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Vacina da Oxford preveniu pneumonia de Covid-19 em macacos

Por Folha de São Paulo

04/08/2020 18h26 — em
Brasil


Foto: Pixabay

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A vacina experimental contra o novo coronavírus desenvolvida pela Universidade de Oxford em parceria com o laboratório AstraZeneca impediu a ocorrência de pneumonia em macacos rhesus infectados pelo Sars-CoV-2.

Os resultados do ensaio foram divulgados na prestigiosa revista científica Nature, no último dia 30. A vacina de Oxford, batizada de ChAdOx1, é produzida a partir do adenovírus, um vírus que causa resfriado em chimpanzés.

O vetor viral é modificado com uma parte do material genético do Sars-CoV-2, responsável por codificar a proteína S do spike (espícula presente no envoltório do vírus usado para se ligar à célula no hospedeiro). A imunização ocorre pela indução de anticorpos neutralizantes no organismo que recebeu a vacina.

A pesquisa com os animais foi conduzida em abril e levou à aprovação do ensaio clínico de fase 1, mas a divulgação dos resultados só ocorreu na última semana.

As fases iniciais 1 e 2 da vacina ChAdOx1 foram realizadas entre 23 de abril e 21 de maio com 1.077 voluntários saudáveis entre 18 e 55 anos no Reino Unido.

O sucesso reportado no estudo ao impedir a pneumonia causada pelo coronavírus oferece ainda mais robustez para uma provável eficácia da vacina, atualmente na fase 3 de testes em diversos países, inclusive no Brasil.

A pesquisa valeu-se de três grupos, cada um com seis indivíduos de macacos rhesus, que receberam, respectivamente, uma dose, duas doses --uma no início do estudo e a segunda 28 dias depois-- e placebo.

Passados nove dias após a imunização do grupo cuja dose foi dupla, os cientistas colheram sangue dos primatas para verificar a presença de anticorpos anti-Sars-CoV-2 no organismo. Repetiram a análise ao se completarem 14 dias após a injeção do grupo que recebeu a dose única.

O nível de anticorpos neutralizantes apareceu elevado já de sete a nove dias após a vacina e aumentou consideravelmente no grupo que recebeu uma segunda dose de imunizante. Já no grupo controle, a quantidade de anticorpos detectada foi próxima a zero.

Os pesquisadores coletaram amostras do fluido broncoalveolar e swab de nariz e garganta para uma análise de RT-PCR 14 dias após a primeira e a segunda doses da vacina.

Tanto nos macacos que recebream dose dupla quanto naqueles que receberam apenas uma injeção houve queda significativa na presença do vírus no organismo detectado com o exame molecular. Além disso, não foi encontrado RNA viral no tecido dos pulmões desses animais.

Em contrapartida, os macacos que receberam medicamento placebo continuaram a apresentar taxas elevadas do vírus tanto no tecido pulmonar quanto nas vias respiratórias superiores (nariz, garganta) e inferiores (traqueias).

Na avaliação do dano causado ao tecido pulmonar pelo coronavírus, os pesquisadores observaram que nos macacos imunizados com uma (retângulo à esquerda) ou duas (centro) doses da vacina, não houve lesão. No quadro à direita, é possível ver o tecido inflamado tomando todo o brônquio (diversas células em tom de roxo mais escuro), além de edemas (círculo em tom de lilás no canto superior esquerdo, marcado com asterisco) e outras lesões celulares (indicadas pelas setas). Por fim, os pesquisadores observaram que, no grupo controle, os sinais clínicos da doença foram significativamente maiores do que nos animais vacinados com a ChAdOx1. Para os autores, isso corrobora a prevenção da doença causada pelo novo coronavírus, embora estudos que comprovem sua segurança e eficácia em impedir a infecção estejam ainda em desenvolvimento.

Dose única de vacina da Johnson & Johnson também garantiu imunização em macacos rhesus A Ad26, do laboratório Johnson & Johson (J&J), também obteve sucesso na imunização de macacos. Como a ChAdOx1, ela é feita a partir de adenovírus.

A gigante farmacêutica desenvolveu vacina similar contra ebola e usa agora a mesma tecnologia para barrar a epidemia causada pelo novo coronavírus.

Produzida a partir do chamado adenovírus 26 modificado com material genético do Sars-CoV-2, o imunizante produziu anticorpos neutralizantes e gerou resposta celular - linfócitos T - com apenas uma dose em macacos rhesus.

Os resultados da pesquisa também foram divulgados na edição da Nature do último dia 30.

Nela, os pesquisadores dividiram 52 macacos rhesus em 8 grupos, dos quais 7 receberam variantes diferentes do imunizante; um grupo controle, composto por 20 indivíduos, recebeu o placebo.

Cada variante da vacina apresentava uma diferença no gene que codifica a proteína S. Os cientistas pretendiam assim avaliar qual parte da proteína induz uma resposta mais rápida do sistema imune.

Com apenas 14 dias, 31 dos 32 macacos produziram anticorpos específicos para o Sars-CoV-2, e esse número atingiu 100% dos animais 28 dias após a injeção. Contudo, a resposta imune celular e os tipos e níveis de anticorpos encontrados foram variáveis para cada tipo diferente da vacina.

A variante que obteve maior sucesso na imunização foi a chamada Ad26-S.PP. Seis semanas após a vacinação, o vírus foi novamente inoculado em todos os animais, mas naqueles que receberam a Ad26-S.PP não foi possível detectar RNA viral nas amostras coletadas do nariz e do lavado broncoalveolar.

A resposta do sistema imune foi mais eficiente na produção dos anticorpos que impediam a ligação da espícula do vírus às células, mas também houve resposta imune induzida por células de defesa como os linfócitos T CD4 e CD8, cuja ação é destruir as células infectadas pelo patógeno.

A quantidade dessa resposta imune também foi relevante. Os pesquisadores observaram que o nível de anticorpos neutralizantes nos macacos vacinados foi quatro vezes maior do que aquele encontrado no plasma convalescente de macacos e humanos infectados após a recuperação de Covid-19.

A vacina da J&J está atualmente em fase combinada 1/2 de ensaio clínico e recebeu, em março, apoio para produção de cerca de US$ 500 mil (cerca de R$ 2,6 milhões) do governo norte-americano.


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