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Vizinhos na COP30, Austrália e Turquia seguem em impasse sobre sede da cúpula em 2026

Por Folha de São Paulo

14/11/2025 13h42 — em
Variedades



BELÉM, PA (FOLHAPRESS) - Participantes desavisados podem não perceber, mas há um quê de tensão no ar em meio aos pavilhões dos países na COP30, a cúpula climática das Nações Unidas de Belém. Lado a lado, os estandes de Turquia e Austrália acabam materializando uma disputa diplomática: quem vai sediar a COP31?

Enquanto a Etiópia já comemora ter sido escolhida como sede da conferência em 2027, ainda não se sabe onde ocorrerá a próxima edição do evento. Há meses, Austrália e Turquia disputam nos bastidores o posto de anfitriã, num cabo de guerra que precisa ser resolvido em uma semana, até o final da cúpula de Belém.

Até agora, porém, não há sinal de que nenhum dos dois países irá ceder —e a decisão precisa ser consensual.

"Nossa posição é muito clara: queremos sediar a COP em parceria com o Pacífico", afirmou o primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, em coletiva de imprensa em Sidney, nesta quinta-feira (13). "O presidente [Recep Tayyip] Erdoğan me escreveu nas últimas 24 horas. Ele está mantendo sua posição em resposta à Austrália manter a nossa".

Já a Turquia argumenta que, caso a COP31 aconteça na cidade-resort de Antalya, daria atenção ao tema do financiamento de países em desenvolvimento, além de demonstrar os esforços nacionais de zerar suas emissões líquidas até 2053.

Em seu pronunciamento, Albanese defendeu seu pleito afirmando que nunca houve uma COP realizada no Pacífico, dada a ameaça existencial que a mudança climática representa para nações da região, como Tuvalu e Kiribati. A promessa é que a COP seria sediada em Adelaide, no sul do país, sob presidência australiana, mas em cooperação com as nações insulares da vizinhança.

O modelo é uma novidade e vem sendo apoiado por ativistas —como a rede internacional Climate Action Network, que vê aí uma oportunidade de dar voz a alguns dos países mais ameaçados pelo aquecimento global— e por especialistas em oceano —que dizem que o tema ganhará protagonismo nesta proposta.

Contudo, internamente o apoio a uma COP australiana vem diminuindo. Na última semana, o jornal The Sydney Morning Herald publicou um editorial pedindo que a candidatura seja abandonada, citando custos altos e dizendo que as conferências viraram "feiras comerciais" e uma espécie de teatro para melhorar a imagem dos governos.

Um interlocutor com conhecimento das negociações afirmou que a Turquia só desistiria do seu pleito se ganhar algo em troca. Segundo o jornal The Guardian, o mesmo foi feito para que o país abrisse mão de sediar a COP26, que aconteceu na Escócia.

Os líderes dos dois países também representam diferentes espectros políticos. Albanese é do Partido Trabalhista, de centro-esquerda. Já Edrogan é considerado um representante da direita radical e acumua críticas devido ao aumento do autoritarismo na Turquia durante sua gestão.

Caso a briga não seja resolvida, a sede passa automaticamente a ser a cidade de Bonn, na Alemanha, casa da UNFCCC, o braço climático da ONU. O problema é que essa solução não parece agradar os próprios alemães.

De acordo com o site Politico, a Alemanha considera o prazo de um ano para planejar uma COP curto demais e não quer ser a anfitriã acidental da conferência do ano que vem.

"Nós seríamos obrigados a sediar, mas não queremos", disse ao portal o secretário de Estado alemão do ministério do Meio Ambiente, Jochen Flasbarth.

"A Alemanha precisa de mais tempo para [preparar] uma conferência. É por isso que todos os sinais que estamos enviando são, pelo amor de Deus, façam com que Austrália e Turquia concordem para que esta solução técnica não entre em vigor".

Representantes da Turquia e da Alemanha foram procurados para comentar o impasse, mas não responderam até a publicação desta reportagem.


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