'Queremos reconstruir a vida aqui', diz filha de vítima de tornado em Rio Bonito do Iguaçu (PR)
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A casa que Claudino Risso construiu já não existe. O vento levou tudo. O pedreiro, que criou a família ali, em Rio Bonito do Iguaçu, no centro-sul do Paraná, foi encontrado ainda com vida entre os escombros na última sexta-feira (7), após uma tempestade severa, acompanhada de um tornado, atingir a cidade.
"Aqui meu pai construiu tudo com tanto carinho", diz a filha, Valéria Sabrina Risso, 27, que hoje tenta reconstruir, no mesmo terreno, o que restou da vida da família. "Por mais que a lembrança doa, é aqui que a gente quer ficar."
Na casa em que Valéria vive com o marido, parte do teto foi levado pela tempestade, mas ela diz não ter do que reclamar. Conseguiu arrumar a parte danificada e não teve que deixar a casa. No dia do acidente, a mãe dela estava em Cascavel para a missa de 30 dias da morte da irmã. Agora, ela vai morar com a filha Tatiana Risso, 34.
Com um problema na coluna, Claudino preferiu ficar em casa cuidando do neto de dois anos e tomando chimarrão. Ao lado da casa dele, as irmãs trabalhavam em um consultório de estética Valéria como manicure e Tatiana com cílios.
Tatiana havia deixado a casa do pai com o filho minutos antes da tempestade. Quando o temporal começou, Valéria diz que uma cliente atendida por ela foi para baixo de uma maca, e que tentou fechar a porta para se protegerem. Mas logo viu que a parede da casa estava desmoronando.
Da janela do consultório, Valéria via a casa do pai e começou a chamar por Claudino, que já não respondia. Depois da ventania, ela saiu para procurar por ele, pisando em destroços de móveis, teto e forro. Em seguida, foi até a rua e começou a pedir ajuda para as pessoas, quando o encontrou.
No chão, Claudino gemia de dor e reclamava. Após o vendaval, com postes caídos nas ruas, passar com carro era difícil e a ajuda ficou complicada. Ele foi levado para um posto de saúde de uma cidade vizinha. De lá, seria transportado para um hospital, mas não resistiu aos ferimentos e morreu no caminho.
Valéria define o pai como "a melhor pessoa do mundo". Pedreiro, ele construiu a casa e o local onde as filhas trabalhavam com carinho. "A gente pensa em reconstruir aqui e ficar aqui. Aqui é a nossa história", afirma.
Ao todo, oito mortes foram registradas na região Sul em decorrência das tempestades severas sete somente no Paraná e uma no Rio Grande do Sul. Em Santa Catarina também foram registrados tornados, mas não houve vítimas.
O tempo instável foi provocado por um ciclone extratropical que atingiu especialmente a região Sul do país na última sexta. No Paraná, os tornados foram registrados nas cidades de Rio Bonito do Iguaçu, Turvo e Guarapuava.
Em Rio Bonito do Iguaçu, onde cinco pessoas morreram, os ventos chegaram a 330 km/h, em uma estimativa divulgada pelo Simepar (Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná) nesta segunda-feira (10). Outra vítima morreu na zona rural de Guarapuava.
A volta às aulas na rede estadual de ensino de Rio Bonito do Iguaçu teve baixa adesão de alunos nesta quarta-feira (12). Das sete escolas estaduais, cinco voltaram a funcionar. Eram esperados 1.047 estudantes nas salas nesta quarta, mas as unidades ficaram esvaziadas, e as atividades da rede municipal seguem suspensas.
Já um relatório preliminar de técnicos do Crea (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná) e da Cohapar (Companhia de Habitação do Paraná) apontou que 40% dos imóveis atingidos precisarão ser totalmente reconstruídos.
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