Moradores reclamam de derrubada de bosque com 100 árvores para dar lugar a prédio em Perdizes
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Moradores de Perdizes reclamam da derrubada de um bosque denso, com quase 100 árvores, para a construção de um condomínio residencial de alto padrão. A remoção das árvores começou na quinta-feira (16) e parte do terreno de 2.200 m² já estava desmatado nesta sexta (17).
O bosque ocupa quase toda a extensão da rua Sebastião Cortes, que tem só um quarteirão, em formato de U, saindo e chegando à rua Campevas. A derrubada das árvores acontece uma semana após Termo de Compromisso Ambiental (TCA) firmado com a Prefeitura de São Paulo e logo após expedição de Alvará de Execução de Edificação Nova, segunda (13).
Procurada, a construtora responsável, a Namour, não respondeu às tentativas de contato da reportagem desde sexta. O empreendimento é vendido como "um projeto que conecta você à natureza", servindo de respiro em meio à cidade. A prefeitura disse que o empreendimento terá que plantar 90 mudas de espécies nativas e doar outras 349.
"Vão tirar essas árvores e, na hora de plantar outras, vão plantar árvores muito menores, em outro bairro, e a gente fica sem o verde. É um compromisso ridículo", diz a moradora Diana Estay, uma das líderes do movimento que tenta impedir a derrubada.
O bosque faz divisa com seis prédios antigos da rua Iperoig, construídos em uma encosta, com recuo mínimo em relação ao terreno alvo de disputa e unidades no subsolo. Em diversos apartamentos, a única entrada de luz é pelas janelas que têm vista para a avenida Sumaré e serão bloqueadas pelo novo prédio.
O terreno também serve de passagem para os encanamentos de água e esgoto desses prédios. Por causa disso e pela característica do terreno íngreme, estreito e com face em U para a rua os vizinhos não viam risco de o bosque ser derrubado para construção de qualquer empreendimento.
Acabaram surpreendidos, contudo, com as primeiras sondagens no terreno, no fim de 2023. Só então descobriram que um projeto já tramitava há 15 anos na prefeitura.
Temendo que a obra do novo prédio que terá três subsolos afete a estrutura dos edifícios mais antigos, os moradores apresentaram denúncia à Promotoria de Justiça de Habitação e Urbanismo do Ministério Público de São Paulo (MP-SP), que solicitou vistoria da prefeitura e verificou que um estande de vendas instalado ali funcionava conforme o alvará. Em seguida, arquivou o caso.
Enquanto isso, há exatamente um ano, um relatório técnico da prefeitura observou que a vegetação do local não se encaixa em nenhum tipo de proteção especial não é considerada vegetação significativa, nem nativa secundária de Mata Atlântica em estágio inicial de regeneração, por exemplo.
O laudo do engenheiro florestal Luiz Gustavo Balbino aponta que "a vegetação no local insere-se no conceito de árvores isoladas" e que "o local não está localizado em Área de Proteção aos Mananciais APRM".
A Amora, associação dos moradores das Perdizes, suspeita do contrário. Que ali existe uma nascente, que nunca teria sido catalogada, mas que teria aparecido durante as primeiras perfurações para a construção do novo condomínio, quando jorrou água do solo.
"Pelas árvores presentes, pelo desenho da topografia, pela passagem do córrego Sumaré, ali pode ser uma área de nascente, mas o coletivo não conseguiu entrar no MP a tempo, antes da derrubada. Foi feita denúncia na Cetesb, na Polícia Ambiental, mas não fizemos um projeto para apontar outra alternativa para o terreno" explica Antonio Castelo Branco, presidente da Amora. A prefeitura nega essa possibilidade, citando informações da plataforma Geosampa.
O laudo da prefeitura, juntado ao alvará de remanejamento arbóreo aponta que o terreno tem quatro árvores nativas que receberam aval para serem cortadas: uma pitangueira, um ipê-roxo na calçada, um capixingui de porte médio, e uma aroeira-pimenteira. As árvores grandes são, especialmente, ligustros, alguns de mais de 10 metros de altura.
Como medida compensatória ambiental, a prefeitura estabeleceu o plantio de 90 mudas de espécies nativas do estado de São Paulo na área interna do empreendimento e, adicionalmente, está prevista a compensação de outras 349 mudas de espécies nativas.
De acordo com o líder da Amora, o bairro tem passado por forte verticalização enquanto recebe as obras da futura linha 6-laranja do Metrô, que terá três estações em Perdizes, uma delas na avenida Sumaré, próxima ao bosque que está sendo derrubado.
"A gente tem perdido várias árvores, seja nas ruas, seja nos quintais das casas, que têm dado lugar a torres altas", diz Castelo Branco. A associação também é contra a proposta da prefeitura de construir dois piscinões sob duas praças, que seriam derrubadas durante as obras. Uma delas, a Irmãos Karmann, que fica a cerca de 200 m da rua Sebastião Cortes.
O novo condomínio, de alto padrão, terá três torres, com apartamentos de até 247 m², em unidades de três a quatro quartos e de duas a três vagas na garagem.

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