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'Não queremos ser cúmplices', diz eurodeputado que defende barrar madeira da Amazônia

Por Folha de São Paulo

12/08/2022 17h36 — em
Variedades



MADRI, ESPANHA (FOLHAPRESS) - "Estou pedindo uma moratória [suspensão] na importação de madeira, soja e ouro até que as regras da lei estejam estabelecidas e os direitos humanos e do ambiente sejam respeitados."

Essa foi a primeira reação do eurodeputado Claude Gruffat, 64, ao saber dos números do último ano de desmatamento da Amazônia, divulgados nesta sexta (12) pelo Deter, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). De agosto de 2021 até julho de 2022, foram derrubados 8.590,33 km² do bioma, a terceira maior taxa do histórico recente da medição.

"Chegaremos um ponto sem retorno se nós, europeus, não colocarmos um fim na importação de bens provenientes do desmatamento. É o único jeito", afirmou o eurodeputado francês à reportagem.

Membro do comitê para assuntos econômicos e da delegação para relações com o Mercosul do Parlamento Europeu, Gruffat esteve por dez dias na floresta no mês passado, em viagem com as também eurodeputadas Michèle Rivasi (francesa) e Anna Cavazzini (alemã).

Foi a primeira visita de Gruffat ao Brasil, que recebeu os novos números "com tanta desolação" como a que viu na Amazônia. "Vi todo o sistema de Bolsonaro: sem fiscalização, só entregando mais e mais poder para o crime. E um desejo de destruir os povos indígenas e a floresta tropical", disse.

"Meu voo sobre a região me fez entender melhor a importância do problema: de 8.000 a 9.000 km² por ano, e isso é um acréscimo. Se os importadores não fizerem nada, esse número não vai cair porque nós vimos, em Santarém [Pará], que há muito trabalho a fazer a respeito da importação de madeira, cuja maioria vem do corte ilegal."

Questionado sobre possíveis sanções internacionais ao Brasil, Gruffat diz que seu papel não é criar penalidades. "Por outro lado, não queremos ser cúmplices desse desmatamento massivo que causa dano ao planeta."

Os eurodeputados verdes Anna Cavazzini, Michèle Rivasi and Claude Gruffat ouvem líder indígena em Cobra Gran em comunidade próxima a Santarém, no Pará, em 18 de julho de 2022 - Reuters

"Num momento em que o problema climático é tão urgente, é apenas coerente não querer contribuir para a redução de uma floresta que é uma das mais importantes redutoras de carbono do planeta."

Mas o que os deputados verdes do Parlamento planejam fazer?

Segundo o político francês, neste segundo semestre de 2022 a parlamentar Rivasi vai trabalhar em regulamentações contra a importação de madeira proveniente de desmatamento e na preservação dos povos indígenas.

"Enquanto isso, eu e Anna Cavazzini vamos aumentar a fiscalização de empresas europeias operando na Amazônia, especialmente das que trabalham com bens primários", conta.

Gruffat diz que trabalhará para fazer as vozes indígenas serem escutadas —dentro do Parlamento e fora dele, com atuação na imprensa, em eventos e nas redes sociais. "Agora que eu vi o problema com meus próprios olhos e falei com as pessoas, sinto que é minha responsabilidade contribuir na luta para melhorar essa situação."

Na visita ao Brasil , Gruffat se disse "chocado" com algumas situações que presenciou. "Vi envenenamento do ambiente pelo uso de pesticidas que estão banidos da Europa há cerca de 20 anos. Eu farei tudo ao meu alcance para acabar com a exportação por empresas europeias de produtos banidos na Europa."

Ele também afirma ter ficado "profundamente entristecido com o envenenamento de crianças indígenas pelo mercúrio usado na extração de ouro ilegal."

Por fim, Gruffat enumerou quatro conclusões a que chegou após a visita: "1) o crime organizado é generalizado; 2) as leis que se aplicam são as de pirataria em alto-mar; 3) povos indígenas e comunidades locais estão sofrendo; 4) países da União Europeia e a China produzem um enorme impacto por meio de suas empresas que fazem negócios com a máfia local".

"No entanto, tenho esperanças: 1) na forma como povos indígenas e comunidades locais estão se organizando e lutando contra o governo e a máfia; 2) na próxima eleição brasileira; 3) e de que a União Europeia tenha forças para acabar com essa tragédia."


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