SP tem 15 mil agentes em campo contra incêndios que já duram um mês
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Embora sob o alívio temporário de uma frente fria, São Paulo completa um mês com sua estrutura de combate a incêndios florestais posta mais uma vez à prova. Com recordes nos pontos de fogo registrados por satélite, o estado tem adotado um modelo de força-tarefa no uso de efetivo e equipamentos.
Segundo a Defesa Civil de São Paulo, que coordena o gabinete de crise do governo estadual para lidar com os incêndios, há 15,1 mil agentes em campo envolvidos nos combates. Deste --a maior parte, 10 mil, composta por brigadistas voluntários, de empresas agrícolas e do DER (Departamento de Estradas de Rodagem do Estado de São Paulo).
A outra porção desse efetivo é composta por 2.500 agentes de Defesa Civil, 2.200 bombeiros militares e 400 brigadistas da Fundação Florestal de SP.
Já os equipamentos se dividem em 2.500 veículos terrestres, como viaturas dos bombeiros, 29 helicópteros da Polícia Militar --as aeronaves disponíveis que não estejam em uso para ações de segurança-- e oito aviões.
Na primeira quinzena de setembro, segundo o chefe da Defesa Civil de São Paulo, coronel Henguel Ricardo Pereira, foram 520 horas de voo, 2,4 milhões de litros de água usados para apagar as chamas e 20 aeronaves utilizadas, com 63 cidades assistidas no total.
A novidade desta temporada, segundo Henguel, foi a integração de diferentes setores no gabinete de crise. "Nas usinas, o pessoal já estava trabalhando para combater no seu terreno. Chamamos para o gabinete de crise pelo seguinte: se eu [brigadista] apaguei o fogo na minha área e um município do lado ainda tem fogo, realocamos esse recurso."
Ele também citou a disponibilização, pelo governo Tarcísio de Freitas (Republicanos), de 13,5 mil vagas de Dejem (Diária Especial por Jornada Extraordinária de Trabalho Policial Militar), para pagar o trabalho dos bombeiros na folga.
O gabinete chegou a operar com oito aviões e 12 helicópteros ao mesmo tempo nos combates a incêndio. No caso dos helicópteros, das 29 unidades da Polícia MIlitar que estão à disposição, podem ser usadas aquelas que não estejam em ações policiais.
Se havia vento forte que impedia o voo em uma região, as aeronaves eram enviadas a outros locais. "Toda a estratégia foi orientada com meteorologistas e analistas do GGE [Centro de Gerenciamento de Emergências]", afirma o coronel.
Ele avalia que a operação tem conseguido frear o avanço do fogo. "Nunca vimos uma operação tão grande sendo executada para combate dentro do estado."
Nesta terça (17), o governo Tarcísio divulgou ter prendido 23 pessoas por suspeita de envolvimento em ações de início intencional de fogo desde junho --nove estavam soltas até a última sexta (13). A gestão também informou ter aplicado mais de R$ 25 milhões em multas para crimes relacionados a queimadas criminosas desde janeiro.
Mas depois da frente fria, a temperatura volta a subir, e o estado tem alertas de emergência para incêndio com ápice entre a próxima sexta-feira (20) e o domingo (22). Segundo o coronel, a Defesa Civil avalia a importação de retardantes químicos de fogo, que diminuem a velocidade de propagação das chamas, para uso ainda nesta temporada.
O cenário atípico de seca e incêndios no Brasil também foi apontado, na tarde desta terça-feira (17), do presidente Lula (PT). Em reunião para discutir um pacote de medidas contra as queimadas e incêndios florestais, ele afirmou que o país não estava preparado para lidar com a crise do fogo.
Para o diretor de defesa civil municipal de São Carlos, Pedro Caballero, a estrutura de São Paulo é razoável, mas o estado deve passar a investir de forma permanente em equipamento e maquinário.
"Países com inverno rígido mantêm o equipamento de neve parado quatro meses por ano, mas quando a época chegar, ele vai funcionar. Tem que ser a mesma coisa aqui, porque temos enchente e seca."
O estado de SP, é claro, está longe de ter 44 mil bombeiros de carreira como a Califórnia, nos EUA, mas Caballero afirma que a cultura de proteção contra incêndios, mais do que centenária entre os norte-americanos, ainda é muito recente no Brasil e foi forçada por desastres como o dos edifícios Andraus, em 1972, e Joelma, dois anos depois, ambos em São Paulo. Fundamental para aumentar a prevenção e a resposta, essa cultura, diz ele, ainda é incipiente no Brasil.
Já o capitão Maycon Cristo, porta-voz do Corpo de Bombeiros de SP, afirma que, apesar da preparação sazonal para a estiagem, os focos de incêndio nesta temporada se sobrepuseram à capacidade institucional da corporação de atender ocorrências. "Isso implicou novas manobras. O efetivo que trabalha em atividades administrativas passou também a atender ocorrências."
Ele também cita que a inovação na criação de um gabinete de crise ajuda a organizar as diferentes demandas, embora destaque que, segundo o sistema de registros usado pela corporação, agosto deste ano, que teve 6.791 ocorrências, ficou abaixo do mesmo mês em 2021, que somou 8.079 registros.
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