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'Nada justifica como me trataram', diz motoboy em SP que acusa PM de sufocamento

Por Folha de São Paulo

15/07/2020 17h25 — em
Variedades



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Corregedoria da Polícia Militar de São Paulo abriu investigação para apurar se houve excesso por parte de policiais militares na abordagem de um motoboy que participava de uma manifestação da categoria, na tarde de terça-feira (14), na avenida Rebouças, zona oeste da capital paulista.

A ação policial teve grande repercussão nas redes sociais porque, ao ser imobilizado pelos policiais, o motoboy Jefferson André Lima da Silva, 23, gritava que não conseguia respirar, lembrando o pedido de socorro do norte-americano George Floyd —homem negro morto por um policial branco que asfixiou ele com o joelho em uma abordagem. Silva também é negro.

"Procede, minha habilitação estava vencida. Não nego minha culpa, entendo que o policial precisa fazer o serviço dele, não nego que a placa da minha moto estava tampada. Eu entendo tudo, mas nada justifica a forma como me trataram", disse Silva à reportagem.

De acordo com o registro policial, os agentes decidiram abordar o motoboy porque ele estava com a moto estacionada sobre a calçada e com a placa encoberta por um adesivo. Os policiais teriam solicitado que o homem descesse da motocicleta e colocasse as mãos na cabeça para realizar revista pessoal, mas houve resistência por parte do motoboy.

Os PMs tentaram, então, que ele colocasse as mãos para trás, mas Silva teria continuado. Foi nesse momento que os três caíram no chão. Somente no solo, segundo os policiais, eles conseguiram algemá-lo e, na sequência, levaram-no para o distrito, onde foi constado que a habilitação estava vencida.

O motoboy contou à reportagem que participava da manifestação da categoria contra a precarização das condições de trabalho e ajudava na divulgação do ato nas redes sociais. Publicava nos grupos de WhatsApp os pontos do percurso em que estavam, para conseguir mais adeptos para o movimento que teve início na sede do SindimotoSP, na rua Doutor Eurico Rangel, no Brooklin Novo, e seguiria até o TRT (Tribunal Regional do Trabalho), na rua da Consolação.

Segundo Silva, no trajeto, houve três princípios de tumulto com os policiais militares porque eles estavam anotando as placas dos participantes do protesto —ele alega não ter sido o único a encobrir a placa, por medo de represália.

Na rua da Consolação, ao parar para enviar essas imagens de divulgação, foi abordado pelos PMs. Silva disse ter aceitado a abordagem, mas pedido para avisar os colegas que, por conta disso, não iria acompanhá-los no restante do percurso.

"Aí, ele [O PM] falou: 'Não vai mandar porra nenhuma'. Aí, começou a truculência comigo. Quiseram tomar meu celular à força, não precisa disso. Era só ele me pedir. Não tenho qualquer problema com a Justiça. Nunca tive. Não precisava daquilo. Ele não me deu oportunidade para fazer o que ele estava pedindo para fazer", disse.

O motoboy afirma ter pedido calma ao PM, sem sucesso. "Comecei a ir para frente, não sei se ele pensou que estava fugindo dele, não sei, ele me grudou, com um 'mata leão' por trás, e começou a me puxar. Fiquei em pânico, assustado, foi quando comecei a gritar, pedir por ajuda, pedir por socorro, pelo amor de Deus, para alguém me ajudar" disse.

Silva continua. "Comecei a pedir por ajuda, a outra policial começou me agredir. Não tinha motivo para aquilo. Eles queriam me jogar no chão e eu não queria que me jogassem ao chão, porque não sabia o que poderia acontecer comigo. Essa foi minha resistência. Não queria deixar eles me derrubarem", afirma ele.

O motoboy diz que o reforço solicitado pelos PMs começou a chegar ao local e, ao todo, seis policiais teriam participado de sua imobilização. "Ficaram três policiais em cima das minhas costas, o outro ficou apertando meu pescoço. Aí, eu estava falando baixinho, porque não conseguia mais gritar, e pedia: 'Para, por favor, eu não estou conseguindo mais respirar'. Ele não me soltava, ele não me soltava, aí, chegou uma hora em que meio que perdi a consciência. Foi só então que ele me soltou."

O motoboy afirma que seus gritos não foram inspirados por Floyd, história da qual só foi se inteirar melhor após as pessoas passarem a fazer comparação. "Não acompanho muito televisão. E, tipo, essa era uma coisa que estava sentindo na hora, eu não estava conseguindo raciocinar."

Silva afirma, ainda, que, ao chegar ao distrito policial, a policial feminina quis tirar uma foto dele no compartimento de preso. "Queria tirar uma foto, pousando do meu lado, me tratando como troféu, mano. Pô, pelo amor de Deus, eu sou uma pessoa."

Ele também acusa a PM de ter usado spray de pimenta e uma máquina e choque contra ele, além de fazer ameaças. "Eu achei que iriam me matar ali, foi o pior de todos, porque estava completamente sozinho, não tinha ninguém para ajudar. Eu temi de verdade pela minha vida", disse.

A Polícia Civil registou um boletim de ocorrência de resistência, e a PM aplicou multas na moto e apreendeu o veículo.

Segundo a Secretaria da Segurança Pública, todas as informações repassadas por Silva serão apuradas pela Corregedoria da PM.

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