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Rede chilena compra mais de 10 escolas de educação infantil em SP

Por Folha de São Paulo

14/05/2021 18h35 — em
Variedades



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em um cenário de dívidas e perda de alunos devido à pandemia, um grupo de origem chilena, o Vitamina, tem feito uma série de compras de escolas de educação infantil em São Paulo.

O segmento foi o mais castigado da educação pela suspensão das aulas presenciais devido ao coronavírus. Como a escolarização na faixa etária de zero a três anos não é obrigatória, muitos pais desmatricularam seus filhos.

A falta de clareza sobre a linha pedagógica do Vitamina desperta dúvidas no setor sobre qual será o futuro das unidades adquiridas. A rede, porém, promete manter a linha de atuação de cada uma escolas, algumas com décadas de história.

Desde o segundo semestre de 2020, ao menos 12 escolas com características de bairro foram adquiridas pelo Vitamina, em diferentes áreas da capital paulista, concentradas nas zonas sul e oeste, além de uma unidade em Santo André.

São elas a Escola Alfa, em Alto de Pinheiros; Amor Perfeito, em Perdizes; Blue Sky Morumbi; Building, no Campo Belo; Living School, na Vila Andrade; Jardim Escola Conhecer, na Saúde; Materna, em Santo André; Mundo Melhor, na Pompeia; Primeiro Passo, no Paraíso; Pueri Regnun, no Brooklin; Tio Juca, no Itaim Bibi, e Vila do Aprender, na Vila Olímpia.

O grupo afirma que ainda está conhecendo o setor e não tem uma meta de aquisições. A Folha apurou que um plano de expansão prevê chegar a cem unidades em cinco anos.

Entre os investidores do Vitamina está o fundo Península, do empresário Abílio Diniz.

A atuação em São Paulo deve ter diferenças importantes em relação à do Chile, onde grande parte dos alunos vem de famílias de funcionários de empresas conveniadas, modalidade pouco comum no Brasil.

Essa característica, nas escolas chilenas, se reflete no perfil das unidades, próximas aos locais de trabalho. Algumas inclusive funcionam 24 horas, sete dias por semana.

O funcionamento ininterrupto é uma das diferenças em relação ao cenário da educação infantil no Brasil. Só muito recentemente, no ano passado, foi autorizado o funcionamento noturno de creches em São Paulo --e sob críticas de educadores, que veem a medida como assistencial, e não educacional.

Uma visita ao site chileno também mostra outras características distintas. As imagens não dão ênfase a atividades ao ar livre, e a foto de uma sala de berçário que se repete em diversas unidades, por exemplo, mostra uma série de cadeiras de descanso para os bebês, nas quais eles ficam sentados por um período de tempo.

Tais equipamentos destoam da visão abraçada pelo currículo da cidade de São Paulo, que privilegia o movimento livre e a relação com a natureza --embora isso nem sempre aconteça de fato.

Sala de unidade da rede Vitamina no Chile, com cadeiras de descanso para bebês Reprodução Sala de unidade da rede Vitamina no Chile, com cadeiras de descanso para bebês e berços **** Para saber sobre essas diferenças, a linha pedagógica e a estrutura, a reportagem procurou o grupo Vitamina, que optou por responder as questões por email.

Sobre a linha pedagógica, afirmou apenas que "a criança deve ser protagonista no seu processo de aprendizagem", mas ressaltou que a linha atual de cada escola será mantida.

"Nossa preocupação nesse momento de descoberta das escolas brasileiras é dar continuidade aos projetos individuais de cada escola. Todas possuem linhas pedagógicas muito valiosas, as quais pretendemos conservar."

O grupo não respondeu quem conduzirá a área educacional no Brasil e afirmou que formatos comuns no Chile, como parceria com empresas e funcionamento 24 horas, ainda serão estudados.

O Vitamina tampouco respondeu quantos alunos por sala as unidades devem ter. Afirmou que haverá "profissionais adequados por número de alunos, conforme as regras brasileiras".

"Nosso maior desafio é assegurar que não iremos perder, de forma alguma, este vínculo entre equipe docente, crianças e famílias".

Duas ex-proprietárias de escolas que venderam seus estabelecimentos falaram à reportagem por intermédio do grupo.

Cecília Assunção, da Escola Alfa, afirmou que permancerá à frente da escola na questão pedagógica e que as práticas educativas seguirão as mesmas.

Maria Alice Bucheb, da Pueri Regnun, disse que a continuidade do trabalho de cada escola foi um ponto muito importante das conversas para a venda, decidida em razão de dificuldade de sucessão.

"Nossa escola foi fundada pela nossa mãe há 40 anos e sempre trabalhamos juntas. Infelizmente, ao longo dos anos, perdemos mamãe e uma de nossas irmãs, mas continuamos seguindo no mesmo propósito. Há alguns anos, temos discutido sobre sucessão e, como não vemos em nossa família quem possa nos suceder, estávamos preocupadas em relação à continuidade da escola."

Sob condição de anonimato, dois dirigentes de escolas procuradas pelo Vitamina para aquisição também falaram à Folha suas impressões do grupo.

Um desse diretores avaliou que a maior preocupação que transpareceu era com a estrutura e não a prática educacional. De fato, o material de divulgação do grupo no Chile ressalta a preocupação com a segurança dos alunos, com câmeras e até tobogã para retirar todos da escola em caso de terremoto.

Por outro lado, a possibilidade de que o grupo faça investimentos na estrutura das escolas foi um ponto positivo apontado por outro diretor.

A chegada de uma rede de escolas é uma novidade significativa no setor de educação infantil de São Paulo, caracterizado pela pulverização de pequenas unidades muitas vezes administradas de forma familiar.

Recentemente, outro grupo com foco na educação infantil, com duas décadas de atuação, também tem registrado crescimento na cidade de São Paulo.

No início do ano passado, a Fadelito tinha 12 unidades. Hoje tem 16 e, em outubro, deve chegar a 20, segundo o proprietário, Fabio Fadel.

Entre as aquisições, estão unidades que passaram por dificuldades na pandemia, como a Planeta Azul, em Pinheiros, e a Tick & Titos, na Vila Mariana.

Para Fadel, o futuro do setor é promissor, mesmo sem uma perspectiva segura de normalização da vida escolar. "Dezembro, janeiro e fevereiro foram os melhores meses da nossa história, porque tinha uma demanda reprimida das famílias", diz.

"A tendência é acontecer com a educação infantil o que aconteceu com as farmácias: saem as de bairro e ficam as grandes redes", projeta.


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