia branca e na xenofobia, marca do site que chefiou, o Breitbart News. Junto a ele, perderam poder o demitido Flynn, a conselheira Kellyanne Conway (que era uma das principais porta-vozes do governo) e o chefe de Gabinete, Reince Priebus, ex-presidente do Comitê Nacional Republicano.

— Trump está buscando uma posição mais moderada — afirmou John Hudak, pesquisador de administração pública da Brookings Institution. — Bannon teve um papel único nesta Casa Branca, e seus conselhos, com sua falta de experiência, em muitos casos criaram problemas para o presidente. E ele reconheceu isso.

Hudak acredita que, ao contrário do que pensam muitos analistas políticos, Trump está aprendendo com a série de erros que seu governo cometeu no início — a maior parte por arrogância, amadorismo ou uma combinação dos dois. A forma como o presidente agiu no caso da Síria, quando atacou instalações militares leais ao ditador Bashar al-Assad acusadas de terem sido base para o lançamento de armas químicas contra civis, gerou uma boa vontade inédita da população.

‘Governo segue igualmente errático’

O maior exemplo da nova fase pode estar ocorrendo agora: fontes do governo indicam que Trump pode adiar até outubro a busca por fundos para a construção do muro na fronteira com o México, sua maior promessa. Tudo isso para evitar que o governo pare a partir de sexta-feira por causa de um impasse orçamentário. Bem diferente do enfrentamento no caso do plano de saúde e das ordens executivas contra imigrantes. Mas ainda é cedo para afirmar que existe uma boa relação.

— Há uma relação turbulenta entre o presidente e o partido algumas vezes, e isso é algo profundo — disse Hudak. — Foi devastador para o partido a derrota da substituição do Obamacare, e o presidente reagiu mal, acusou os parlamentares. Isso dificulta suas negociações com o Congresso pelos próximos dois anos (antes das próximas eleições legislativas).

O especialista lembra que, além do problema com o partido e da queda na popularidade, Trump ainda está enfrentando um outro desafio: falta de pessoal. Uma série de cargos segue em aberto, algo inédito nos EUA. Em sua opinião, isso “demonstra descaso e amadorismo”.

Juan Carlos Hidalgo, analista de políticas públicas do Centro para a Liberdade e Prosperidade Global do Cato Institute, acredita que é cedo para comemorar a fase moderada de Trump:

— O governo segue igualmente errático, e a luta interna entre os nacionalistas de Bannon e os moderados de Kushner continua, embora o genro tenha vencido momentaneamente — avaliou.

E nem mesmo o posicionamento oficial ajuda a esclarecer. Ontem, o porta-voz Sean Spicer minimizou a situação de Flynn, que pode ser acusado de ter agido ilegalmente por receber dinheiro do governo russo, algo proibido a membros das Forças Armadas. Ele se recusou a condenar o ex-colega, que poderia estar negociando uma delação nas investigações sobre a influência russa na eleição de Trump:

— Não sei — sentenciou, questionado se Flynn teria cometido irregularidade.


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