Compartilhe este texto

'Para a mídia, o vírus sou eu', diz Bolsonaro no ápice da pandemia no Brasil

Por Folha de São Paulo

03/03/2021 20h34 — em
Variedades



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Diante do número recorde de mortes por Covid-19, da falta de leitos e do baixo índice de pessoas vacinadas no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou suas críticas à imprensa.

"Para a mídia, o vírus sou eu", disse Bolsonaro a apoiadores no jardim do Palácio da Alvorada na manhã desta quarta-feira (3). A interação foi registrada e divulgada por um canal de vídeo simpático ao presidente.

Para o mandatário, veículos de comunicação aterrorizaram a população. "Criaram pânico, né? O problema está aí, lamentamos. Mas você não pode entrar em pânico. Que nem a política, de novo, de 'fique em casa'. O pessoal vai morrer de fome, de depressão?", disse Bolsonaro, ampliando as críticas aos o governadores que, vendo o sistema de saúde de seus estados em colapso ou prestes a colapsar, têm asseverado medidas restritivas.

Na terça-feira (2), o Brasil registrou 1.726 mortes por Covid-19, o maior número diário de vidas perdidas de toda a pandemia. O país também registrou, pelo quarto dia consecutivo, a maior média móvel de óbitos pela doença, 1.274. A média de mortes já está há 41 dias acima de 1.000. Enquanto isso, apenas 3,36% da população foi vacinada com a primeira dose.​

O chefe do Executivo voltou a afirmar nesta quarta que uma comitiva do governo embarca para Israel no sábado (6) para negociar testes no Brasil de um spray que, no dia anterior, ele disse que não sabe o que é e que "parece um produto milagroso".

Há, atualmente, 35 pesquisas em humanos avaliando 22 possibilidades de drogas contra Covid-19 aplicadas por inalação feita em hospital. O estudo de Israel com o spray nasal EXO-CD24, citado pelo presidente, é um dos mais iniciais entre os registros de pesquisas clínicas.

"Se eu falar contra, que não presta, o pessoal vai atrás, a imprensa vai atrás. Mas, se você ler a imprensa, você não consegue viver", disse Bolsonaro, reagindo a críticas que um apoiador fez à imprensa.

"Então, faz o que eu faço: cancelei desde o ano passado todas as assinaturas de jornais e revistas. O ministro que quiser ler jornal e revista vai ter que comprar. Não leio mais, não vejo Jornal Nacional, não assisto, que é a maneira que você tem de realmente pensar em coisas sérias no país", afirmou o presidente.

A chamada fase 1 do EXO-CD24 começou no final de setembro do ano passado e, oficialmente, seria concluída apenas em 25 de março. As informações são da base internacional Clinical Trials, que reúne dados sobre experimentos de medicamentos, diagnósticos e vacinas com pessoas no mundo todo.

A droga ​está sendo testada para Covid-19 com 30 voluntários e, por enquanto, não há resultados publicados em artigo científico nem da fase 1, que ainda não está oficialmente concluída.

Esta é mais uma aposta de Bolsonaro em produtos sem eficácia comprovada cientificamente ou comprovadamente ineficaz. O receituário presidencial inclui produtos como cloroquina e ivermectina.

O presidente também comentou sobre um pronunciamento que pretende fazer, mas não quis dizer quando será veiculado, embora a previsão fosse para a noite desta quarta.

"O assunto, quando tiver [pronunciamento], vai ser pandemia, vacinas", afirmou, complementando que a previsão é que o país receba 22 milhões de imunizantes em março e 40 milhões em abril.

"O país está mais avançado nisso. Assinei no ano passado MP [medida provisória] destinando mais de R$ 20 bilhões para comprar vacina. Estamos fazendo o dever de casa", disse o presidente.

Mais tarde, ao sair de uma reunião com embaixadores de países do Golfo Pérsico, Bolsonaro conversou com jornalistas.

Sobre a demanda de governadores por dinheiro para a abertura de mais leitos de UTI para pacientes de Covid-19, ele disse não faltar recursos, mas cobrou previsões dos chefes dos estados.

"Parece que ontem os governadores pediram mais recursos. Eu vou conversar com o Pazuello [general Eduardo Pazuello, ministro da Saúde], ele não é o dono da chave do cofre, mas o que for possível fazer a gente vai fazer porque tudo vamos fazer para preservar vidas", afirmou Bolsonaro.

Sobre a demanda de secretários de Saúde por um toque de recolher nacional, Bolsonaro disse ter um plano, caso a autoridade seja dada a ele.

"Eles [governos locais] têm autoridade, infelizmente o poder é deles. Eu queria que fosse meu", disse Bolsonaro. "Se eu tiver poder para decidir, eu tenho o meu programa, o meu projeto, pronto para botar em prática no Brasil. Preciso ter autoridade. Se o STF achar que pode dar o devido comando dessa causa a um poder central, que eu entendo ser legítimo e meu, eu estou pronto para botar meu plano [em prática]."

O STF, no entanto, não eximiu o governo federal de responsabilidade nas ações de combate à pandemia. Em 15 de abril do ano passado, o plenário do STF decidiu que a União, os estados e os municípios têm “competência concorrente” para tomar providências no enfrentamento ao novo coronavírus.

Mesmo com um baixo percentual de vacinados no Brasil, o presidente disse ter a intenção de imunizar a população de países vizinhos.

"Nós devemos também, depois que o nosso povo estiver vacinado, buscar maneiras de atender aqui os outros países que fazem divisa conosco. Porque, afinal de contas, será bom para nós porque evita que uma outra onda venha de lá para cá no futuro".

Mais cedo, em evento com a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, Pazuello também defendeu a ideia.

"Nenhum país vai estar seguro e vacinado se seus vizinhos não estiverem seguros e vacinados", disse o ministro.

Siga-nos no
O Portal do Holanda foi fundado em 14 de novembro de 2005. Primeiramente com uma coluna, que levou o nome de seu fundador, o jornalista Raimundo de Holanda. Depois passou para Blog do Holanda e por último Portal do Holanda. Foi um dos primeiros sítios de internet no Estado do Amazonas. É auditado pelo IVC e ComScore.

ASSUNTOS: Variedades

+ Variedades