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Espanhóis voltam às urnas para tentar destravar impasse

Por Agência O Globo

26/06/2016 3h52 — em
Mundo



RIO — Quando os espanhóis voltarem às urnas neste domingo, seis meses depois das últimas eleições parlamentares, a sensação será de déjà vu. Após o fracasso dos partidos em formar um governo de coalizão, os eleitores foram convocados para uma nova votação na tentativa de destravar o impasse. Pesquisas de opinião, no entanto, indicam uma repetição do resultado anterior: nenhuma legenda terá maioria suficiente no Parlamento para governar sozinha, deixando o país novamente refém de tensas negociações partidárias.

De acordo com as últimas sondagens, o Partido Popular (PP) — do presidente do Executivo espanhol, Mariano Rajoy — deve vencer, assim como na disputa de dezembro. A aliança anti-establishment Unidos Podemos passa na frente do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), tornando-se a segunda maior força política do país, e a legenda pró-mercado Cidadãos ficaria em quarto lugar.

A falta de um acordo entre os partidos colocou a Espanha num beco sem saída, ainda sob os efeitos da crise econômica e mergulhada em escândalos de corrupção. Em sua primeira eleição geral, Podemos e Cidadãos obtiveram quase nove milhões de votos, sepultando a tradicional polarização entre PP e PSOE. Para o analista Joan Culla Clarà, da Universidade Autônoma de Barcelona, as lideranças tiveram de aprender a lidar com um novo xadrez político.

— O que aconteceu nas urnas em dezembro foi inédito. Pela primeira vez, havia quatro partidos com 40 ou mais deputados. Nunca tivemos um governo de coalizão na Espanha democrática. Precisávamos de tempo para que líderes e organizações digerissem a situação. Supomos que depois destes seis meses ficou claro que os quatro grandes partidos continuarão assim, e é preciso administrar essa nova realidade — afirmou.

Alguns levantamentos sugerem que uma eventual aliança entre PSOE e Podemos somaria assentos suficientes para viabilizar um governo de maioria parlamentar de esquerda, podendo forçar uma mudança de postura do líder socialista Pedro Sánchez, que descartou pactuar tanto com o Podemos quanto com o PP.

— Se o Unidos Podemos superar o PSOE em votos e assentos, e se houver clara maioria de esquerda, será muito difícil para o PSOE dizer “não” — avaliou o cientista político David Redoli Morchón.

Segundo os especialistas, os cenários prováveis são uma grande coalizão entre PP e PSOE; um governo de direita formado por PP e Cidadãos; um pacto de centro-esquerda entre socialistas e Cidadãos; ou um governo de esquerda liderado por PSOE e Unidos Podemos.

Morchón descartou a possibilidade de uma terceira eleição geral consecutiva:

— A opinião pública não toleraria se não houvesse um acordo depois de mais de meio ano de governo interino. Acho que todos os partidos vão fazer grandes esforços para moderar as suas posições e possibilitar um novo governo. Além disso, a pressão internacional é grande. E o mundo empresarial exige que se alcance um acordo para normalizar a situação no país.

Ante a paralisia do governo e uma onda de apatia da população, o instituto Metroscopia previu a abstenção de entre 30% e 32% dos eleitores — a maior taxa desde que a Espanha voltou à democracia, em meados da década de 1970.

Consultor político e presidente do centro de estudos Conselho Hispânico, Daniel Ureña destacou o sentimento de descontentamento:

— A falta de acordo para formar governo não fez outra coisa que não aumentar a crise de confiança na classe política, iniciada junto com a crise econômica entre 2008 e 2009.

Nos últimos dias de campanha, o governo de Rajoy foi sacudido por mais um escândalo. O ministro do Interior, Jorge Fernández Díaz, foi acusado de usar seus serviços para tentar incriminar partidos independentistas catalães.

A decisão britânica de deixar a União Europeia entrou na campanha, durante os encerramentos anteontem. Rajoy alertou para o perigo de votar “em partidos eurocéticos”:

— Não é o momento para experiências — disse Rajoy, em Madri, depois de um telão mostrar imagens de Iglesias defendendo que o país retomasse o controle da política monetária e saísse da zona do euro.

Já o líder do Podemos viu no resultado britânico um recado à UE:

— Hoje há uma mensagem para todos os europeus e é muito clara: a Europa dos cortes sociais, a Europa que humilha os refugiados e não cumpre os direitos humanos não nos serve e não nos seduz — declarou Iglesias.


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