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Vice dos EUA frustra europeus, ignora Ucrânia e anuncia que Trump é novo xerife

Por Folha de São Paulo

14/02/2025 15h45 — em
Variedades



MUNIQUE, ALEMANHA (FOLHAPRESS) - Quando o vice-presidente dos Estados Unidos, J. D. Vance, prestou solidariedade pelo atentado que ocorreu na quinta-feira (13) em Munique, ele disse esperar que os aplausos da plateia não fossem os únicos em seu discurso.

O público da Conferência de Segurança de Munique, formada em boa parte por lideranças da Europa ávidos por uma sinalização de que os EUA continuavam a apoiar a Ucrânia na guerra contra a Rússia, acompanhou em silêncio enquanto Vance ignorava o conflito no Leste da Europa, fazia acenos à extrema direita e criticava políticas de regulação das redes sociais.

"A ameaça que me preocupa é a interna", disse Vance.

O vice de Trump criticou o fato de o Supremo da Romênia ter anulado as eleições no país por suposta interferência russa.

Atacou o que chamou de práticas de "censura digital" contra "conteúdos de ódio", numa referência às iniciativas europeias de regulação das redes, e disse que os valores democráticos precisam ir além do discurso.

"Precisamos fazer mais do que apenas falar sobre valores democráticos, precisamos vivê-los".

A plateia ouviu em silêncio a maior parte do tempo, num testamento do incômodo que o conteúdo as fala de Vance causava.

Ele disse que a liberdade de expressão estava em recuo na Europa e, ao destacar a centralidade que o tema tem para a gestão Trump, sentenciou: "Em Washington há um novo xerife na cidade".

O vice americano repetiu a demanda de Trump de que os aliados da Otan aumentem seus gastos com defesa. "Não há segurança se você tem medo das escolhas feitas pelo seu próprio povo".

Pouco depois do discurso, o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, participou de uma discussão com um grupo de senadores americanos.

Zelenski defendeu que a Ucrânia e a Europa precisam ser incluídas em qualquer discussão de paz. "Fazer um acordo sem nós e sem a Europa não é uma boa ideia", disse.

O ucraniano também defendeu que garantias de segurança precisam ser dadas a Kiev, mencionando a adesão à Otan. No entanto, ele reconheceu que essa possibilidade não é apoiada pelos EUA.

Antes de Vance falar no evento, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, defendeu a visão europeia de que qualquer processo de paz precisa respeitar o sacrifício feito pelos ucranianos no campo de batalha.

"O fracasso da Ucrânia enfraqueceria a Europa e os Estados Unidos", disse. Ela também anunciou apoio a uma proposta de relaxar regras de controle fiscal para gastos com defesa, numa tentativa de aumentar as despesas dos membros do bloco com segurança.

O vice-presidente americano também se reuniu com líderes europeus durante o evento em Munique, alguns dos quais reconhecem a necessidade de elevação de gastos de Defesa.

"A nova gestão americana tem uma visão de mundo muito diferente da nossa, uma que não respeita as regras estabelecidas, a parceria e a confiança construída," disse Frank-Walter Steinmeier, chefe de Estado da Alemanha —cargo em larga medida cerimonial.

O presidente francês, Emmanuel Macron, é outro líder europeu que defende maior autonomia securitária para o continente. Em entrevista ao Financial Times, ele argumentou em favor de um "despertar estratégico" que impulsione a Defesa e reacenda o crescimento econômico da UE.

Em entrevista ao jornal The Wall Street Journal publicada antes de suas declarações em Munique, Vance afirmou que os EUA tinham à disposição ferramentas econômicas e militares para pressionar Moscou a aceitar um acordo para terminara a Guerra da Ucrânia.

A fala com elemento militar foi lida como novidade pelo Kremlin, que pediu explicações.

"Este foi um novo elemento sobre a posição [dos EUA]. Não ouvimos tais formulações antes, elas não foram expressas antes", disse Peskov aos repórteres. "Então, é claro, durante os próprios contatos sobre os quais temos falado, esperamos receber algum esclarecimento adicional."


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