Vocês não estão aqui para brigar, mas para combater a crise do clima, diz chefe climático da ONU
BELÉM, PA (FOLHAPRESS) - O secretário executivo da UNFCCC, Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima, deu um puxão de orelha nos negociadores da COP30 nesta segunda-feira (10).
"Seu trabalho aqui não é brigar uns contra os outros o seu trabalho é combater, juntos, a crise climática", afirmou Simon Stiell em discurso na plenária de abertura da conferência da ONU, que acontece em Belém ao longo das próximas duas semanas.
Negociações climáticas sempre têm muitos conflitos, com cada nação defendendo seus próprios interesses. Os principais pontos de discórdia tendem a ser o financiamento quem paga a conta da destruição causada pelos eventos climáticos extremos e da adoção de tecnologias limpas e a transição energética para abrir mão dos combustíveis fósseis principais culpados pelo aquecimento global, mas defendidos por grandes produtores desses insumos.
Stiell apontou que decisões importantes já foram tomadas em outras COPs, como a transição para longe do petróleo, carvão e gás, e a necessidade de bilhões de dólares em recursos climáticos. Agora, essas medidas precisam ser colocadas em prática. "Temos que conciliar o mundo das negociações com as ações necessárias na economia real", disse.
Ele também usou o rio Amazonas como exemplo a ser seguido pelos líderes mundiais na aceleração da ação climática.
"Estamos em Belém, na foz do Amazonas, e podemos aprender muito com este poderoso rio. O Amazonas não é uma entidade única, mas um vasto sistema fluvial apoiado e alimentado por mais de mil afluentes", afirmou, acrescentando que o processo da COP deve ser impulsionado pelos fluxos de cooperação internacional.
A COP30 marca os dez anos do Acordo de Paris, firmado na COP21, na capital francesa, o que foi lembrado por Stiell.
"Há dez anos, em Paris, estávamos projetando o futuro um futuro que claramente veria a curva de emissões entrar em declínio. Colegas, sejam bem-vindos a esse futuro. A curva de emissões está declinando, graças ao que foi acordado em salas como esta, com governos legislando e mercados respondendo".
Apesar disso, afirmou que não está "dourando a pílula" e que reconhece que ainda há muito trabalho a ser feito. "Precisamos avançar muito, muito mais rápido, tanto na redução das emissões quanto no fortalecimento da resiliência".
O chefe do braço climático da ONU ressaltou, ainda, a importância da Agenda de Ação, o pilar da Convenção do Clima que mobiliza ações voluntárias de mitigação das emissões, adaptação climática e transição econômica. Estão incluídos aí não apenas Estados, mas também a sociedade civil, empresas e entes subnacionais.
"A Agenda de Ação não é um mero complemento ela é crucial", destacou. "Cada gigawatt de energia limpa reduz a poluição e cria mais empregos. Cada ação para construir resiliência ajuda a salvar vidas, fortalecer comunidades e proteger as cadeias de suprimentos globais".
Para tentar acelerar a implementação de medidas de combate à crise climática, a presidência brasileira propôs, para a COP30, uma Agenda de Ação com 30 objetivos-chave, divididos em seis eixos temáticos: transição energética, indústria e transporte; gestão sustentável de florestas, oceanos e biodiversidade; transformação da agricultura e dos sistemas alimentares; construção de resiliência para cidades, infraestrutura e água; promoção do desenvolvimento humano e social; e facilitadores e aceleradores transversais.
Esses eixos foram definidos a partir do balanço global que é elaborado pela ONU a cada cinco anos (conhecido pela sigla GST) e analisa o estado das ações climáticas em todo o planeta.
O GST mais recente, de 2023, apontou que, apesar de avanços, a humanidade caminha para um aumento de 2,4°C a 2,6°C na temperatura média mundial até o final do século muito acima da meta do Acordo de Paris, de limitar o aquecimento a 1,5°C, preferencialmente.
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