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PF reforça equipe para investigação de chacina no Pará

Por Agência O Globo

15/03/2018 15h03 — em
Brasil



SÃO PAULO A Superintendência da Polícia Federal do Pará nomeou um delegado para se dedicar exclusivamente à investigação dos mandantes da chacina de Pau D´Arco, no Sudeste do estado. O delegado Marcio Sergio Nery, de Marabá, assumiu a investigação no começo de março e contará com a ajuda de dois agentes e um escrivão. Dias antes, uma reportagem da revista ÉPOCA havia mostrado que a PF, ao alegar falta de investimentos, interrompera os esforços para chegar aos possíveis mentores da matança.

A chacina ocorreu na Fazenda Santa Luzia, em Pau D’arco, em 24 de maio do ano passado. Um grupo de policiais civis e militares foi até a área para cumprir mandados de busca e apreensão e prisão de suspeitos de envolvimento na morte de Marcos Batista Ramos Montenegro, um segurança da fazenda assassinado semanas antes. Durante a operação, dez posseiros foram assassinados com sinais de execução. Laudos de necropsia mostram que dois foram atingidos por disparos a curta distância; dois pelas costas, como se fugissem; seis tinham dois ferimentos a bala no peito, o que só é possível quando o atirador tem tempo para mirar.

Uma primeira etapa da investigação, feita por uma equipe de fora do Pará, chegou aos executores do crime depois que dois policiais fecharam um acordo de colaboração. Como resultado do trabalho, um grupo de 17 policiais, quatro civis e 13 militares, foram denunciados à Justiça. Um segundo inquérito para descobrir os mandantes, entretanto, mofava na prateleira. A delegacia local da PF alegava não ter pessoal suficiente para tocar a segunda fase da investigação.

Segundo o promotor do caso, Leonardo Caldas, há indícios claros de que alguém ordenou a chacina. Ele havia pedido ao Ministério da Justiça uma nova equipe da PF para desvendar o mistério, mas foi ignorado até a publicação da reportagem. “Não sei se é porque essa nova fase da investigação alcançaria latifundiários que têm influência, lobby”, disse na ocasião.

O delegado da PF Marcel Rosa, responsável pela primeira fase da investigação, determinara a abertura desse segundo inquérito para chegar aos mandantes. Os suspeitos são “membros da família Babinski”, dona da fazenda Santa Lúcia. Entre as evidências está o depoimento de Carlúcio Ferreira, advogado que já trabalhara para os líderes dos posseiros. Ele afirma que Honorato Babinski Filho mandou oferecer R$ 50 mil para os invasores deixarem a Santa Lúcia, mas não houve acordo porque os líderes do grupo exigiam R$ 200 mil. Honorato Filho nega a negociação.

Maria Inez, mãe de Honorato Filho, já foi indiciada em outro inquérito policial por suspeita de contratar um bando armado para intimidar trabalhadores rurais. “O delegado cogitou a possível atuação de diversos suspeitos. Nenhum integrante da família sequer foi indiciado”, afirmou o advogado Rafael Jardim, defensor dos Babinski.

Pedido de explicação

A reportagem de ÉPOCA revelou ainda que parte dos policiais denunciados pela chacina se encontram presos num quartel da Polícia Militar em Conceição do Araguaia, no Pará. No começo de janeiro, caminhavam tranquilos entre arcos e coqueiros, sob o calor escaldante do Pará, sob vigia de apenas um guarda.

A entrada dos fundos do prédio, franqueada por um quintal sem muros, que se confunde com uma rua arborizada, permitia que qualquer um – sem revista ou identificação – avançasse até o interior do batalhão ou saísse dele. “O quartel não tem nenhum tipo de controle”, afirmou o promotor do caso, Leonardo Lima Caldas. “Diante do que foi veiculado, estou pedindo informações ao comando da PM de lá”.


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